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Brincando de ser gente grande: é possível aprender economia de um jeito lúdico

Tatiana Serra

Quase toda criança adora ganhar umas moedinhas e ver seu “porquinho” ficar cada vez mais cheio. Tem aquelas que vendem seus desenhos “abstratos” para a família toda e aquelas que cobram “pedágio” para que os próprios moradores da casa possam passar do quarto para o banheiro, da sala para a cozinha etc. “Interesseiras” todas elas? De jeito nenhum. Nossas crianças apenas copiam a vida como ela é. Para que se sintam integradas à família, elas costumam repetir detalhes do comportamento de quem está por perto. Afinal, em nossas conversas, atitudes e escolhas, que importância tem o dinheiro? Em muitos momentos de nosso cotidiano, certamente ele é o protagonista. As crianças estão atentas inclusive ao que nós não estamos. É bom lembrar disso.

Contudo, e até mesmo para que nossas crianças construam uma sociedade mais equilibrada, por que não aprender um pouco sobre economia desde pequeno? Há quem diga que nunca é cedo nem tarde demais para saber qual é a hora certa de gastar ou de poupar. E, se olharmos para trás, perceberemos que “ensaiamos” isso em vários momentos. Quem recebia “mesada” tinha que administrar o próprio dinheiro, e ai de quem deixasse acabar antes de terminar o mês. Muitos pais eram duros e não admitiam nem adiantamento. Até bem pouco tempo atrás, não havia educação financeira nas escolas, porém, além da “mesada”, os momentos de lazer tratavam de ensinar muito sobre as finanças. Dar troco, alugar, vender e comprar era o que mais se fazia em jogos como Banco Imobiliário. Quem acabava a partida com a maior quantidade de dinheiro era o grande vencedor, enquanto os outros ganhavam a experiência do saber perder – que, aliás, é um exercício fundamental para levar para toda a vida.

Na opinião de Altemir Carlos Farinhas, autor do livro Dinheiro? Pra que Dinheiro, “uma criança que aprende desde cedo a lidar com dinheiro provavelmente será um consumidor mais disciplinado, muito diferente do que temos hoje na sociedade” (entrevista ao site Paraná Online, em outubro de 2009). Com o objetivo de ensinar educação financeira para as crianças, o livro traz personagens como o professor Farinhas, que ensina a economizar, além de um personagem que gasta demais, outro que poupa e aquele que só investe no necessário. Segundo o escritor, a ideia é utilizar a obra como ferramenta pedagógica nas escolas, já que não há cultura de educação financeira no Brasil, principalmente voltada para crianças.

Hoje, muitos educadores acreditam que uma das funções da escola é ajudar o aluno a se tornar um consumidor mais consciente, um cidadão que saiba dar valor ao dinheiro e às boas oportunidades de investimento. Tanto é que estudantes de diferentes faixas etárias já têm a educação financeira como parte de seu currículo escolar. Pouco a pouco, eles vão se habituando a trabalhar com as finanças e até mesmo a gostar da tal Matemática, disciplina ainda tida como o “terror” para muitos estudantes. Mesmo quando não está “oficialmente” no currículo, o “brincar de finanças” se apresenta em jogos pedagógicos utilizados por professores em sala de aula. Seja da mais simples subtração à mais complexa equação, tudo pode ser mais bem compreendido se ensinado via brincadeira. E essas brincadeiras podem simular de tudo: o troco de uma compra, o pagamento de um aluguel atrasado e o cálculo dos juros de um empréstimo, por exemplo. É claro que com as crianças não é tratado o lado mais complexo da Matemática Financeira, e sim uma maneira lúdica de lidar com os números, a fim de levar aos poucos essa linguagem ao mundo dos pequenos.

Existem instituições de ensino que já despertaram há algum tempo para a importância de incluir a educação financeira no currículo escolar. Como publicou o caderno Zona Sul do jornal O Globo em outubro de 2010, o Colégio Padre Antônio Vieira, por exemplo, oferece a disciplina Matemática Financeira à turma do 1º ano do Ensino Médio há cinco anos. “No primeiro semestre, os jovens aprendem a comprar, a fazer financiamentos e a diferença entre juros reais e nominais. No segundo, as aulas são sobre investimentos, impostos e a carga tributária no Brasil”. Até sobre tributos? É isso mesmo, as escolas levam a sério o “brincar de ser gente grande”.

E é justamente no brincar, no momento lúdico, que a educação vem se reconstruindo. O que antes era tido apenas como um momento de lazer, uma brincadeira, hoje se encontra no campo do conhecimento, fazendo parte do processo de aprendizagem e com destaque em todos os níveis de ensino. Basta pensar que, se um brinquedo desperta a curiosidade e o interesse de um indivíduo, ele já cumpriu pelo menos dois dos aspectos que contribuem para o aprendizado: curiosidade e interesse. E não há limite para a utilização do lúdico como recurso pedagógico.

O momento lúdico é um “momento mágico” que pode despertar diferentes percepções em cada um. Mas como direcionar essas percepções no processo educativo? Cabe ao educador agregar outros valores ao momento da brincadeira, mostrando aos alunos outras possibilidades de pensar sobre esse momento. A partir da criação de jogos didático-pedagógicos, o educador aumenta as possibilidades de atividades em sala de aula e as chances de atingir mais e melhor os alunos. Então, seja brincando de ser gente grande ou não, o fundamental é que todos esses momentos tenham objetivo educativo, colaborando para a construção de jovens e crianças com senso crítico e compreensão da sociedade em que vivem.

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Publicado em 23 de outubro de 2010

Publicado em 05 de outubro de 2010

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