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Crítica de O trovador solitário, de Arthur Dapieve
Juliana Carvalho
Dizer que eu, pela geração a que pertenço, sou fã da Legião Urbana e do Renato Russo é quase um lugar-comum. Não conheço quase ninguém, de vinte e poucos a trinta e poucos anos, que não goste ou que não conheça alguma coisa da obra deles. E volta e meia volto a ouvir os CDs e até os discos de vinil da Legião que eu ainda tenho. Há uns dois anos, motivada pelas homenagens que lembravam os dez anos de falecimento do Renato, comprei a biografia Renato Russo, o trovador solitário, de Arthur Dapieve, colunista do jornal O Globo. Coloquei o livro na estante e ele lá permaneceu até o mês passado, quando decidi concretizar o desejo e começar a leitura. Que foi bem rápida, por sinal.
Como o próprio Dapieve anota, o livro não traz revelações bombásticas, fofocas, detalhes da vida pessoal do Renato; nada disso. É uma biografia que fala muito do lado profissional e artístico do Renato, de como surgiam suas canções, do relacionamento com os músicos, do que cobrava deles, do esmero que tinha com sua criação, da busca pela perfeição em cada álbum. Além disso, os capítulos iniciais apresentam com detalhes a turma de Brasília que deixou sua marca no rock nacional. O melhor de tudo é saber que, daquela turma de adolescentes, se originaram tantas bandas legais, cujas músicas embalaram o sonho das eleições diretas, de uma sociedade mais justa e igualitária que não vimos até agora... E pensar que o Renato não queria lançar a música Que país é esse por medo de que se tornasse obsoleta... Ele queria fazer músicas que pudessem ser cantadas por todas as gerações... Que país é esse continua muito atual, assim como Perfeição, Mais do mesmo, Baader Meinhof Blues e tantas outras que falam dos nossos problemas sociais, que parecem não ter solução.
O Trovador solitário, em seus capítulos finais, é também um livro que conta um pouco da agonia do Renato e da tristeza dos seus amigos em seus últimos momentos de vida. Ao terminar de ler, eu estava ainda mais sensível e louca para ouvir novamente todas as músicas, das quais agora sei curiosidades e cujas fontes de inspiração conheço um pouco mais.
Há muitas coisas pra pensar sobre esse livro. O fato de esses jovens de Brasília serem todos de classe média alta, falantes de no mínimo dois idiomas, com vivência no exterior, me faz pensar se teriam a mesma oportunidade em classes sociais diferentes. Mas concluo que o Renato estava acima disso. E, apesar da sua boa educação, da sua formação de burguês-padrão, havia algo de muito especial no interior desse nosso gênio que escola nenhuma poderia ensinar. Ele nasceu iluminado. E felizes são as crianças e os adolescentes da minha geração, que cresceram sob a boa influência da sua inspiração e da sua sensibilidade. Indico para todos que desejem saber mais sobre Brasília, sobre a juventude dos anos 1980 e sobre a cena musical do Brasil nesse período, em especial no que diz respeito ao rock Brasil.
Ficha técnica do livro:
- Título: Renato Russo - O trovador solitário
- Autor: Arthur Dapieve
- Gênero: Biografia
- Produção: Ediouro (RJ)
Publicado em 26/10/2010
Publicado em 26 de outubro de 2010
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