As redes sociais como ferramentas didáticas virtuais de interação e ensino

Arlindo Fernando Paiva de Carvalho Junior

Professor pesquisador (Instituto Benjamin Constant); professor do curso de Licenciatura em Pedagogia da (UniRio/Cederj/UAB)

As tecnologias da informação e comunicação e a internet são realidades no cotidiano de um grande número de brasileiros. O mundo virtual e as tecnologias que propiciam a navegação no ciberespaço promovem um novo estilo de vida e interação que já fazem parte da cultura das gerações mais recentes e conquista a cada momento um novo usuário.

As redes sociais (RS) para os adultos de hoje, recém-saídos da adolescência, são como a televisão e o rádio para adultos formados em outras épocas. Podemos entendê-las como sendo a evolução da comunicação de uma sociedade capitalista, em que os cidadãos não têm tempo de se encontrar e interagir fisicamente. E por que não utilizar tais ferramentas de comunicação para fins didáticos, se a grande maioria de alunos já possui cadastros nas redes sociais e são ambientados nas tais ferramentas que vieram para ficar e modificar nossos hábitos e cultura?

Segundo Gonzalez (2005, p. 80), “um caminho e uma alternativa encontrados pelo tutor em EAD para consecução de sua missão educativa é a sedução pedagógica”. E por que não seduzir os alunos com uma ferramenta que já faz parte de seu cotidiano e é bem aceita pelos mesmos?

O mundo evoluiu e todas as suas dimensões acompanham a evolução. Cabe a nós professores entender as novas perspectivas e as mudanças ocorridas para sabermos lidar com o “novo”, caminhando junto à modernização do mundo e suas dimensões, buscando aprender, manusear as novas ferramentas e tecnologias, socializar-nos e dominar tais ferramentas de comunicação levando as mudanças e novidades tecnológicas do mundo para a área educacional, inserindo e orientando os alunos na utilização de tais ferramentas e utilizando-as a favor do ensino. Gonzalez (2005) afirma que o profissional que realiza a mediação pedagógica tem, “dentre outras qualidades, facilidade de comunicação, dinamismo, criatividade, liderança e iniciativa para realizar com eficácia o trabalho de facilitador junto ao grupo de alunos sob sua tutoria” (GONZALEZ, 2005, p. 81).

As redes sociais são ambientes virtuais que possibilitam trocas e interações entre pessoas. Possibilitam as relações sociais virtuais entre quaisquer pessoas conectadas à rede. Podem ser utilizadas para diferentes fins, como o lazer a e educação formal. Podemos pensá-las como clubes virtuais, onde jovens e adultos se encontram virtualmente para construir diferentes tipos de relações sociais. Nesse sentido, vejamos possibilidades de utilização das RS como apoio e complemento ao ensino.

O Facebook a favor do ensino

O Facebook é uma RS que promove grande número de relacionamentos virtuais. Possui funções que podem auxiliar bastante o ensino. O professor pode criar um grupo de estudo sobre sua disciplina na rede social e convidar os alunos e os demais membros da equipe pedagógica para participar, tirando dúvidas e aprofundando as discussões a respeito dos temas abordados. É interessante ressaltar que todas as ações pedagógicas devem ser planejadas e discutidas em conjunto com os membros que participam do processo de ensino-aprendizagem. Logo, faz-se necessária a conscientização e discussão com os alunos e a comunidade escolar sobre o uso das redes virtuais como complementação do ensino.

Algumas RS podem exigir maioridade ou limitar a faixa etária do usuário. O Facebook, em sua declaração de direitos e responsabilidades, entre as várias orientações, solicita que o usuário ao se cadastrar não forneça qualquer informação pessoal falsa e diz que se o usuário for menor de 13 anos não deve usar o Facebook. Apesar de a legislação brasileira não abordar a entrada e cadastro de menores de idade nas RS, como já existe em outros países, é interessante que nós, professores, tenhamos o cuidado de respeitar as normas dos AVAs. Para isso, é importante que o professor conheça não só como manusear as ferramentas do AVA escolhido, mas que tenha plenos conhecimentos sobre sua política de uso. O professor deve escolher o ambiente virtual adequado à sua turma. O próprio Facebook, citado como exemplo, apresenta dicas aos professores e incentiva o seu uso como auxílio pedagógico. Segundo Mattar (2012), em 2011 o Facebook lançou várias orientações e recursos para educadores, com o Facebook for Educator. Como é citado por Phillips, Baird e Fogg (2011, apud Mattar, 2012, p. 93), “É possível baixar o guia Facebook for Educators”.

Dentro das possibilidades de redes sociais como o Facebook, por exemplo, o professor pode:

  • postar fotos, textos e reportagens de determinado tema desenvolvido em aula, como a realidade profissional de algumas modalidades esportivas visando sempre ao debate e aprofundamento do estudo;
  • Convidar pessoas (alunos, professores, profissionais renomados) de fora da instituição para participar do debate e estudo, promovendo intercâmbio entre os estudantes e enriquecendo a aprendizagem;
  • Utilizar o perfil de cada aluno para conhecer sua realidade, sua história de vida, o que daria ao professor subsídios para promover uma aprendizagem significativa;
  • Organizar os fóruns (tópicos) do grupo criado, facilitando a interação, promovendo debates e discussões que enriquecem a formação do aluno e desenvolvendo todas as dimensões do conteúdo/conhecimento com os alunos;
  • Eleger alunos representantes de turma que poderiam ser moderadores do grupo, ajudando na eliminação de dúvidas, aprofundamento do estudo, debates, reflexões etc.;
  • Divulgar eventos esportivos e culturais, dicas e orientações de estudo, de atividades físicas e de atividades de lazer.

Cabe salientar que a RS é um ambiente de aprendizagem virtual (AVA) informal. Muitas instituições que desenvolvem cursos na modalidade Educação a Distância possuem AVAs formais, com plataformas virtuais abertas apenas para alunos e professores da instituição. A RS é um AVA informal de livre acesso, que pode ser utilizado para o aprendizado formal. No AVA o professor pode trabalhar com grupos de discussão e chats, ferramentas que considero indispensáveis na interação e aprendizagem virtual. Nesse caso, o professor pode utilizar as RS para promover tais fóruns auxiliando os alunos no processo de aprendizagem.

A interação nas RS conta com ferramentas de comunicação síncrona (que ocorre em tempo real, quando, por exemplo, pessoas conversam por bate-papo, chat ou videoconferência) e assíncrona (que ocorre com espaço de tempo, quando alunos postam mensagens em um fórum de discussão no decorrer de uma semana, como nos grupos de discussão).

Seja qual for o campo de atuação do professor, ele sempre poderá enriquecer sua prática com ferramentas de interação como as RS e muitas outras, que não se esgotam no exemplo dado. Para isso é necessário que o professor tenha formação para tal e condições de trabalho que viabilizem a implementação de propostas virtuais. O professor deve ter atitudes positivas, enxergando as possibilidades que as TIC propiciam, como alternativas de extensão do horário de aula e de estudos, em que os alunos continuam conectados, debatendo os temas abordados e aprofundando os estudos mesmo em seu tempo livre. Disciplinas escolares como Educação Física, Artes e Inglês, nas quais em muitos casos os professores dispõem de apenas dois tempos de aula semanais para construção do conhecimento e desenvolvimento da disciplina com os alunos, podem ser estendidas virtualmente dando mais tempo ao professor e aos alunos para dialogarem, se conhecerem, criarem laços afetivos que possibilitem uma aprendizagem mais significativa, contribuindo para maior qualidade no desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem.

São várias as possibilidades de enriquecer o ensino por meio das redes sociais, porém, como diz Belloni (2009, p. 60), “a eficácia do uso destas TIC vai depender, portanto, muito mais da concepção de cursos e estratégias do que das características e potencialidades técnicas dessas ferramentas”. Portanto, cabe ao professor fazer bom uso das mesmas, utilizando-as como possibilidades didáticas, enriquecendo sua prática docente.

Referências

GONZALEZ, Mathias. Fundamentos da tutoria em Educação a Distância. São Paulo: Avercamp, 2005.

BELLONI, Maria Luiza. Educação a Distância. São Paulo: Autores Associados, 2009.

MATTAR, João. Tutoria e interação em Educação a Distância. São Paulo: Cengage Learning, 2012.

Publicado em 18 de novembro de 2014

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