Atividades psicomotoras e de integração social em locais de risco e vulnerabilidade social

Marcelo Bittencourt Jardim

Especialista em Psicomotricidade (IBMR), em Educação Pública (Cecierj), em Saúde Coletiva (SUS–UFRJ), licenciado em Educação Física (Unipli), pesquisador e membro do Comitê Editorial Internacional da Revista Odep (Chile)

Buscamos em artigos científicos fundamentações para as atividades ministradas pelo educador físico e pela sua proposta de trabalho com crianças ainda em desenvolvimento motor que residem em favelas. Conciliando e relacionando as atividades de Psicomotricidade, o toque e a relaxação em sua aula, importantes para as crianças praticarem uma atividade física, fundamental para seu desenvolvimento psicomotor, pessoal e para seu desenvolvimento escolar. Qualquer distúrbio na formação do esquema corporal trará uma percepção deformada.

A inatividade motora das crianças atualmente é cada vez maior levando a um analfabetismo motor. As atividades de movimento levam o educando a entender a sua movimentação; quanto maior a variedade de propostas, maior é o interesse dessa criança (Jardim, 2012).

Segundo Fonseca (2001), os elementos que compõem o conhecimento do corpo desenvolvido na organização motora de base são: imagem corporal (sentimento que a criança tem do seu corpo), conhecimento do corpo (conhecimento intelectual que a criança ou o indivíduo tem do seu corpo e de cada função) e esquema corporal (união das relações anteriores com os dados do mundo exterior).

As atividades psicomotoras devem desenvolver o corpo todo, as práticas psicomotoras podem desenvolver-se em contextos de ação diferenciados, em função da origem, história e caracterização do sujeito, nas suas dificuldades e possibilidades, e do contexto de intervenção. Segundo Piaget (1936), “a criança pensa, aprende, cria e enfrenta problemas mediante a atividade corporal”.

 A Psicomotricidade oportuniza ao educando crescimento e grande significação no desenvolvimento global e múltiplas experiências que a criança tem através do seu corpo (Jardim, 2012).

Segundo Le Boulch (2001), a Psicomotricidade se dá através de ações educativas de movimento espontâneo e atitudes corporais da criança, proporcionando-lhe uma imagem do corpo e contribuindo para a formação de sua personalidade.

Para Alves (2009), a Psicomotricidade é toda ação realizada pelo indivíduo consigo mesmo e com o outro. Existe um simbolismo com a intervenção e a mediação dos gestos, a importância do diálogo tônico, das habilidades motoras, das posturas por meio dos movimentos, a comunicação mediante a fala por meio das palavras que ajudam e são capazes de modificar toda uma conduta.

Segundo a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (2007), a Psicomotricidade é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, conforme as experiências vividas pelo sujeito; sua ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização.

Sendo assim, desenvolvo no meu trabalho atividades voltadas para os conhecimentos básicos da Psicomotricidade e da Psicomotricidade em relação ao corpo em movimento e ao mundo interno e externo; procuro colocar em prática atividades coletivas de iniciação esportiva, como futebol, basquetebol e voleibol, e atividades individuais, como atletismo, jogos, damas e xadrez (Jardim, 2012).

Desenvolvo atividades com estafetas e circuitos com ministrações de aulas lúdicas e centradas no desenvolvimento motor da criança, com aspectos como: lateralidade, percepção de tempo e espaço, ritmo, equilíbrio, percepção óculo-pedal, percepção visual, atenção, concentração e os estágios da aprendizagem motora como o cognitivo e associativo (o autônomo não entra nessa fase, pela idade das crianças), suas valências físicas e a socialização entre os alunos e o professor (Jardim, 2012).

Atividade recreativa fundamentada na Psicomotricidade

Nome: Circuito maluco (Conceição, 1995)

  •  Faixa etária: crianças entre 9 e 15 anos
  • Objetivo: Desenvolver sua coordenação motora, suas valências físicas, seu desenvolvimento psicomotor e a aprendizagem motora
  •  I Estação: Ritmo. (È a forma de se deslocar no espaço obedecendo a uma determinada sequência de movimentos) – Elevar os joelhos unilateralmente passando pelos cones (que estão deitados no chão).
  •  II Estação: Equilíbrio. (caracteriza-se como a forma de permanecer estático ou em movimento sobre uma ou mais bases do corpo) – caminhar em cima de uma corda (a corda em forma da letra S).
  •  III Estação: Agilidade (Está relacionada aos exercícios em que o aluno desenvolva a velocidade de deslocamento na execução dos exercícios) – Correr passando pelo primeiro cone de frente e depois voltar de costas, continuando assim progressivamente e fazendo assim até o final (aí com o cone em pé).
  •  IV Estação: Lateralidade. (Está relacionado a desenvolver as partes laterais do corpo, as partes da frente e de trás do corpo, dando ênfase aos lados direito e esquerdo) – Pular com o pé esquerdo no arco amarelo (2 arcos) e depois pular com o pé direito no arco vermelho (2 arcos). Os arcos devem ficar um pouco afastados um do outro.
  •  V Estação: Percepção óculo-pedal. A criança fica dentro do arco vermelho e joga a bola com a mão dentro do outro arco (o azul, que deve estar pendurado no alto); só vale ponto se acertar no centro do arco azul com a bola.
  •  VI Estação: Percepção de tempo. Está relacionada ao tempo que dura determinado exercício ou movimento. O professor solicita que a criança fique em pé de um lado da quadra (que é o começo); ele lançará uma bola rolando até o final da quadra e solicita que a criança corra e tente chegar primeiro que a bola, chegando primeiro a criança ganha o ponto.
  •  VII Estação: Percepção de espaço. Está relacionada ao espaço que os movimentos do corpo podem percorrer e ocupar. É o deslocamento do corpo respeitando os espaços naturais. O professor coloca espalhados na quadra vários obstáculos (cones, cordas, bolas) e solicita que a criança corra sem esbarrar nos obstáculos e nos amigos.

Atividade de socialização

É desenvolver a relação de amizade e conhecimento do grupo, com o grupo e do grupo com o professor. O professor solicita que a turma faça um círculo e escolhe um aluno que deverá falar o nome dos alunos um por um na ordem do círculo até que chegue o seu nome; o professor solicitará que cada criança faça à sua vez; a criança que foi escolhida pelo professor irá falar o nome do amigo e irá tocá-lo. O aluno que falar o nome tocará o amigo em seu braço (Conceição, 1995).

O toque é uma consciência progressiva; poderíamos chamar de envelope do corpo ou de fronteira, o tocar em um objeto é um exemplo de percepção por intermédio do toque da mobilização das articulações, do toque das partes corporais, como o ombro, possibilitando a percepção dos segmentos e suas conexões e continuidade, como o cotovelo e punho, nomear as partes corporais e mobilizar sempre as articulações deixando sempre as mãos completas sem deixar “oco” – partes sobrando (Lacerda, 1995).

Exemplos: o membro superior, o braço (ombro, cotovelo e o punho), as articulações mapeando e nomeando as partes corporais, autenticar e qualificar a representação da sensação e nomeação durante a manipulação (Lacerda, 1995).

Por isso podemos citar que o toque é a comunicação com o ser, ajuda o desenvolvimento da criança (do sujeito em conhecer o seu próprio corpo e o corpo do outro). Exemplo de atividade: atividade de dinâmica lúdica sobre toque para conhecer as partes corporais dos alunos; essa atividade foi desenvolvida em dupla, o aluno número dois tocava nas partes corporais do aluno número um e nomeava. Tocava no nariz e dizia nariz; o aluno número um sentia o toque e imaginava o nariz. Outra atividade foi tocar na orelha do aluno, manipulando com leveza e deixando o outro aluno relaxado e imaginando as formas de suas orelhas (Lacerda, 1995).

Outra atividade que fizemos foi manipulação dos membros superiores e inferiores, primeiro com as mãos, sem deixar nada sobrando nas articulações, e depois com as esponjas nas partes corporais; um aluno ficava em decúbito dorsal e o outro fazia a manipulação corporal nas articulações propostas (Lacerda, 1995).

Desenvolvemos uma atividade de toque nas partes corporais das crianças nas aulas de Educação Física em que atuo, conciliando o toque de seus membros superiores e inferiores com a prática da atividade física.

Exemplo de atividade: o professor solicita que a criança corra até o final da quadra com as mãos nas partes corporais que ele está propondo na hora; chegando ao final da quadra, ao seu comando, a criança voltará com as mãos em outras partes corporais citadas pelo professor. Exemplo da atividade: o aluno inicia a corrida com as mãos nos joelhos; chegando ao final da quadra, ao comando do professor, ele vai voltar (para o começo da quadra) correndo com as mãos nas orelhas.

Segundo Damásio (2000), independentemente das vivências socioculturais, todos temos emoções e partilhamos; estamos atentos às emoções dos outros, a consciência do sentir e perceber o corpo é indispensável para a construção securizante do seu funcionamento e para a identidade pessoal.

Atividade de relaxamento

Levamos essa prática de relaxação ao meu trabalho e ministrei essa aula depois de várias atividades de atletismo muito bruscas, exaustivas e intensas; pude ver nas crianças durante a prática de relaxação a sua promoção ao estado de relaxamento.

A aula de relaxação foi ministrada desta forma: coloquei, depois da aula, quatro tatames no chão; ao comando do professor, eles deitaram em decúbito dorsal, pedi que ficassem de olhos fechados e escutassem o barulho do vento nas árvores e dos pássaros (isso foi no lugar da música) e pedi que eles movimentassem os dedos dos pés (primeiro) e depois os das mãos, bem devagar, lentamente as outras partes do corpo, como a cabeça, os braços e as pernas, e pude observar o aspecto cognitivo nas relações espaciais entre os diversos seguimentos do corpo dos alunos na hora que solicitava que eles movimentassem os dedos das mãos com os dedos dos pés; muitos não conseguiram movimentar juntos os dedos dos pés e os das mãos.

No final contei uma história para eles imaginarem como seria estar nesse lugar, citando que estávamos indo a uma praia linda de águas cristalinas, águas mornas e com vários peixes bonitos e coloridos, areia branca, muito verde com montanhas em volta da praia, muitos pássaros, e uma brisa refrescante levemente vindo ao encontro de nossos rostos e um sol muito agradável, muitos alunos relaxaram durante a aula, foi imensamente gratificante.

Considerações finais

Este trabalho é de suma importância porque nele mostramos a atividade física destacando o elemento psicomotor que foi desenvolvido na criança pelo movimento da ação de múltiplas experiências vivenciadas nas aulas práticas ministradas de Educação Física, explorando os elementos psicomotores dos discentes. As aulas ministradas tiveram o seu objetivo específico: a Psicomotricidade, o toque, a socialização e a relaxação, durante as atividades. A aula foi bem aceita pelos alunos, e foi alcançado o objetivo com sucesso.

Bibliografia

Alves, Fátima (Org.). Como aplicar a Psicomotricidade: uma atividade multidisciplinar com amor e união. Rio de Janeiro: Wak, 2009.

Conceição, R. B. Ginástica escolar. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

Damásio, A. Sentimento de si. Lisboa, 2000.

Fonseca, V.; Martins, R. Progressos em Psicomotricidade. Lisboa: Edições FMH, 2001.

Janete, M. Psicomotricidade e relaxação em psiquiatria.

Jardim, Marcelo B. O afeto como instrumento primordial na atuação do educador físico com crianças e jovens de comunidades carentes. Rio de Janeiro: IBMR - Laureate International Universities, Pós-Graduação Psicomotricidade (Educação e Clínica), 2012.

Lacerda, Y. (1995). Atividades corporais, o alternativo e o suave na Educação Física. Rio de Janeiro: Sprint, 1995.

Le Boulch, Jean. Educação psicomotora: a psicocinética na idade pré-escolar. Porto Alegre: Artmed, 2001.

Sites pesquisados

http://www.portaleducacao.com.br. Acesso em 05 jul. 2015.

http://www.guiainfantil.com.br. Acesso em 30 jul. 2015.

http://www.psicomotricidade.com.br. Acesso em 24 mar. 2015.

Publicado em 22 de novembro de 2016

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