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Política educacional civilizadora

Armando Correa de Siqueira Neto

O ser humano paga um alto preço por viver em uma sociedade bastante idealizada em relação à realidade nua e crua dos seus membros. Informações genéticas obrigam-no a sobreviver e a se aperfeiçoar, a fim de tornar-se apto e a dar continuidade à espécie por sua descendência. Logo, o choque é inevitável frente às normas e leis que tentam regular os comportamentos sociais. Duas poderosas forças se enfrentam, e disso pode decorrer evolução, conflito e, nos casos extremos, significativos desajustes psíquicos.

A luta se inicia de forma sutil, através do psiquismo e da funcionalidade cerebral. Tal combate se estabelece entre as funções mais antigas (anatomicamente, o sistema límbico e as emoções, por exemplo) e as mais recentes (neocórtex e o planejamento e controle). Se há boa comunicação entre o antigo e o novo, ou seja, entre o lado original animalesco e o lado que busca a civilização, é possível resultar em bons avanços. Do contrário, o mal-estar revelará a presença de discórdia que, se canalizada irrefletidamente para os comportamentos, pode gerar desacordo social. A brutal inconsciência nocauteia a mirrada consciência.

Vale destacar que é fundamental cobrar o desenvolvimento das potencialidades humanas, sobretudo a autonomia intelectual e a ética, que levem a pessoa a observar o que é bom para si e para outrem. É assim que se pode extrair maiores e melhores resultados para o bem-estar do indivíduo e da comunidade. Pois, se a acomodação reina, as trevas se sobrepõem à luz. No entanto, ao mencionar cobrança e extração do progresso humano, urge agregar outros itens cruciais: o adequado investimento na educação, cuja aprendizagem demanda estratégias voltadas para a aquisição do saber, e, notadamente, a prática da reflexão. Adquirir conteúdo apenas é ter a chave; processá-lo reflexivamente é abrir a porta.

Então, o que se percebe de forma gritante no convívio social é, de um lado, pesada exigência sobre o controle dos comportamentos; de outra parte, pouca oferta de qualidade educacional que valorize conteúdo, crítica e autonomia, que podem gradativamente formar gente com ideias próprias e a capacidade de assumir as inerentes responsabilidades cidadãs, como o exercício político que atinja a democracia consciente e responsável, em detrimento do ato eleitoral meramente mecânico e inconsequente e a malfadada passividade, dentre outros aspectos.

Sem a educação civilizadora, o homem permanecerá indefinidamente escravo de si mesmo e refém da manipulação ardilosa de outros homens, porquanto se deve lutar voraz e incessantemente em favor das políticas que favoreçam a educação de qualidade, para que os reflexos de tal empreendimento beneficiem futuras gerações que, ao olhar para o seu passado, entendam claramente que a intervenção madura é o caminho para libertar o homem e torná-lo um transformador pleno da sociedade.

Publicado em 30 de março de 2010

Publicado em 30 de março de 2010

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