Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
SOS EDUCAÇÃO
Ivone Boechat
Somente a educação está apta a socorrer, salvar e preservar a cultura brasileira. Aqueles que adotaram a violência como estilo de vida (vida?) estão forçando o povo a parafrasear belas obras do cancioneiro popular e sussurrar: Se esta rua, se esta rua fosse minha, eu mandava, eu mandava gradear... Ou, ao invés de declamar lindas poesias de autores fantásticos, reclamar: Vou-me embora pra Pasárgada, aqui tenho medo de tudo e do rei...
Sou daqueles educadores que acreditam na recuperação do que se desprezou da riqueza da literatura, do acervo folclórico, da MPB, das brincadeiras de roda... Creio que as bandas de música, os desfiles cívicos escolares, os conjuntos corais, os festivais de música, a poesia, as trovas voltarão a florescer nos canteiros do sonho infanto-juvenil, fazendo coro com pessoas de todas as idades. Gostar de tudo isto não é romantismo nem saudosismo, é civismo, cultura. Claro, se a educação abandonar a praça da cidade, ela será tomada pelo lixo social. Creio que se pode reciclar o homem.
Antigamente, a criançada cantava nas escolas públicas e particulares... Com o encolhimento da verba para a educação, com a ausência de políticas públicas, com o recuo da proposta pedagógica pela mudança do foco de um número preocupante de escolas, com a desvalorização do professor, a sociedade tem motivos para chorar em todos níveis e graus. Chora-se em nível inferior e superior. Para falar a verdade, chorar também saiu de moda. As fábricas de lenço faliram, não por falta de motivo para lágrimas, não! Equívocos educacionais podem robotizar o ser humano.
Por onde começar? Por favor, quem tem esse poder corra e salve os currículos das faculdades de Pedagogia. Eles estão resmungando coisas do século XIX. Oxalá que os fazedores de proposta pedagógica acertem o passo e dancem de acordo com a música, de autoria da sociedade pós-moderna. Eles estão desafinados e correm sérios riscos de paralisia senil. Professores recém-formados estão confundindo tristeza com melancolia.
Por onde começar? Por favor, políticos, acordem do último porre a tempo de votar uma lei de respeito à verba que seria destinada à educação. Ao menor delírio, não cometam o benefício de cortar o próprio pescoço, mas, a exemplo dos faraós, mandem cortar o pescoço dos estudantes de sete anos para baixo e pra cima também. Analfabetos funcionais estão sendo empurrados para as sarjetas por carência de alfabetizadores para múltiplos analfabetismos.
Por onde começar? Por nós, que somos personagens do filme pornográfico político, proibido para maiores de 200 anos, já rasgado de tanto rodar a mesma coisa: mesmas promessas, mesmas caras, mesmos escândalos e... Mesma acomodação.
Publicado em 26/01/2010
Publicado em 26 de janeiro de 2010
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.