"Ainda bem que você postou, me deu mais segurança"

Gisele Pereira de Oliveira Xavier

SEMED/Japeri

Introdução

O objetivo deste artigo é elencar reflexões sobre formação continuada de docentes a partir de interações discursivas em um fórum de discussão. Os dados que embasaram a pesquisa são oriundos de um fórum de formação continuada em matemática para os professores da rede estadual de educação do RJ que atuavam na EJA, no período do 1º semestre de 2014. A análise revela o fórum como um espaço com grande potencial para a formação continuada. Levando os participantes a repensarem suas práticas, sanarem lacunas de suas formações e aprimorarem suas práticas pedagógicas.

O presente artigo traz um recorte da dissertação de mestrado (Xavier, 2016), cuja temática era analisar as interações docentes em Matemática em um fórum de discussão. Este trabalho visa especialmente listar reflexões sobre formação continuada de docentes a partir de interações discursivas compartilhadas no fórum de discussão.

A formação que motivou a pesquisa é o Programa de Formação Continuada para EJA Matemática (Ensino Médio), um programa da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (Seeduc/RJ) em parceria com a Fundação Centro de Ciências e Educação a Distância do Estado do Rio de Janeiro (Cecierj).

O curso tinha como visão melhorar a qualidade do ensino de EJA e o desenvolvimento dos profissionais da rede que atuavam na modalidade. Somente quem lecionava na EJA poderia participar do curso. Vale destacar que o curso era concomitante com o que era desenvolvido em sala de aula e tinha uma dinâmica semipresencial: a distância eram desenvolvidas discussões a partir de uma questão norteadora no fórum que sempre tratava dos objetivos que englobavam a unidade e almejava desenvolver questões conceituais, didáticas e práticas referentes à disciplina. No ambiente virtual, eles também compartilhavam seus planos de aulas, chamados de plano de ação, e posteriormente faziam uma avaliação desse plano. Presencialmente, os participantes (cursistas) se encontravam e discutiam os conteúdos programáticos da unidade vindoura.

Bairral (2007, p. 80) define o fórum de discussão como “espaço de socialização de contínuas práticas”, em que os participantes podem utilizar informações que estão no próprio contexto do ambiente virtual ou fora dele, e assim integram e utilizam diferentes informações. É importante comentar que a interação não é em tempo real; é assíncrona, cada um pode interagir a seu tempo, desde que respeite o tempo de duração do fórum.

Em um curso de formação continuada por ambientes virtuais de aprendizagem, o participante tem a possibilidade de interagir e compartilhar saberes e práticas com os demais envolvidos, tomando como base que “a prática integra diferentes relações. Pode-se definir o saber docente como um saber plural, formado (...) de saberes oriundos da formação profissional e de saberes disciplinares, curriculares e experiências” (Tardif, 2002, p. 36). Mas, para pautar a formação na prática, é necessário, segundo Candau, considerar que

a escola como locus de formação continuada passa a ser uma afirmação fundamental na busca de superar o modelo clássico de formação continuada e construir uma nova perspectiva na área de formação continuada de professores (Candau, 1996, p. 144).

A partir do que foi exposto, é possível notar que em um curso de formação continuada se torna crucial possibilitar um processo de (re)construção de concepções e ideias entre os envolvidos, de forma que as experiências e práticas, assim como o contexto de sala de aula, sejam levados em consideração e trabalhados durante a formação. Dessa forma, Pimenta (2005, p. 19) destaca que a valorização da prática profissional deve ser percebida “como momento de construção de conhecimento, através da reflexão, análise e problematização desta, e do reconhecimento do conhecimento tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram em ato”.

Quadro teórico

Com objetivo de verificar o que tem sido produzido sobre essa temática buscou-se, por meio do banco da Capes (apareceram resultados do período de 2010 a 2012), Scielo, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD) e encontros da Anped (do 33º ao 37º – GTs de Educação Matemática, Educação de Pessoas Jovens e Adultas e Formação de Professores).

Como palavras-chave utilizaram-se: formação continuada, matemática e ambientes virtuais. Os trabalhos que fugiam do objetivo foram excluídos e chegou-se às seguintes produções: Miskulin (2009), Campelo (2011), Oliveira (2012) e Medeiros (2012).

A partir das análises de sua pesquisa, Miskulin (2009) considera a prática docente também como um processo interativo; por meio do trabalho em conjunto e da interação dos envolvidos, estes negociam e estruturam uns com os outros novos significados. Com isso, o compartilhamento de experiências, práticas, histórias de vidas ajudam os sujeitos a (re)significar suas práticas docentes.

Campelo (2011) corrobora com a ideia em sua pesquisa, pois verificou que as trajetórias durante a formação continuada foram sendo (re)constituídas, havendo momentos até mesmo para sanar lacunas que alguns professores tiveram ao longo de sua formação. A pesquisa também verificou que é possível ampliar e aprofundar o saber profissional, pesquisa que Oliveira (2012) complementa destacando que ideias e até mesmo posicionamentos podem ser modificados a partir das interações.

Sendo assim, o fórum se torna um ambiente marcado pela colaboração, como visto por Medeiros (2012), que pode contribuir muito para que o aprendizado e até mesmo as práticas pedagógicas sejam aperfeiçoadas. À medida que o professor reflete sobre o ensino, reconhece a necessidade de tentar entender melhor seu aluno e conhecer suas dificuldades (Campelo, 2011, p. 96). Por meio das reflexões compartilhadas no fórum, o autor observou que os participantes apresentaram diferentes pontos de vista, o que contribuiu para a criação de um ambiente de aprendizagem coletiva.

Além de reflexão, compartilhamento de ideias e experiências no espaço dos fóruns, os participantes têm liberdade para inserir novas dúvidas à discussão, assim como alternativas de estudo e abordagens do que está sendo discutido (Medeiros, 2012).

Diante do exposto, é possível perceber que, embora os trabalhos tenham focado a formação continuada de professores de Matemática em ambientes virtuais e utilizado como estratégia de análise os registros dos fóruns temáticos (Campelo, 2011; Medeiros, 2012), nenhuma das pesquisas teve como foco a análise das interações nesses cenários.

Metodologia

A teoria histórico-cultural de Vigotski é que deu embasamento a esta pesquisa, pois, pelo estabelecimento da interação, os sujeitos participam, se envolvem e refletem entre si (Morais et al., 2007). Sendo, assim o conhecimento está na interação que pares estabelecem entre si, e não somente no objeto ou sujeito (Mello, 2013).

As interações desempenham papel crucial no desenvolvimento e formação do indivíduo e do meio. Para Vigotski, o homem se constitui a partir das relações que estabelece com o meio; ao mesmo tempo, é um agregado de relações que permeiam sua trajetória como sujeito, sua trajetória de vida e cultural (Vigotski apud Smolka, 2000).

Visando extrair elementos reflexivos pertinentes à formação continuada dos participantes, foram seguidos os seguintes passos: para escolha do fórum foi verificado aquele que tinha mais participações dos envolvidos; para isso, foi catalogada a participação das postagens e subtraída a participação dos tutores; com isso chegou-se ao Fórum Temático 3, que tratava da afim.

Como existiam sete grupos de discussão, optou-se por analisar dois grupos, de modo que fosse possível perceber se os mesmos elementos poderiam ser encontrados em outro grupo que participava da formação. Sendo assim, foi adotado o mesmo procedimento que se utilizou para a escolha do fórum e chegou-se ao Grupo 4 e ao Grupo 7.

Como o objetivo foi buscar elementos reflexivos sobre a formação continuada, a autora utilizou como base as categorias emergentes de Esquincalha (2014), adaptando aos elementos que mais aparecem no decorrer do fórum. Com isso, as categorias emergentes ficaram discriminadas da seguinte maneira:

  • EJA: 1. Clareza quanto ao propósito da EJA/Concepções dos professores; 2. Percepção da formação específica para EJA; 3. Dando voz ao conhecimento; 4. Atenção à avaliação do aprendizado na EJA.
  • Indícios de aprendizado do professor cursista: 1. Anseios, insegurança; 2. Parte tecnológica (fórum, software...).
  • Material didático: 1. Algo significativo/novo; 2. Inspiração em atividades dos módulos.
  • Sugestões: 1. Para o Programa EJA; 2. Entre os cursistas/Trocas.

Para análise, foram consideradas apenas as mensagens dos cursistas. O quadro de análise foi sendo estruturado a partir da extração de vestígios argumentativos das interações dos docentes e relacionados às categorias emergentes às quais fazem referência. Para isso, as mensagens dos cursistas de ambos os fóruns foram sendo analisadas pela autora uma a uma. Para que o quadro não ficasse muito grande, optou-se pelo recorte de até duas mensagens por categoria.

Análise e discussão: então, a formação continuada surtiu efeito?

Na linguagem escrita nós mesmos somos forçados a criar a situação, ou melhor, a representá-la no pensamento (Vigotski, 2001, p. 339).

Visando verificar elementos sobre a formação continuada, a utilização dos materiais e encontros presenciais, foram levantadas questões como: que contribuições o curso tem possibilitado para a formação do professor de Matemática que leciona na EJA? Que discussões e vivências são compartilhados no fórum? Os materiais têm ajudado na prática pedagógica? Mas, e aí, a formação tem contribuído para esses professores?

Visando buscar respostas para essas questões, foi realizada uma análise com base nos grupos e fórum, a fim de buscar elementos que pudessem responder ou não essas indagações.

No Quadro 1 estão os resultados das análises a partir de alguns recortes que retratam as observações dos cursistas referentes a formação.

Quadro 1: Categorias emergentes na análise

Categorias emergentes

Grupo 4

Grupo 7

EJA

Clareza quanto ao propósito da EJA/Concepções dos professores “Uma vez que nossos alunos de EJA já trazem consigo uma bagagem de vida”. – 31/03/14 – 21:42.

“Para nosso público, tudo que é concreto é de fácil compreensão”. - 31/03/14 – 22:11.

“Conversando com meus alunos sobre as unidades 12 e 13, percebi que a maioria trabalha ganhando comissão”. 01/04/14 – 22:23.
Percepção da formação específica para EJA “Ao ler o material do professor, optei por uma atividade que vem de encontro com a maioria da minha turma...”. 30/03/14 – 16:06. “O uso do livro especifico para jovens e adultos era uma reivindicação dos professores de Matemática”. 02/04/15 – 06:36.

“Uma das vantagens desse curso é poder contar com as experiências de outros colegas”. 01/04/15 – 09:12.

Dando voz ao conhecimento do aluno “Uma parte considerável dos alunos trabalha com vendas, sendo assim, teu exemplo vem de encontro com o cotidiano deles”. 06/04/14 – 14:09. “A ideia do buffet é bastante interessante, pois trata de assunto que muitos de nossos alunos possam trabalhar”. 28/03/14 – 09:06.
Atenção à avaliação do aprendizado na EJA “Muitos alunos têm dúvidas quanto às ideias de lucro, custo e preço de vendas”. 03/04/14 – 15:11.

“Gostaria que a abstração dos meus alunos fosse maior”. 01/04/14 – 11:13.

“Existe uma dificuldade quando de um gráfico tentamos construir a expressão”. 28/03/14 – 13:45.

“De modo geral, sentem dificuldades na determinação da lei da função afim, por meio de um gráfico”.  02/04/14 – 06:44.

Indícios de aprendizado do professor cursista

Anseios, insegurança... “Ainda bem que você repetiu a sua resposta, (...) agora ficou bem claro”. 03/04/14 – 23:45.

“Tentei fazer algo parecido, ainda bem que você postou, me deu mais segurança”. 01/04/14 – 11:09.

“Sinto dificuldade em avançar no conteúdo em sala de aula, pois necessitamos de pré-requisitos”. 04/04/14 – 00:36.

“Os meus alunos sentem dificuldades em recordar assuntos já vistos em anos anteriores... Será que isso acontece, de modo geral, nas turmas de NEJA?”. 07/04/14 – 00:13.

Parte tecnológica (fórum, software...) “Realmente aprendemos muito com as trocas de ideias e tarefas enviadas pelos colegas”. 06/04/14 – 17:34.

“Este fórum está repleto de ótimas tarefas e de muitas sugestões”. 05/04/14 – 23:21.

“Estou gostando muito dos fóruns”. 04/04/14 – 12:59.

Material didático

Algo significativo/novo “Muito interessante essa atividade. Vou ensaiá-la para usá-la em momento oportuno”. 31/03/14 – 00:20. “A turma foi bastante participativa... Tive a sensação de ter atingido meu objetivo”. 28/03/14 – 09:04.
Inspiração em atividades dos módulos “Uma das atividades propostas do material do professor que mais me chamou atenção foi o “Dominó das funções”... No caso da minha turma... eu daria... uma folha de papel e lápis para não serem tentados a chutar”. 02/04/14 – 10:40. “Usando a ideia do livro, foram surgindo outras ideias como uma operadora de telefonia que cobra a assinatura mais o valor por cada minuto usado”. 28/03/14 – 10:50.

Sugestões

Para o Programa EJA “Gostaria de aproveitar o momento para fazer uma sugestão que seria de grande valia para o aprimoramento e atualização de todos nós: minicursos de utilização de programas matemáticos e multimídia”. 31/03/14 – 00:20.

“Deveríamos fazer cursos para nos capacitarmos na utilização de softwares matemáticos”. 31/03/14 – 23:44.

“Gostei muito do “Dominó das funções”... Eu incluiria nesta atividade (...) explicando que toda função do tipo f(x) = ax + b, com a e b números reais diferente de zero é denominada Função Polinomial do 1º Grau ou Função Afim...”. 28/03/14 – 15:24.
Entre os cursistas/Trocas “Fiquei sabendo, no meu colégio, que estariam abertas inscrições para o curso do software GeoGebra, boa ferramenta para nosso aprimoramento”. 31/03/14 – 23:44.

“A atividade é excelente. Gostei e vou usá-la”. 06/04/14 – 21:33.

“Usei esse exercício em sala e mostrei a eles que o coeficiente linear, nessa expressão, é zero. Foi legal”. 28/03/14 – 10:36.

“Uma sugestão é utilizar o software Winplot para agilizar o processo e também fazer as observações, como identificar o coeficiente b...”. 29/03014 – 22:03.

Fonte: Adaptado de Esquincalha (2014, p. 65).

A partir das categorias emergentes na análise de Esquincalha (2014, p. 65) foram realizadas algumas adaptações e inclusões a partir das interações observadas no Fórum Temático 3. Com base nisso, foi construído o Quadro 1, a fim de perceber as impressões dos participantes em relação a curso, material e EJA. A análise foi realizada de forma geral, considerando cada grupo de categoria com suas respectivas subcategorias, baseadas nas reflexões e compartilhamentos das falas dos docentes realizadas durante o fórum e catalogadas acima.

EJA

De forma geral, os professores reconhecem as necessidades e peculiaridades na docência com Educação de Jovens e Adultos. Percebem que o ensino para esse público requer mudanças no tipo de abordagem didática e metodológica, pois a maioria dos alunos possui bagagem cultural e esta pode e deve ser utilizada nas aulas a fim de tornar o ensino significativo. Tardif (2002) corrobora destacando que o professor deve conhecer a disciplina, o programa no qual trabalha e ter conhecimentos relativos à Pedagogia, às Ciências da Educação e desenvolver a prática pautada nas experiências que possui com sua turma.

Nesse sentido, o professor deve ter sensibilidade ao preparar suas aulas. Deve considerar as experiências, interações que tem com seus alunos, o contexto e a bagagem que os alunos possuem. Os saberes que servem de base para o ensino “abrangem uma grande diversidade de objetos, de questões, de problemas que estão todos relacionados com seu trabalho” (Tardif, 2000, p. 213).

Em relação ao material didático, os professores destacaram que foi um grande ganho para a EJA, e sempre buscavam utilizar atividades que vão ao encontro da realidade da turma, pois acreditavam que essa é uma possibilidade do aluno se ver, isto é, tornar o ensino significativo, já que a maioria dos alunos trabalha; dependendo da modelagem das questões, elas podem se tornar até informativas para o exercício e vivência dos alunos.

Os professores destacaram que as turmas de EJA normalmente apresentam algumas dificuldades em assuntos relacionados a anos escolares anteriores, e por conta disso encontram dificuldades relacionadas à abstração em desenvolver alguns conteúdos.

Indícios de aprendizagem do professor

Outro detalhe importante observado no fórum é que a troca de experiências acaba influenciando e ajudando, dando mais segurança para desenvolver determinadas atividades e conteúdo. Os professores se sentem mais seguros ao observar que às vezes a mesma dificuldade que ele enfrenta, também é de algum outro colega. E que estratégias que ajudaram a superar determinada dificuldade também podem ser aproveitadas por ele, assim como o desenvolvimento de determinadas explicações ajudam a entender e dar mais segurança àquele professor que não domina muito determinado conteúdo. Nesse sentido, Miskulin (2009, p. 65) destaca que os membros de uma comunidade “valorizam suas competências coletivas e aprendem uns com os outros”.

É importante salientar que a estrutura do curso visa propor um ambiente de interação e integração da equipe. É um público específico: professores de Matemática que lecionam em turmas de EJA na rede estadual. As questões norteadoras no ambiente virtual consideram uma situação prática de sala de aula, discutindo questões metodológicas, didáticas e pedagógicas do ensino matemático e considerando o público para que esses profissionais lecionam. O curso oferecia uma série de ações (desenvolvimento de plano de ação, avaliação do plano de ação, encontros presenciais) que contribuíam para que esses professores se sentissem ouvidos, compartilhassem suas experiências. Talvez por isso a socialização e a valorização tenham sido tão evidentes nas interações.

De forma geral, o grupo ressaltou ao longo do fórum a possibilidade de troca de ideias e experiências propiciada por esse ambiente. Também destacou o quanto o fórum estava sendo prazeroso e como estava se sentindo à vontade em compartilhar os anseios e buscar soluções em conjunto. Esse tipo de comunidade

desenvolve suas práticas através de uma variedade de atividades, tais como: resolução de problemas, solicitação/troca de informações, compartilhamento de experiências, reutilização de recursos (...), mapeamento de conhecimento e identificação de lacunas (Miskulin, 2009, p. 65).

  • Material didático

Outras observações importantes foram em relação ao material didático; grande parte dos professores se manifestou compartilhando que ia utilizar alguma atividade ou já trazendo suas observações sobre a aplicação.

Outro elemento que merece destaque é que, quando gostavam de uma atividade, mas achavam que por algum motivo ela não daria para ser implementada do jeito que estava proposta, os professores buscavam aperfeiçoar, se manifestavam com satisfação compartilhando novas ideias a partir das sugestões dos materiais. Isso corrobora o que Wenger (apud Miskulin, 2009, p. 66) destaca: que o desenvolvimento da aprendizagem “não é meramente um processo mental, mas tem a ver com o desenvolvimento de nossas práticas e de nossa habilidade de negociação de significados”. Isso é muito interessante, pois eles demonstraram motivação em buscar aperfeiçoar as atividades de acordo com os conhecimentos que tinham de seus alunos e sobre suas realidades.

Sugestões

Foi possível também observar que alguns professores trouxeram sugestões para acrescentar ao didático e à criação de novos cursos de formação continuada. Outras sugestões que apareceram foram em relação à troca de materiais e experiências. A partir das análises foi possível perceber que, após o compartilhamento de alguma ideia de algum colega, eles complementavam com novas sugestões e adotaram como postura compartilhar materiais (docs, pdf, sites, atividades, jogos...).

Considerações finais

A partir do que foi discutido e refletido ao longo da realização das análises, foi possível perceber o quanto o fórum de discussão online pode contribuir como espaço formativo e aprimorar o desenvolvimento do profissional, assim como sua prática. Mas, para isso, é necessário que seja bem planejado para que se torne um ambiente que, além de colaborar para a a reflexão dos envolvidos, influencie a mudança de práticas.

Também deve considerar que o professor, ao realizar seu trabalho, se apoia nos conhecimentos disciplinares, didáticos e pedagógicos adquiridos na escola durante seus cursos de formação, bem como nos conhecimentos curriculares veiculados em programas e livros didáticos, mas considera ainda que eles são provenientes também de sua cultura pessoal, de sua história de vida, de sua escolaridade anterior e do seu próprio saber oriundo de experiências profissionais (Tardif, 2002).

Como critério psicopedagógico e interativo, o cenário virtual deve proporcionar aos participantes condições para que sejam capazes de atuar de forma autônoma, estratégica e responsável (Barberà, 2001). O ambiente deve proporcionar aos participantes gerenciar sua alto gestão no processo de ensino-aprendizagem.

Barberà (2001, p. 178) – Citação original: “la implementación de estos materiales en los contextos virtuales favorecería en mayor grado un tipo de aprendizaje más significaticvo de los contenidos, sobre todo procedimentales“.

Nesse contexto o fórum da formação continuada leva em consideração sempre, ao propor uma questão norteadora, reunir a prática ao conteúdo, sempre articulando com diferentes materiais propostos, tanto nos materiais do professor quanto nos do aluno. Barberà (2001) focaliza que o dispositivo virtual deve envolver diversos tipos de atividades, sejam textos, figuras, softwares, hipermídia etc. Para Barberà (2001), o sujeito pode estabelecer uma interação mais dialógica com os materiais e não apenas manipulativa. “A implementação desses materiais nos contextos virtuais forneceriam um maior grau de aprendizagem significativa dos conteúdos, especialmente processual ” (2001, p. 178, tradução nossa).

“A reflexão do professor sobre sua própria prática, seguida pela problematização e não aceitação da realidade cotidiana da escola, é considerada o início do processo de compreensão e melhoria do ensino” (Oliveira, 2015, p. 8). Dessa maneira, a formação continuada deve ter como fundamento a ideia de uma formação contextualizada, pois, como as necessidades de formação surgem na prática, isto é, no contexto educacional, a formação deve viabilizar para o profissional a possibilidade de ser um agente de mudança. Com isso, pode-se compreender que “produzir a vida do professor implica valorizar, como conteúdos de sua formação, seu trabalho crítico-reflexivo sobre as práticas que realiza e sobre suas experiências compartilhadas” (Pimenta, 1997, p. 12).

O curso de formação continuada EJA utiliza o fórum como espaço de formação para resgatar e discustir práticas que estão sendo implementadas. E a partir da discussão das experiências e do conteúdo em questão visa buscar novas maneiras de desenvolver e aprimorar novas posturas que levem em consideração não só a forma de abordagem conceitual, mas também que possam valorizar o conhecimento prévio e alcançar o aluno que se encontra na ponta desse processo.

Pensar em formação requer um projeto que envolva um processo duplo: em que se considera a escola como um espaço de formação e trabalho; e possibilite a autoformação dos professores (Pimenta, 1997). Também é necessário “desenvolver estratégias de intervenções que possam estimular a colaboração” (Bairral, 2013, p. 86). Desse modo, a partir do confrontamento da reelaboração dos saberes, colaboração e a prática em seus contextos será possível colaborar para a constituição de uma formação contínua.

Referências

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BARBERÀ, E.; BADIA, A.; MOMINÓ, J. M. La incógnita de la Educación a Distância. Barcelona: Cuadernos de Educación, 2001.

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ESQUINCALHA, A. C.; XAVIER, G. P. O.; PINTO, G. M. F.; BAIRRAL, M. A. (Orgs). O desenvolvimento profissional no Projeto Nova EJA da Seeduc/RJ: um olhar na formação continuada de professores que ensinam Matemática. Rio de Janeiro: Cecierj, 2014. v. 1.

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Publicado em 21 de março de 2017

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