Desafios docentes da segunda fase do Ensino Fundamental na Educação Remota em Cacimba de Dentro/PB

Gilmar Cândido Bezerra

Licenciado em Ciências Biológicas e especialista em Ensino e Aprendizagem (UFCG)

João Paulo da Silva

Graduado em Ciências Sociais (UFPB - PB), Design de Interiores (Cesumar) e Arquitetura e Urbanismo (Unifip), especialista em Arquitetura e Patrimônio (Faveni), mestre em Sociologia (PPGS/UFPB) e doutor em Ciências Sociais na área de concentração Dinâmicas Sociais, Práticas Culturais e Representações (PPGCS/UFRN)

Ao começar o ano letivo de 2020, em março, os professores foram surpreendidos com o reconhecimento pela Organização Mundial da Saúde (OMS) estado de Pandemia causado pelo coronavírus e a suspensão das aulas presenciais em vários países, incluindo o Brasil. Diante desse novo cenário, surgiu o grande desafio: como ensinar de maneira segura sem que tenha aglomerações? Com a proibição de aulas nas escolas, surgiu a ideia de aulas remotas, semelhante a Educação a Distância, porém, com maior interação entre professores e alunos.

Segundo Grandisoli, Jacobi e Marchini (2020, p. 2),

Desde março de 2020, cerca de 48 milhões de estudantes deixaram de frequentar as atividades presenciais nas mais de 180 mil escolas de Ensino Básico espalhadas pelo Brasil, como forma de prevenção a propagação do coronavírus (INEP, 2019). Desse total, a Rede Estadual de Educação de São Paulo, a maior do país, abrange cerca de 3,8 milhões de matrículas e cerca de 200 mil educadores e educadoras. O fechamento das escolas trouxe à tona a necessidade urgente da adoção de novas estratégias que garantissem a continuidade do trabalho dos educadores e seus estudantes e, consequentemente, dos processos de ensino-aprendizagem, via novos modelos de educação mediada por tecnologia.

Esse novo cenário de ensino emergencial atingiu todos, grandes e pequenos municípios. Em Cacimba de Dentro/PB, os professores precisaram reformular seus planos didáticos e se adaptarem a uma nova realidade educacional, nunca antes vivenciada.

Portanto, este trabalho tem como objetivo geral conhecer os desafios dos professores da segunda fase do Ensino Fundamental na Educação remota no município de Cacimba de Dentro/PB. Já os objetivos específicos são: conhecer as principais dificuldades enfrentadas pelos referidos professores ao ensinar remotamente; compreender as estratégias e recursos utilizados pelos docentes na realização das atividades remotas; elucidar quais as principais fontes/ferramentas que os professores utilizam para elaboração e execução das aulas (on-line); discutir a importância do uso de aplicativos como o Google Forms e o WhatsApp para comunicação e execução de atividades.

Esta pesquisa foi realizada com professores das escolas: Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Gomes de Sousa, Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Aparecida Gomes de Sousa, Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente José Sarney e Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Ruy Carneiro. Localizadas no município de Cacimba de Dentro-PB. Com a relevância de refletir sobre os desafios enfrentados na educação emergencial em decorrência da pandemia ocasionada pelo SARS-Cov-2 que alterou o ano escolar de 2020 (Honorato; Marcelino, 2020, p. 2).

Este trabalho foi organizado em partes: na parte I, aponta uma fundamentação teórica sobre a Educação a Distância e educação remota; na parte II, cita a metodologia utilizada para a elaboração da pesquisa em si, na parte IV, há os resultados obtidos por meio da pesquisa envolvendo os docentes por meio de um questionário via Google Forms e por fim, são apresentadas as conclusões na parte V.

Um pouco de história sobre a Educação a Distância (EaD)

A EaD é uma prática pedagógica antiga, porém, teve maior êxito a partir da segunda metade do século XIX, com o objetivo maior de qualificar mão de obra devido o crescente processo de industrialização. No Brasil, em 1920, havia projetos para levar a EaD através das rádios e a profissionalização pelo Instituto Universal Brasileiro, até 2005, quando cresce e chega as universidades públicas brasileiras por meio da implantação da Universidade Aberta do Brasil (Carvalho, 2013, p. 12). 

Um fato marcante para a EaD no Brasil foi sua normatização recente por meio do Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005, que regulamenta a EaD, ela é caracterizada como:

Art. 1º Para os fins deste Decreto, caracteriza-se a educação a distância como modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (Brasil, 2005).

Na EaD, a interação entre o aluno e o objeto de estudo, rompe as barreiras de tempo/espaço, em que o aprendiz fica livre para estudar em qualquer ambiente e a qualquer horário que lhe for conveniente. Há também a utilização das tecnologias de telecomunicação que faz o papel de intermediação entre professor e aluno. Para compreendermos melhor a EaD, Carvalho (2013) exemplifica da seguinte maneira:

Podemos destacar, por exemplo, o fato de o processo educacional acontecer basicamente fora do ambiente escolar e com uma separação física entre professor e aluno, essa relação, por sua vez é mediada através dos meios tecnológicos disponíveis. O uso desses meios técnicos de mídia oferece ao educando recursos e acessos a ferramentas para que a interação entre os estudantes e os tutores (professores on-line ou presenciais) envolvidos no processo de ensino-aprendizagem aconteça. Desta forma, o aluno tem possibilidade de acesso aos conteúdos e atividades que facilitarão o processo educativo.

Embora a EaD tenha facilitado mais o processo educacional, dando oportunidade de qualificação profissional a muitos que não tem condições de estudar em uma escola tradicional com ensino presencial, esta modalidade de ensino tem seus desafios a vencer, sendo a evasão um dos principais. Vários motivos levam ao aluno desistir de um curso EaD, a considerar: a tradicional relação professor e aluno, a falta de laços afetivos (amizades em classe), a dificuldade de acesso e domínio do computador por parte do alunado, dificuldade de expor ideias de maneira escrita, o cansaço em ter que estudar após o dia de trabalho, a falta de tempo e condições financeiras (Araújo; Oliveira; Marchisotti, 2016, p. 4).

A pandemia

No final do ano de 2019, em Wuhan, na China, foi descoberta uma doença viral altamente contagiosa, que em casos mais graves poderiam ocasionar a morte do indivíduo. Assim como a notícia se espalhou, o vírus também, devido à falta de informações sobre como evitar e, de certa forma, a ignorância do povo em desacreditar na virulência desse vilão. Com cerca de três meses depois do primeiro caso na China, a Organização Mundial da Saúde (OMS) decreta em março de 2020, estado de pandemia e orienta aos países afetados que mantenham o máximo de isolamento social possível para evitar uma contaminação em massa e ocasionar um colapso nos sistemas de saúde.

O governo da Paraíba decretou no dia 19 de março de 2020 a suspensão das aulas e antecipação das férias escolares (de 19/03/2020 a 18/04/2020). Os municípios paraibanos também aderiram à suspensão das aulas, seguindo as orientações do Ministério da Saúde.

Ensino emergencial e sua legalização

A Educação a Distância (EaD), já comum em várias instituições, principalmente na formação de cursos profissionalizantes técnicos e superiores, passou a ser uma possibilidade para que a educação básica não fosse paralisada de vez. Após a suspensão das aulas presenciais em todo o país, desde o ensino básico ao superior e sem perspectivas de retorno, o MEC em 19 de março de 2020, publicou a Portaria nº 345/20:

Fica autorizada, em caráter excepcional, a substituição das disciplinas presenciais, em andamento, por aulas que utilizem meios e tecnologias de informação e comunicação, por instituição de educação superior integrante do sistema federal de ensino, de que trata o art. 2º do Decreto nº 9.235, de 15 de dezembro de 2017 (Brasil, 2020a).

Por ser uma medida de caráter emergencial, tem validade enquanto durar a situação de calamidade de saúde pública por conta da covid-19. Por não ter sido citada a educação básica, o Conselho Nacional de Educação (CNE), considerando os impactos ocasionados pela pandemia da covid-19, orienta as redes de ensino a reorganizarem as atividades acadêmicas, entre várias medidas, destaca-se:

5. no exercício de sua autonomia e responsabilidade na condução dos respectivos projetos pedagógicos e dos sistemas de ensino, compete às autoridades dos sistemas de ensino federal, estaduais, municipais e distrital, em conformidade com o Decreto nº 9.057, de 25 de maio de 2017,autorizar a realização de atividades a distância nos seguintes níveis e modalidades: I -ensino fundamental, nos termos do § 4º do art. 32 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996; II - ensino médio, nos termos do § 11 do art. 36 da Lei nº 9.394, de 1996; III - educação profissional técnica de nível médio; IV -educação de jovens e adultos; e V - educação especial (Brasil, 2020b).

Com essas bases legais, os Conselhos Estaduais de Educação (CEE) iniciaram o planejamento e criam deliberações sobre a educação remota para legitimar e permitir a adoção de atividades escolares a distância na Educação Básica, enquanto durar o período de calamidade em saúde pública decorrente da pandemia da covid-19 (Pereira, Narduchi, Miranda, 2020, p. 10).

Após as orientações do MEC, no dia 20 de abril de 2020, o Secretário de Estado da Educação e da Ciência e Tecnologia da Paraíba (SEECT), Cláudio Furtado, apresentou as estratégias de implantação do Regime Especial de Ensino publicado no Diário Oficial do Estado do Estado da Paraíba, o regime especial foi estabelecido na Portaria nº 418, diante da suspensão de aulas presenciais como medida restritiva que visa conter a disseminação do novo coronavírus na Paraíba, a retomada das aulas de forma remota a partir do dia 27 de abril sem data previa para retorno das aulas presenciais (Secretaria Estadual de Educação, 2020).

O município de Cacimba de Dentro está localizado na região geográfica intermediária de João Pessoa e na região geográfica imediata de Guarabira, a aproximadamente 170km a noroeste da capital da Paraíba. Segundo o IBGE (2010), sua população é de 16.748 habitantes.

Apesar de o ensino remoto ser semelhante à Educação a Distância, já é comum em várias instituições de ensino, o modelo da EaD, há uma equipe multidisciplinar, tutores, gestores de polo, coordenadores pedagógicos e coordenadores de tutores capacitados previamente, para auxiliar o aluno no desenvolvimento do curso.

O ensino remoto busca reduzir os efeitos da suspensão das aulas presenciais causada pela pandemia do coronavírus (covid-19), a fim de que as atividades escolares não sejam prejudicadas a ponto de “se perder” o ano letivo de 2020.

E para que seja possível o acesso de todos às atividades remotas, até mesmo àqueles alunos com dificuldade ou falta de acesso à internet ou mesmo falta de aparelhos tecnológicos, faz-se necessário um planejamento no qual os professores precisem também realizar atividades para serem impressas e entregue aos alunos, de modo que eles possam estudar e resolver os exercícios sem o auxílio do professor, pesquisando na própria atividade.

Metodologia

A pesquisa caracteriza-se como estudo de campo do tipo explanatório-descritivo e comparativo, de natureza quanti-qualitativa, utilizando-se o método de pesquisa do tipo survey.

A coleta de dados contou com a aplicação de um questionário construído com base na revisão de literatura acerca do tema, utilizando se o Google Forms para a aplicação on-line via distribuição do link (https://Forms.gle/QXCfCPLTsvscBPATA) aos amigos docentes, por meio do WhatsApp de maneira individual e em grupos. O questionário estruturado e elaborado na plataforma conteve nove questões objetivas, com a opção de observações, e uma questão dissertativa final para que os professores fizessem suas considerações sobre o ensino emergencial.

Participaram da pesquisa 34 educadores que lecionam em diversas disciplinas no ensino fundamental II, em quatro escolas onde o ensino remoto foi adotado após o surgimento da pandemia da covid-19. As escolas são: Escola Municipal de Ensino Fundamental Antônio Gomes de Sousa, Escola Municipal de Ensino Fundamental Maria Aparecida Gomes de Sousa, Escola Municipal de Ensino Fundamental Presidente José Sarney e Escola Municipal de Ensino Fundamental Senador Ruy Carneiro, localizadas no município de Cacimba de Dentro/PB.

A pesquisa permitiu conhecer um pouco sobre o perfil profissional docente, refletir a questão do uso das tecnologias digitais na educação e conhecer os principais desafios para o professor, ao lecionar no ensino emergencial, as dificuldades enfrentadas pelos alunos do ensino fundamental II (6º a 9º ano).

Resultados e discussões                

Os professores que participaram da pesquisa são formados nas diversas áreas, com títulos de bacharelado (2,9%), licenciatura (41,2%), especialização (47,1%) e mestrado (8,8%). Com relação a faixa etária, apenas 14,7% possuem entre 18 e 30 anos, já entre 31 e 40 anos são 23,5%, enquanto a maioria destes docentes tem mais de 40 anos (61,8%), representando um risco de saúde no atual cenário de pandemia, caso fossem expostos (Figura 1).

Figura 1: Percentual de respostas dos professores do Ensino Fundamental II sobre sua faixa etária. Cacimba de Dentro/PB, 2020

Ao analisar a experiência docente, apenas 2,9% afirmaram trabalhar no Ensino Fundamental II por cerca de dois a três anos. Entre três e quatro anos são 17,7%, entre cinco e dez anos, são 8,8%. Enquanto 70,6% afirmaram ter experiência docente a mais de 10 anos. Ou seja, a maioria dos professores é experiente ao lecionar no ensino Fundamental II (Figura 2).

Figura 2: Percentual de respostas dos professores sobre o tempo de experiência docente no Ensino Fundamental II. Cacimba de Dentro/PB, 2020

Ao serem questionados se durante a formação pedagógica tiveram algum componente curricular sobre metodologias do Ensino a Distância – EaD ou ensino emergencial, 85,3% afirmaram que não enquanto somente 14,7% afirmaram ter já estudado algo relacionado ao tema (Figura 3). Diante desta situação, os professores tiveram que se reinventar suas práticas pedagógicas e procurar meios de aprender sobre metodologias de ensino a distância e ao mesmo tempo ensinar aos alunos. Aprendendo mais na prática, vivenciando o ensino emergencial.

Figura 3: Percentual de respostas dos professores sobre ter cursado alguma disciplina de metodologias do Ensino a Distância (Ensino emergencial). Cacimba de Dentro/PB, 2020

De certa forma, a falta de capacitação profissional docente sobre o uso das metodologias de Ensino a Distância, em especial, sobre os recursos tecnológicos digitais, tais como Google Meet, Google Forms, Google Sala de Aula etc. Afeta diretamente na qualidade das aulas organizadas pelos docentes e como consequência, afeta diretamente na aprendizagem do aluno que está sendo acompanhado de maneira remota.

Ao questionar os professores sobre quais as principais ferramentas mais utilizadas em suas aulas remotas, 26,4% afirmaram utilizar o YouTube, 23,5% utilizam o YouTube e o WhatsApp e somente usar o WhatsApp foram 11,8%. Ao analisar o uso das ferramentas em conjunto (Google Sala de Aula, Google Meet e YouTube Google Forms, YouTube e WhatsApp, Google Forms e YouTube, Zoom e WhatsApp) foram citados 5,9% cada. Enquanto (Redes sociais, Google Meet, Youtube, WhatsApp e Gmail, Google Meet e Youtube / Google Meet / Google Sala de Aula) foram citados não mais que 2,9% cada (Figura 4).

Importante destacar o fato de que os professores pesquisados não tiveram uma capacitação prévia antes de iniciar a docência no ensino remoto. Ficaram livres para escolher suas metodologias, embora essas ferramentas didáticas utilizadas, em sua maioria não sejam oficialmente ferramentas apropriadas para o ensino, houve boa aceitação e compreensão por parte dos alunos envolvidos no processo educacional.

Figura 4: Percentual de respostas dos professores sobre as principais ferramentas mais utilizadas em suas aulas remotas. Cacimba de Dentro/PB, 2020

Ao observar o uso em conjunto (Youtube, Youtube e WhatsApp, WhatsApp) foram citadas 61,7% como sendo as principais ferramentas didáticas tecnológicas mais utilizadas pelos professores. De certa maneira, não há uma variação quanto à metodologia didática utilizada pela maioria dos envolvidos na pesquisa. Podendo esse fator ser atribuído à falta de aprimoramento profissional, a maioria já afirmou não ter cursado alguma disciplina de metodologia de ensino a distância (figura 03) ou essa homogeneização quanto ao uso de ferramentas didáticas tecnológicas atribui-se ao pouco domínio que os alunos do Ensino Fundamental II possuem na área tecnológica. Dos 34 professores pesquisados, apenas 2,9% citaram usar as redes sociais.

Com relação aos principais desafios ao lecionar no ensino emergencial, 70,6% dos professores atribuíram a falta de interesse dos alunos em realizar as atividades propostas, 14,7% citaram a falta de interatividade professor/aluno, já com relação a falta de recursos tecnológicos e falta de capacitação profissional para o uso das tecnologias foram citados 5,9% cada. Nesta pesquisa, destaca-se que dos 34 professores pesquisados, nenhum citou a falta de acesso à internet como desafio para lecionar (Figura 5).

Figura 5: Percentual de respostas dos professores sobre os principais desafios ao lecionar no ensino emergencial. Cacimba de Dentro/PB, 2020

Um professor fez a seguinte observação (2,9%): “Falta de uma melhor acessibilidade tanto por parte do professor quanto de aluno, considerando que, muitos alunos utilizam dos celulares e aparelhos eletrônicos de seus pais para realização da EaD, dificuldade com conexão e horários”.

Ao serem questionados com relação aos principais desafios enfrentados pelos alunos no ensino emergencial, 35,3% responderam que é a falta de incentivo dos pais na realização das atividades remotas, 32,4% afirmaram ser a falta de interesse dos alunos, 29,4% atribuíram à falta de recursos tecnológicos (notebook, smartphone, computador) e apenas 2,9% citou a dificuldade ao acesso à internet (Figura 6).

Figura 6: Percentual de respostas dos professores sobre os principais desafios enfrentados pelos alunos no Ensino Emergencial. Cacimba de Dentro/PB, 2020

Ao questionar os professores sobre como está sendo a participação dos alunos no ensino remoto, 73,5% afirmaram ser regular e 26,5% classificaram como bom. Percebeu-se que nenhum dos professores está satisfeito com a participação dos alunos nas atividades propostas, visto não ter sido marcada a opção “ótima” ou “excelente” (Figura 7).

Figura 7: Percentual de respostas dos professores sobre como está sendo a participação dos alunos no ensino remoto. Cacimba de Dentro/PB, 2020

Ao responderem como está sendo lecionar no ensino emergencial, 29,4% dos professores classificaram como muito difícil, 29,4% declararam ser estressante, 25,5% afirmaram está sendo complicado e somente 14,7% informaram está sendo gratificante, por obter novos olhares sobre o ensino (Figura 8).

Figura 8: Percentual de respostas dos professores sobre como está sendo lecionar no ensino emergencial. Cacimba de Dentro/PB, 2020

No final do questionário, alguns professores fizeram as seguintes considerações sobre os desafios docentes:

“A falta de interação entre professor e aluno atrapalha bastante no momento de realizar as atividades, já que tem uma grande falta de atenção dos alunos no momento das explicações e para leitura.”

“Alguns alunos sem interesse e alguns pais ausentes.”

“A adequação a uma nova proposta de aprendizagem.”

“O desafio maior é justamente o que já foi citado: o interesse do aluno em realizar as tarefas propostas.”

“Está sendo um desafio muito interessante, pois de repente aprendemos uma nova forma de lecionar. Mas diante de tudo, uma nova experiência.”

“Não é uma boa forma de ensino porque a maioria dos alunos não pode acompanhar.”

“Sabemos que lecionar já é um grande desafio, principalmente quando refletimos sobre aspectos específicos da Educação, e no que se diz tecnologia ainda mais, existem diversos fatores que tornam o momento no qual estamos vivenciando desafiador, mas a utilização da tecnologia interligada com o desinteresse do aluno torna esse desafio ainda mais difícil se não, impossível.”

“Os professores trabalham o triplo, e os alunos que interagem são raros, de 30 apenas cinco são comprometidos (Participação de cerca de 18% apenas).”

“São vários os desafios, temos que nos reencontrar e descobrir como trabalhar esses meios de tecnologia. Exemplo: Google Meet, Google Sala de Aula etc.”

“Desafiador!”

“Complicado, em virtude dos fatores externos a exemplos da falta de interesses tanto dos alunos, como a falta de incentivo dos pais. Mas estamos fazendo o possível para alcançarmos um resultado satisfatório em meio a tantos desafios que temos enfrentado.”

“Uma nova experiência profissional.”

“Ensino em EaD torna-se complicado pelo público que nós estamos atendendo, também pelas dificuldades de acessibilidade, consideramos também as dificuldades de atendimento do público total da instituição escolar.”

“Falta de interesse dos alunos.”

“Apesar das dificuldades, é uma ótima opção para não parar as aulas, de vez, durante a pandemia da covid-19.”

“Se os pais participassem das atividades juntos com seus filhos, eles teriam melhor desempenho, se não sebe resolver, mas pelo menos peçam aos filhos para que façam as atividades, fiscalizem.”

Considerações finais

Ser professor é desafiador, faz-se necessário, além da formação pedagógica que exige para exercer a profissão, que se faça constantemente curso de aperfeiçoamento na área, visto que o processo educacional está em constantes transformações, assim, como também a sociedade.

Ao serem surpreendidos pelo decreto de paralisação das aulas presenciais, devido à covid-19, e ao iniciar as aulas de forma remota, os professores tiveram que se reinventar, ser mais do que nunca autodisciplinar, para aprender sobre como ensinar de forma remota, utilizando seus aparelhos tecnológicos (notebook ou smartphone, celulares, tablets) com intuito de que, por meio da internet, fosse possível ensinar sem ter o tradicional contato presencial com seus alunos.

Como já analisado, a maioria dos professores utiliza o aplicativo WhatsApp e a plataforma YouTube como principais ferramentas no ensino remoto. Poucos utilizam o Google Sala de Aula, Google Meet, Google Forms, redes sociais etc. Nesse cenário, destaca-se a importância da atualização profissional com relação ao uso das tecnologias na educação.

Segundo os professores envolvidos, o principal desafio enfrentado pelos alunos no município de Cacimba de Dentro, na Paraíba, é atribuído à falta de interesse dos alunos, a ausência dos pais no acompanhamento das atividades e até mesmo a falta de aparelhos tecnológicos (computador, smartphone, celular). A falta de interesse em realizar as atividades propostas também foi apontada como um dos principais desafios docente, visto que a maioria dos alunos não faze as atividades escolares.

Contudo, a realidade educacional do país emerge, disparando a informação de que a visão do docente deva, sim, ser cada vez melhor trabalhada e ampliada, mas principalmente, que o apoio autêntico de alunos e seus responsáveis legais, possam contribuir para que a prática de ensino-aprendizagem realmente exista. Dessa forma, recomenda-se que essas experiências vivenciadas no ensino emergencial, sirvam para refletir e abarcar novas alternativas para uma boa e relevante educação.

Afinal, o ensino precisa desse novo olhar, uma repaginada sobre o que realmente é educar e como educar nesta era tecnológica. Um desafio que envolve pais, professores, alunos, gestores e supervisores, e os convida a aprender a aprender.

Referências

ARAÚJO, N. T. F; OLIVEIRA, F. B; MARCHISOTTI, G. G. Razões para a evasão na educação a distância. Projeto de pesquisa em andamento. Rio de Janeiro, 2016. Disponível em: http://www.abed.org.br/congresso2016/trabalhos/326.pdf. Acesso em: 22 set. 2020.

BRASIL. Ministério da Educação. Gabinete do Ministro. Portaria nº 345, de 19 de março de 2020. Altera a Portaria MEC nº 343, de 17 de março de 2020. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, extra, n. 54-D, p. 1, 2020a. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/component/content/article?id=88631. Acesso em: 02 out. 2020.

______. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Nota de Esclarecimento. Diário Oficial da União, Brasília, 18 mar. 2020b. Disponível em: http://consed.org.br/media/download/5e78b3190caee.pdf. Acesso em: 02 out. 2020.

CARVALHO, A. H. A evolução histórica da Educação a Distância no Brasil: avanços e retrocessos. Especialização em educação: métodos e técnicas de ensino, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Medianeira, 2013.

GRANDISOLI, E.; JACOBI, P. R.; MARCHINI, S. Pesquisa, educação, docência e a covid-19. IEA-USP, 2020. Disponível em: http://www.iea.usp.br/pesquisa/projetos-institucionais/usp-cidades-globais/pesquisa-educacao-docencia-e-a-covid-19. Acesso em: 01 set. 2020.

HONORATO, H. G.; MARCELINO, A. C. K. B. A arte de ensinar e a pandemia da covid-19: a visão dos professores. Rede – Revista Diálogos em Educação, v. 1, nº 1, jan./jun. 2020. Disponível em: https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-educacao-e-da-ciencia-e-tecnologia/noticias/secretaria-de-educacao-anuncia-regime-especial-de-ensino-da-rede-estadual-durante-pandemia-do-novo-coronavirus. Acesso em: 31 ago. 2020.

PEREIRA, A. J.; NARDUCHI, F.; MIRANDA, M. G. Biopolítica e educação: os impactos da pandemia de covid-19 nas escolas públicas. Rev. Augustus, Rio de Janeiro, v. 25, nº 51, jul./out. 2020. Disponível em: https://revistas.unisuam.edu.br/index.php/revistaaugustus/article/view/554/299. Acesso em: 23 set. 2020.

Sites consultados

https://cidades.ibge.gov.br/brasil/pb/cacimba-de-dentro/panorama.

https://paraiba.pb.gov.br/diretas/secretaria-da-educacao-e-da-ciencia-etecnologia/noticias/secretaria de-educacao-anuncia-regime-especial-de-ensino-da-rede-estadual-durante-pandemia-do-novo-coronavirus. Acesso em 01/09/2020.

Publicado em 08 de junho de 2021

Como citar este artigo (ABNT)

BEZERRA, Gilmar Cândido; SILVA, João Paulo da. Desafios docentes da segunda fase do Ensino Fundamental na Educação Remota em Cacimba de Dentro/PB. Revista Educação Pública, v. 21, nº 21, 8 de junho de 2021. Disponível em: https://educacaopublica.cecierj.edu.br/artigos/21/21/desafios-docentes-da-segunda-fase-do-ensino-fundamental-na-educacao-remota-em-cacimba-de-dentropb

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