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Vaidade e motivação na aprendizagem
Armando Correa de Siqueira Neto
Psicólogo e professor
A motivação relacionada à aprendizagem é objeto de estudo há considerável tempo, haja vista ela ter enorme relevância. Por diferente que uma época seja da outra, bem como a cultura existente em cada lugar, a motivação é uma condição necessária globalmente e em qualquer momento para a adequada aprendizagem. Desconsiderar sua importância e impor apenas o conteúdo daquilo que se pretende ensinar é dificultar (em enorme escala) a relação ensino-aprendizagem. Witter e Lomônaco (1984, p. 40) afirmam que “qualquer atividade a ser aprendida poderá ser afetada pela motivação”. A motivação, portanto, merece destaque e, sobretudo, que seja bem compreendida e utilizada da melhor maneira em favor do desenvolvimento da pessoa.
Todavia, o que se pretende focalizar aqui é a vaidade, que pode ser estimuladora a ponto de motivar alguém a continuar a aprender um dado assunto. Refiro-me ao desejo que certos alunos têm sobre serem importantes a partir de seu reconhecimento em níveis mais abrangentes. Isto é, há estudantes que gostam de perceber que professores e colegas o observam favoravelmente pelo seu destacado nível de aprendizagem. Há outros, contudo, que desejam ir além, ao buscar mais realização por meio de aparições de maior envergadura, como as apresentações públicas musicais de aprendizes que se desenvolvem tocando determinado instrumento. É possível detectar algo ainda mais pitoresco nessa análise, considerando que não há limite de idade para que ocorra tal situação.
É ai que entra a vaidade, observada em um aluno de apenas cinco anos, cujo instrumento musical em questão é o violino. Ele não se motiva apenas pela aprendizagem, mas também pela oportunidade de se apresentar publicamente quando lhe é oferecida tal chance. Há variáveis que devem ser levadas em conta nesse estudo. Para Witter e Lomônaco (1984, p. 45), “a motivação intrínseca é aquela em que a atividade surge como decorrência da própria aprendizagem, o material aprendido fornece o próprio reforço, a tarefa é feita porque é agradável. (...) A motivação extrínseca ocorre quando a aprendizagem é concretizada para atender a um outro propósito, por exemplo, galgar um posto, ser agradável para outra pessoa (pai, mãe, namorada), para “subir” socialmente”. Davidoff (1983) e Morgan (1977) descrevem que os motivos sociais podem atender a necessidades de sentir-se amado, aceito, aprovado e estimado.
Não bastasse a oportunidade para se motivar com a apresentação de sua performance no violino, outro elemento é capaz de estimulá-lo: a aprendizagem relacionada ao caratê. É claro que deve-se considerar o simbolismo presente em tal esporte (força, poder etc.), mas neste caso especificamente a vaidade acompanha o carateca quando existe algum tipo de exibição, como a Copa de Caratê Regional, levando a criança a um bom nível de desenvolvimento da motivação, tanto pelo evento que reúne um enorme número de espectadores quanto pela sua exposição pessoal.
Observa-se então a força que, para a aprendizagem do aluno, a motivação com certa base na vaidade possui. Ela pode ser reforçadora e gerar determinado nível de manutenção e persistência favorecedores à continuidade da prática para atingir o objetivo que se tem em mira (os exemplos aqui são aprender a tocar violino e lutar caratê).
O aluno de cinco anos descrito aqui respondeu a algumas perguntas que lhe foram feitas a respeito dos dois tipos de aprendizagem e das suas aparições públicas, evidenciando a força de sua motivação para a aprendizagem, ora relacionada ao conteúdo do que aprende, ora pela vaidade que demanda ser atendida nas oportunidades sociais através das exibições públicas.
Questões sobre o violino.
Você gosta de tocar violino?
R: Gosto.
O que é que você mais gosta quando toca violino?
R: De aprender.
Você se apresentou em público numa praça de sua cidade. Você gostou de se apresentar?
R: Gostei.
Você se apresentaria em outras ocasiões, em outros lugares?
R: Apresentaria.
Você continuaria estudando para aprender mais e aparecer mais em público em outras apresentações?
R: Sim.
Você se sente importante ao se apresentar na frente das outras pessoas?
R: Sim.
Questões sobre o caratê
Por que você gosta de aprender a lutar caratê?
R: Porque eu quero ser faixa preta.
Você se sente importante vendo as pessoas olhando o seu caratê?
R: Eu me sinto.
Para quem conhece essa criança, as suas respostas são apenas o reflexo de como se sente cotidianamente. É bom lembrar que existem certos tipos de personalidade que, ao contrário, não gostam de aparecer, podendo sentir mal-estar diante de uma situação pública de evidência significativa.
No entanto, para aquele que deseja satisfazer a sua vaidade, e se é possível conciliá-la com o desenvolvimento por meio da aprendizagem, vale a pena facilitar o caminho para tal evolução. Cabe aos pais e ao educador a percepção a respeito de como a criança se motiva, para não deixar passar despercebida uma chance considerável de crescer, formar um bom autoconceito e se satisfazer conforme as suas próprias necessidades, levando-a a um treino que lhe poderá ser útil na vida adulta caso continue a exercitar os seus direitos de ser humano e progredir.
Referências bibliográficas
DAVIDOFF, Linda L. Introdução à psicologia. São Paulo: McGraw-Hill, 1983.
MORGAN, Cliford T. Introdução à psicologia. São Paulo: McGraw-Hill, 1977.
WITTER, Geraldina Porto; LOMÔNACO, José Fernando Bitencourt. Psicologia da aprendizagem. São Paulo: EPU, 1984.
Publicado em 08 de junho de 2010.
Publicado em 08 de junho de 2010
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