Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
Tecnologias para o ensino de deficientes visuais
Adriana Oliveira Bernardes
Doutoranda em Ciências Naturais (UENF)
São muitos os recursos utilizados hoje no ensino de deficientes visuais no Brasil; alguns velhos conhecidos do universo da deficiência visual e outros vinculados à introdução de tecnologias no ensino: reglete, punção, livro adaptado, livro falado e sistema Dosvox, entre outros.
Esses recursos, muito importantes para a inclusão de pessoas deficientes na sociedade, normalmente são utilizados em escolas de Educação Especial por professores com especialização na área, apesar de ser grande o número de professores tanto na Educação Especial quanto no Ensino Regular que desconhecem os meios para sua utilização.
Eles podem ser utilizados mesmo em turmas inclusivas que têm um professor que provavelmente não recebeu qualquer preparo para trabalhar com eles; o importante é que, uma vez em sala de aula regular, o aluno com deficiência seja considerado integrante da turma, devendo participar de todas as atividades presentes em classe escolhidas previamente para serem utilizadas tanto pelos alunos com deficiência quanto por aqueles sem deficiência.
Aqui discutiremos a utilização desses recursos e apresentaremos a base para o entendimento dos recursos elaborados neste trabalho.
RECURSOS DIDÁTICOS PARA O ENSINO DE DEFICIENTES VISUAIS
Reglete e punção
A reglete, um dos recursos utilizados por alunos com deficiência visual, tem como função o aprendizado da escrita Braille. Na Figura 1, temos uma reglete confeccionada em madeira.
O dispositivo utilizado por Louis Braille consistia numa prancha e uma régua com duas linhas com janelas correspondentes às celas braile. Essas janelas se encaixam na prancha pelas extremidades laterais.
Para escrever, o papel é introduzido entre a prancha e a régua. Para escrever, o deficiente visual pressionava o papel com o punção, obtendo assim os pontos em relevo.
As regletes de hoje em dia são uma variação do aparelho de Louis Braille, e ainda muito utilizadas pelas pessoas com deficiência visual. Elas apresentam modelos de mesa ou de bolso; consistem essencialmente de duas placas de metal ou plástico fixadas de modo a permitir a inserção de papel.
Figura 1 – Reglete, recurso utilizado por alunos portadores de deficiência visual.
Fonte: http:// www.pucminas.br/.../imagem_braile_escrita.jpg
O sorobã
Outro recurso utilizado no universo da deficiência visual é o sorobã ou ábaco, voltado para o ensino de Matemática. É um aparelho de cálculo de procedência japonesa, adaptado para o uso de deficientes visuais. Tem aceitação muito grande devido aos seguintes fatores:
- as contas são realizadas com grande rapidez;
- tem baixo custo
- possui grande durabilidade.
No Japão, mesmo hoje com a larga utilização de computadores, esse aparelho é utilizado pelas pessoas em suas casas, escolas e empresas.
Segundo Bruno (2001), “a utilização do consagrado aparelho – o ábaco – trouxe ao cego grande desenvoltura nos cálculos matemáticos, tendo se destacado alunos cegos pela forma brilhante, rápida e precisa do seu manuseio”.
O uso do sorobã para o ensino de Matemática para pessoas com deficiência visual vem sendo incentivado em muitos países. No Brasil, esse trabalho foi iniciado em 1949 por Joaquim Lima de Moraes.
Figura 2 – Sorobã, utilizado por deficientes visuais para aprendizagem da Matemática.
Fonte: http://www.planetaeducacao.com.br.
Máquina Braille
A máquina Braille é utilizada para transcrever textos para o Braille, podendo ser utilizadas por videntes que conheçam o método ou por pessoas com deficiência visual.
RECURSOS DIDÁTICOS TECNOLÓGICOS PARA DEFICIENTES VISUAIS
Livro didático adaptado
Existem no mercado vários recursos didáticos, porém a maioria utiliza recursos visuais, o que não atende às necessidades de pessoas que possuem esse tipo de deficiência; livros didáticos são exemplo disso.
Para as pessoas que apresentam visão reduzida, os livros didáticos devem possuir: quantidade dosada de exercícios em cada página, desenhos objetivos, tamanho ampliado das letras e contraste entre as cores. Logo, quando se escolhe um livro para esse público, estes critérios devem ser observados.
No caso em que existe deficiência visual, os livros utilizados devem estar transcritos em Braille; deve-se ter cuidado para que o conteúdo, uma vez transcrito, não seja modificado ou deturpado.
Livro falado
O livro falado é gravado em fitas cassete ou CDs. Esse recurso é muito utilizado no Brasil, tido como excelente recurso didático.
Segundo Bruno e Mota (2001b),
a utilização do livro falado, no primeiro grau, deve limitar-se, tanto quanto possível, à literatura ou aos didáticos de leitura complementar.
Tecnologias assistivas
São os recursos que contribuem parra proporcionar vida independente aos deficientes. O maior número de pesquisas existentes sobre esses recursos é realizado no exterior.
Borges (1996, p. 6) afirma que “uma pessoa cega pode ter algumas limitações, as quais poderão trazer obstáculos ao seu aproveitamento produtivo na sociedade”.
Com o desenvolvimento da Informática, nas últimas décadas abriram-se novas possibilidades para o processo de aprendizagem do aluno com deficiência.
Takahashi (2000, p. 45) afirma que
inclusão social pressupõe formação para a cidadania, o que significa que as tecnologias de informação e comunicação devem ser utilizadas também para a democratização dos processos sociais, para fomentar a transparência de políticas e ações de governo e para incentivar a mobilização dos cidadãos e sua participação ativa nas instâncias cabíveis.
Segundo Bruno (2001), “o grande avanço tecnológico verificado nos últimos anos vem proporcionando recursos valiosos ao processo de ensino-aprendizagem na educação de deficientes visuais, sobretudo com a utilização de equipamentos de informática”.
Hoje é possível, para uma pessoa com deficiência visual, navegar pela internet, usufruindo de vários recursos que ela oferece, como chats, jornais e revistas. Há sites que possuem versões para deficientes, como o www.amazon.com/access, uma adaptação da livraria virtual. O www.dicionariolibras.com.br é outro exemplo. Nele os deficientes auditivos, especialmente as crianças, podem aprender a linguagem de sinais, denominada Libras.
Um dos programas mais conhecidos para portadores de deficiências visuais é o Dosvox. Consiste de um sistema para computadores da linha PC que se comunica com o usuário através de síntese de voz; ele viabiliza o uso de computadores para o portador de necessidades visuais, que passa a ter independência no estudo e no trabalho.
O sistema Dosvox foi desenvolvido pelo Núcleo de Computação Eletrônica da UFRJ (NCE/UFRJ), situado no Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza. É destinado ao auxílio de deficientes visuais no uso do computador; o sistema conversa com o deficiente visual em português. Além de ampliar as telas para pessoas com visão reduzida, ele contém ainda programas para educação de crianças com deficiência visual e programas sonoros para acesso à internet.
Os deficientes visuais também participam como programadores na equipe de desenvolvimento. O site do NCE/UFRJ (http://caec.nce.ufrj.br/~dosvox) disponibiliza uma versão light do Dosvox para Windows.
O Dosvox Pro pode ser obtido pelo centro de distribuição do programa. Essa versão contém programas de uso profissional.
Entre as atividades que podem ser executadas pelo sistema estão:
- Edição de textos para impressão Braille;
- Leitura e audição de textos;
- Utilização de calculadora, agenda, entre outros instrumentos;
- Jogos.
A comunicação entre o usuário e o sistema é realizada através de um sintetizador de baixo custo. O sistema foi criado a partir do trabalho de um estudante de informática cego que desenvolveu o editor de textos do sistema.
O sucesso do projeto deve-se principalmente a:
- baixo custo do sistema;
- tecnologia simples de produção;
- sistema fala e escreve em português.
Segundo Bruno (2001),
hoje em dia, com o surgimento da informática, pouco a pouco a velha máquina de escrever está cedendo lugar para novos equipamentos, que estão melhorando consideravelmente a qualidade de vida da pessoa cega. É o caso do “n speaker”, do Braille falado, das impressoras Braille computadorizadas, dos computadores (laptops) munidos de avançados sintetizadores de voz (como o Dosvox e o Virtual Vision), dos scanners e outros.
Devemos considerar a importância desses recursos já que, segundo a (Convenção da Guatemala de 1999),
as pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitos humanos e liberdades fundamentais que outras pessoas; estes direitos, inclusive o direito de não ser submetidas à discriminação com base na deficiência, emanam da dignidade e da igualdade que são inerentes a todo ser humano.
RECURSOS TÁTEIS
Maquetes e objetos, além de poderem ser vistos, podem ser tocados e manipulados.
O tato é seguramente uma via receptora de informações diversas de tradução do ambiente externo para o interno; para desenvolver uma compreensão ótima do seu mundo, essas pessoas precisam do sentido do tato, algumas vezes dependendo exclusivamente dele (Martins et al, 2007).
RECURSOS DE ÁUDIO
Tanto os arquivos portáteis de áudio, quanto o livro falado elaborado para utilização junto a alunos com deficiência visual são chamados recursos instrucionais.
Segundo Libâneo (1994), recursos instrucionais são “os meios e/ou materiais que auxiliam o docente na organização e condução do processo de ensino e aprendizagem”. Nos últimos anos surgiram outros recursos; poderíamos citar: equipamentos de multimeios (veículos para comunicar uma ideia, questões, imagens, áudio, informação ou um conteúdo qualquer), textos, trabalhos experimentais, computador e recursos da localidade como: biblioteca, museu, indústria, modelos de objetos e situações.
Os recursos multimeios de áudio são chamados multimeios auditivos; podem ser: rádio, disco, cd, fita magnética, computador, entre outros recursos. Livros falados são multimeios auditivos utilizados como recurso didático para alunos portadores de deficiência visual. No Brasil, a maioria dos livros existentes é de literatura.
O TRABALHO DO CLUBE DE ASTRONOMIA MARCOS PONTES
Fundado na cidade de Itaocara-RJ em 2006, o Clube de Astronomia Marcos Pontes realiza, desde sua formação, vários projetos relacionados ao ensino e divulgação de Astronomia.
No ano de 2006 desenvolveu o projeto Astronomia para crianças: um universo de descobertas, que visava levar essa ciência ao 1º segmento do Ensino Fundamental. Em 2007, desenvolveu o projeto Astronomia, arte e mitologia no Ensino Fundamental, projeto também voltado ao ensino de Astronomia nas séries iniciais; objetivava utilizar a mitologia para estimular o interesse pela Astronomia. Em 2008 foram desenvolvidos vários projetos, entre eles: Vídeos educativos para o ensino de Astronomia, Recursos didáticos para o ensino de Astronomia para deficientes visuais e Jogos educativos para o ensino de Astronomia. A revista Educação Pública já publicou vários artigos sobre o CAMP.
Com o desenvolvimento do projeto Recursos didáticos para o ensino de Astronomia, foram elaborados livros falados com conteúdos desta ciência.
GRAVAÇÃO DO LIVRO FALADO
A gravação do livro falado se deu em parceria entre o clube, o Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza e a UENF (Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro), com a participação de alunos da UENF e do Colégio nas gravações.
O material foi aplicado em turma especial do Colégio Estadual Teotônio Brandão Vilela, também de Itaocara, e no Educandário para Cegos de Campos dos Goytacazes. Em breve o material será disponibilizado na Internet.
Figura 4 – Alunos do EJA (Ensino de Jovens e Adultos) participam da gravação do livro.
Figura 5 – Aluno de turma regular do Colégio Estadual Jaime Queiroz de Souza participa da gravação do livro falado.
Publicado em 17 de agosto de 2010.
Publicado em 17 de agosto de 2010
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.