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O e-mail como gênero textual em sala de aula
Wasley de Jesus Santos
Professor universitário, pós-graduado em Língua Portuguesa
Segundo Marcushi (2004), os gêneros textuais são os textos materializados encontrados em nosso cotidiano. Eles apresentam características sociocomunicativas definidas por seu estilo, função, composição, conteúdo e canal. Para a Linguística Textual, os gêneros textuais englobam estes e todos os textos produzidos por usuários de uma língua. Assim, ao lado da crônica e do conto, também identificamos a carta pessoal, a conversa telefônica, o e-mail e tantos outros exemplares de gêneros que circulam em nossa sociedade.
O e-mail, inclusive, tornou-se um gênero textual altamente utilizado a partir do século XX, precisamente em 1971, com o advento da era digital e do acesso ilimitado de muitas pessoas à rede mundial de computadores. Em princípio, é um sistema de transmissão rápida via internet em que os usuários se comunicam em questão de segundos. O correio eletrônico, ou seja, a página da internet é o suporte e o gênero textual é o e-mail.
Apesar de apresentar desvantagens, como necessidade de provedor de acesso e certa invasão de privacidade – pois esse gênero circula muito livremente pelo ambiente virtual, podendo ser enviado para o endereço errado, ser copiado e até mesmo alterado –, o e-mail também oferece vantagens que superam os previsíveis prejuízos. Dentre elas, a velocidade de transmissão de informações e a possibilidade de envio da mensagem (ao mesmo tempo) para diversos destinatários.
Pensando em uma sala de aula, na visão de um projeto coerente e coeso de ensino de língua materna através de gêneros textuais, o e-mail é uma excelente opção para o professor utilizar em sua práxis. Excelente porque esse gênero está a todo o momento à disposição da necessidade sociocomunicativa do aluno e pode ter também aparência muito semelhante à do bilhete ou da carta pessoal, gêneros estes já bastante recorrentes na escola.
Diante disso, é interessante que o professor compreenda o e-mail como gênero textual; ele tem a estrutura-padrão da carta: vocativo, texto, despedida e assinatura (podendo variar, a depender do grau de formalidade e/ou de quem seja o destinatário). A linguagem varia igualmente conforme a situação estabelecida entre os interlocutores. Seus parágrafos costumam ser curtos, para maior clareza na leitura do texto.
Portanto, ainda dentro desse projeto de ensino de língua materna, há que se pensar como esse gênero se presta ao ensino de língua, em que contribui e de que necessita para sua efetivação de uso em sala de aula.
Tendo em vista o trabalho pedagógico das aulas de linguagem com análise linguística (AL) dos mais variados gêneros textuais, o e-mail propicia um leque de pontos a serem analisados e discutidos pelos alunos e pelo professor. A avaliação dessas produções abandona os critérios quase exclusivamente literários ou puramente gramaticais e desloca seu foco para outro ponto: o bom texto não é aquele que apresenta (ou só apresenta) características literárias, mas aquele que é adequado à situação comunicacional para a qual foi produzido. Ou seja, se a escolha do gênero, a estrutura, o conteúdo, o estilo e o nível de língua estão adequados ao interlocutor e podem cumprir a finalidade do texto.
A aplicabilidade seria viável: apenas como sugestão de trabalho, o professor, ao tomar o e-mail como gênero textual nas aulas de língua, poderia solicitar aos alunos que escrevessem, por exemplo, um e-mail para uma autoridade da sua cidade, convidando-a para um dado evento da escola. Depois, que outro e-mail fosse elaborado para um amigo íntimo, informando-o de que tal dia não haverá aula e por qual motivo.
Ao avaliar a produção de texto do gênero e-mail, o professor atenta para que sejam observadas pelos alunos as diferenças básicas de cada e-mail-texto produzido, comparando a linguagem usada e as diferenças quanto ao conteúdo e à finalidade. Só muito depois, muito depois de que fossem discutidas, compreendidas e apreendidas as questões concernentes à funcionalidade desse gênero, o professor faria revisões e reescritas, quantas vezes precisar, para adequar a estrutura sintático-semântica das frases, os fatores de coerência, os mecanismos de coesão do texto, o vocabulário adotado etc.
O trabalho de AL, assim, ganharia mais espaço de maneira lógica e didática. As aulas de língua não seriam mais preenchidas com listas de verbos, muito menos com produções textuais desconexas à realidade de mundo do aluno. Seria, portanto, cumprir a bitransitividade do verbo dizer: ensinar o que dizer e como dizê-lo a alguém.
Referências
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004, p. 13-67.
PAIVA, Vera Lúcia Menezes de Oliveira e. E-mail: um novo gênero textual. In: MARCUSCHI, Luiz Antônio; XAVIER, Antônio Carlos (Org.). Hipertexto e gêneros digitais: novas formas de sentido. Rio de Janeiro: Lucerna, 2004, p. 68-90.
Publicado em 31 de agosto de 2010
Publicado em 31 de agosto de 2010
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