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Matar aula
Tatiana Serra
Reconquistando e controlando os alunos para que não haja faltas
Todos os dias, mesmo que já estejamos acostumados, as notícias de violência acabam por chamar atenção na mídia, como: “Homem mata mulher e três filhos”, “Mulher traída mata marido” etc. O ser humano parece ter atração por histórias de matar ou morrer. Porém, há casos em que “matar” recebe outra conotação e ainda assim vira caso de polícia.
Nos últimos tempos, vem crescendo o número de estudantes que “matam” aula e, muitas vezes, sem que os pais nem desconfiem disso. Para que esse índice diminua, escolas e autoridades vêm buscando alternativas. Em Fernandópolis (SP), por exemplo, a polícia decretou toque de recolher nas escolas públicas.
É isso mesmo: desde agosto deste ano, a polícia da cidade paulista, sob determinação da vara de infância e juventude, procura pelos alunos faltosos que estão, na maioria das vezes, nas lan houses ou sob uso de drogas. Os pais são advertidos e, se comprovada negligência, podem levar multas de até R$ 8 mil.
Segundo matéria publicada no Portal G1 no dia 17 de agosto de 2010, muitos pais aprovam a medida e acreditam que o desempenho dos alunos na sala de aula vai melhorar. Outros nem tanto e questionam a ação. Por exemplo, será que a polícia não vai abordar alunos que estejam usando uniforme fora do horário escolar?
Em entrevista ao G1, o sociólogo Luciano Alvarenga diz que essa é uma medida extrema. “O jovem, de um lado, não conta com uma unidade familiar que lhe dê formação, educação, limites e lhe imponha controles. Se não houver esse pacto pela escola, atitudes como essa que foi tomada em Fernandópolis serão ótimas intenções com resultados sempre muito pequenos”, afirma.
Em Londrina (PR), as faltas dos alunos também estão sendo tratadas com rigor. De acordo com o Jornal de Londrina de 19 de maio de 2010, foi criado um projeto que envolve pais, escola, conselho tutelar e Ministério Público, com o objetivo de manter crianças e adolescentes no colégio. Se comprovada a negligência dos pais, os filhos podem ser retirados da família e levados para um abrigo. Somente no segundo semestre do ano passado, 20 mil fichas de alunos faltosos foram preenchidas em todo o estado.
Diante de tais atitudes, são muitas as opiniões e, achando corretas ou não, exageradas ou não, o que parece comum a todas é a certeza de que já se ultrapassou o limite, de que algo tem que ser feito para reduzir o número de alunos faltosos nas escolas de todo o país.
Números de faltosos pelo país
O número total de alunos do 9º ano de escolas públicas que admitem ter matado aula é o dobro do das particulares. É o que afirma a PeNSE (Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar) 2009, do IBGE, divulgada no dia 27 de agosto de 2010. No total, 18,5% de todos eles faltaram às aulas sem autorização dos pais.
De acordo com matéria publicada pelo Portal de Educação UOL, do dia 31 de agosto de 2010, “20,7% dos estudantes da rede pública disseram que haviam matado aula, contra 10,1% dos alunos das escolas particulares. A cidade onde os alunos de públicas mais mataram aula foi Cuiabá (25%), seguida por Recife (24,9%) e Porto Alegre (24,2%). Dentre os da rede privada, as líderes do ranking são Palmas (18,2%), Boa Vista (15,9%) e Cuiabá (14,8%).
De acordo com o IBGE, a cidade onde os estudantes de instituições públicas de ensino menos disseram que haviam faltado aula sem autorização dos pais foi Rio Branco; entre as particulares, Porto Velho.
Quando se consideram todos os alunos, sejam eles de públicas ou particulares, Cuiabá continua na liderança dos faltosos, com 23,4%. Teresina é onde, no geral, os estudantes menos faltam sem autorização dos pais (12,4%).
O IBGE também perguntou aos estudantes se os pais sabiam o que eles estavam fazendo durante o tempo livre que tiveram nos 30 dias anteriores à pesquisa; 55,8% responderam que os pais sabiam – a maioria deles em Florianópolis 64,3%.
O que explica o desinteresse dos alunos?
São muitos os motivos para tantos faltosos. A falta de estrutura escolar, a falta de preparo e interesse dos educadores, a falta de base familiar, as dificuldades quanto ao transporte até a escola e a falta de diálogo no ambiente escolar e dentro de casa, entre outros.
Um dos motivos já identificados pelos profissionais de educação vem dos próprios pais. Há momentos em que os filhos não estão tão animados com a ida à escola e os pais só reforçam tal atitude. Quem nunca aumentou os sintomas de um simples mal-estar para não assistir à aula? Mas o problema é quando os pais embarcam na encenação dos filhos e vão permitindo uma falta aqui e outra ali. Além de ocasionar a perda da sequência dos estudos, cumplicidades como essa são um ensaio para a construção de jovens e adultos que fogem aos compromissos. E nós, adultos, sabemos que compromissos indesejáveis não faltam. Por isso, não dá para inventar uma doença para cada um deles, não é mesmo?
É bom ficar atento a qualquer resistência da criança ou do adolescente de ir à escola, porque normalmente os alunos gostam do ambiente escolar. Mesmo os faltosos costumam frequentar as escolas e, então, faltar às aulas. Afinal, faz parte da estratégia de enganar os pais chegar pelo menos até a porta da escola. Diante da falta de vontade dos filhos de ir até lá, os pais devem conversar com professores e coordenadores pedagógicos, além de falar (em primeiro lugar) com o próprio aluno, é claro.
Estudo + prazer = aluno conquistado
Você já deve ter ouvido dos seus pais ou conhece alguém que já ouviu: “sua única obrigação é estudar!”. Pois bem; muitas vezes, a maneira como uma palavra é empregada pode dar o tom de negatividade ou positividade à ação. A palavra obrigação associada a estudo dá um tom negativo ao ato de estudar e remete à escola como algo nada prazeroso. É como o peso que damos ao trabalho, quando falamos: “filho, não posso brincar com você agora, tenho que trabalhar”, com ar triste. Esse tipo de ação pode influenciar a criança a crescer associando trabalho a algo sacrificante.
Portanto, a união estudo + prazer é algo construído desde antes da escola. E, chegando ao ambiente escolar, como o profissional pode conquistar os alunos e fazer com que eles sintam prazer em frequentar as aulas em busca de conhecimento?
Várias podem ser as alternativas: jogos interativos, música, dança, brincadeiras, filmes, desenho animado, recursos tecnológicos (ex.: internet). Porém, o mais importante é entrar no universo das crianças e dos adolescentes, entender suas vontades e necessidades, enxergá-los como indivíduos e, aí sim, trazê-los para o universo escolar.
Não há aprendizagem sem vínculo
De acordo com o site Educar para crescer, os primeiros dias de aula estão entre os mais importantes de todo o ano letivo. Ao começarem as aulas, os alunos se deparam com nova série, nova sala, novos colegas, novo professor e, várias vezes, com nova escola. O professor, então, deve contribuir para que essas novidades sejam bem encaradas por eles. Se o vínculo não é criado nesse momento, reconquistar é possível, mas trata-se de uma tarefa bem mais difícil.
O trabalho de adaptação vale para todos os alunos, sejam eles crianças, adolescentes ou adultos. Além disso, encontros com os pais também são importantes e colaboram para fortalecer o vínculo entre professores e alunos. No mesmo site,você encontra dez dicas para ajudar na adaptação dos alunos.
O que leva os alunos a matar aulas? O que fazer para modificar isso? Participe!
Publicado em 14 de setembro de 2010
Publicado em 14 de setembro de 2010
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