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Física desde a infância

Tatiana Serra

Ensinando Física

Será que já se foi o tempo em que o magistério era uma das grandes profissões a serem escolhidas? Ou será que o sucesso profissional depende de sorte, isto é, um misto de oportunidades e capacidade de cada um? Numa época em que o magistério é visto por muitos com discriminação, é ótimo conhecer casos de professores bem-sucedidos, e é dever de cidadão divulgá-los. Conheça a trajetória de Adriana Oliveira Bernardes, colaboradora da revista Educação Pública que desenvolveu ao longo dos seus quinze anos de profissão uma série de projetos que motivaram muitos alunos a seguir carreira na área de exatas.

Professora de Física da rede estadual do Rio de Janeiro (no Colégio Estadual Tuffy El Jaick), mestre e doutoranda em Ciências Naturais pela UENF e coordenadora do Clube de Astronomia Marcos Pontes, Adriana Bernardes foi um dos vinte profissionais brasileiros selecionados para participar de um curso na Escola de Física CERN 2010, em Genebra, na Suíça, que aconteceu no início de setembro.

O Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (CERN), um dos principais laboratórios de pesquisa em Física no mundo, mantém um programa de educação destinado a professores de diversos países da Europa. Por negociações de pesquisadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) com centros portugueses, foi feito um acordo para incluir brasileiros no programa.

Quem lembra da série televisiva Cosmos, apresentada por Carl Sagan nos anos 80, entende por que a professora Adriana escolheu ser uma profissional de Física. Se você não lembra ou não era nascido nessa época, saiba que Cosmos foi um livro transformado em série de televisão que marcou toda uma geração, popularizando a ciência ao levar os “mistérios” do espaço e da humanidade ao alcance de todos.

Antes de sua viagem, entrevistamos Adriana Bernardes:

Revista Educação Pública: Quando você escolheu seguir a área de “exatas”? Essa afinidade se manifestou desde a infância?

Adriana Bernardes: Sim. Sempre tive muito interesse pela área de ciências, especificamente Astronomia. Mas, como não era possível fazer esse curso, resolvi optar por Física. A série Cosmos, do Carl Sagan, me motivou para seguir essa carreira.

Revista Educação Pública: Fale um pouco sobre sua especialização. O que você mais gosta em seu trabalho?

Adriana Bernardes: Sou uma professora-pesquisadora. A minha prática diária me traz infinitas possibilidades para realização de pesquisas na área de educação, e o que eu mais gosto no meu trabalho é exatamente isso, a possibilidade de pesquisar o ensino de Física e poder contribuir, ainda que de forma microscópica, para que ele melhore. Sou também coordenadora do Clube de Astronomia Marcos Pontes e, nesse sentido, me dedico ao estudo e à divulgação da Astronomia, tendo como área de interesse a cosmologia.

Revista Educação Pública: Que projetos você destacaria em sua carreira? 

Adriana Bernardes: Eu destacaria para minha carreira de professora que pesquisa o ensino de Física o trabalho realizado com o tema Astronomia para deficientes visuais, que desenvolvi na UENF com a coordenação do professor Marcelo de Oliveira Souza; poucas pessoas no Brasil e no mundo estudam o assunto. A pesquisa foi iniciada em 2007; nossa colaboração sobre o assunto foi em relação a recursos didáticos para utilização em sala de aula regular por alunos com e sem deficiência visual; logo elaboramos materiais inclusivos. O trabalho prosseguirá e acredito que em breve tenhamos um observatório astronômico destinado a deficientes visuais em Campos dos Goytacazes.

Revista Educação Pública: Quais serão seus próximos passos?<

Adriana Bernardes: A minha ideia é concluir o doutorado e ter mais tempo para me dedicar às atividades desenvolvidas pelo Clube de Astronomia, que sempre desenvolveu suas atividades em parceria com escolas estaduais. Desejo, então, continuar desenvolvendo projetos junto às escolas. Para você ter uma ideia, de 2000 até 2010 desenvolvi junto a escolas públicas do Estado do Rio de Janeiro mais de 18 projetos voltados para a área científica; alguns deles foram apresentados na Fecti (Feira Estadual de Ciência Tecnologia e Inovação do Estado do Rio de Janeiro); muitos dos alunos envolvidos com esses projetos estão na área de Química, Física ou Matemática. Isto é muito gratificante!

Revista Educação Pública: Fale um pouco sobre a oportunidade de ser um dos 20 brasileiros selecionados para o programa de educação CERN 2010, na Suíça. Como será o programa e que experiências você pretende trazer de um dos principais laboratórios de pesquisa em física do mundo?

Adriana Bernardes: Fiquei muito satisfeita com a oportunidade e sei que muitos professores de física se inscreveram para participar. Iremos para a Suíça no dia 3 de setembro e voltaremos no dia 11; participaremos de um curso sobre Física de partículas destinado a professores de língua portuguesa. Acredito que esta será uma ótima oportunidade para troca de ideias e contatos.

Revista Educação Pública: Hoje em dia, vivemos uma espécie de ditadura do sucesso, em que determinadas profissões são tidas como as melhores escolhas. Com isso, formam-se profissionais que muitas vezes nem gostam do que fazem. Que conselhos você daria aos estudantes que se identificam com Física mas têm receio de seguir a profissão? Que áreas de atuação você recomendaria?

Adriana Bernardes: O curso de Física não é fácil de ser concluído; ele exige bastante do aluno; então, quem segue essa carreira tem que gostar muito de Física e se dedicar a seu estudo diariamente. Esse curso traz muitas possibilidades para o aluno, não só de trabalhar com ensino como também em diversas outras áreas, como a Física médica, a área de materiais ou até mesmo a Astronomia, entre outras. Mas, em qualquer delas, será exigido bastante do estudante. Então, em princípio é isto que se deve ter em mente quando se deseja cursar Física: pensar que irá suar a camisa.

Revista Educação Pública: Além de falar sobre sua área de atuação, você também está atenta ao comportamento do profissional de educação e do estudante, em seus estudos e textos publicados. Na sua opinião, um bom profissional é aquele que...

Adriana Bernardes: ...está sempre pesquisando sua área de atuação e tentando sempre fazer melhor o seu trabalho. Se esse bom profissional é um professor, terá ainda que ter entre outros atributos a abnegação, haja vista os salários que são pagos e que, muitas vezes, desmotiva grande quantitativo de pessoas. É bom lembrar que é fundamental, além disso, que ele tenha sido bem formado.

Adriana Bernardes já publicou estes textos na revista Educação Pública:

14/09/2010

Publicado em 14 de setembro de 2010

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