Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

Prometeu

Luiz Alberto Sanz

Diálogos Poéticos

Peço permissão a todos para dedicar o dia e este poema a André Luiz, meu filho mais velho, que não tem Internet, mas vai recebê-lo. É que no primeiro dia da primavera, o Touro (assim o chamava seu pediatra) fez 40 anos. E ele sabe muito bem o que isso significa.

Cada um de nós já teve ou vai ter tal experiência. É caminho nada fácil. Nossa história coletiva e pessoal é cheia de amigos que só o fizeram em nossa imaginação, que nos acompanharam nesse ponto de mutação. Eu, quando lá estive, acreditei piamente no ditado de que "a vida começa aos 40".

A de André Luiz Sanz certamente, como a dos filhos de todos nós (e, quem sabe, as nossas), tem sido um poema pedagógico (copio, sem pejo, o título de Makárenko), escrito no dia a dia e que o próprio haverá de contar para que aprendamos a aprender, nós que amamos ensinar.

Então, escolhi este protagonista, herói e arquétipo do mundo cultural indo-europeu que, para mim, tanto se parece ao educador  André, com quem tanto tenho aprendido. Os versos são de Goethe. Dispenso-me de apresentá-lo.

PROMETEU

Wolfgang Goethe

Encobre, ó Zeus!
o céu com suas nuvens.
E como o jovem
que gosta de colher
cardos no campo, em teu poder conserva
o robusto carvalho e o alto cume
da espaçosa montanha.
Mas consente que eu use
essa terra que é minha,
esse abrigo que eu fiz,
e esta forja que quando faço arder,
tu, no Olimpo, me invejas.

Nada mais pobre eu conheci, ó deuses, do que vós próprios.
Apenas vos nutris
de sacrifícios
e de preces,
dedicados a vossa majestade.
Morreríeis de fome se não fossem
as crianças, os loucos, os mendigos que vivem de ilusões.

Quando eu era menino
e nada conhecia,
ao sol se erguiam meus sentidos olhos
como se lá houvesse
ouvidos que escutassem meus lamentos,
e um coração tivesse igual ao meu
capaz de consolar a minha angústia.

E quem contra a insolência
da turba dos titãs me auxiliou?
Quem me salvou da morte
e me impediu a escravidão?
Não foste tu meu coração somente,
ardendo numa chama inextinguível?
Jovem e ingênuo eu tudo agradecia
àquele que no céu
dorme na ociosidade.

Como prestar-te honra? Mas por quê?
Deste jamais alívio
aos oprimidos?
Já enxugaste as lágrimas
dos que são infelizes?
Formei um homem,
mas um homem afinal que só se curva
perante o Tempo e o Fado
que são tão meus senhores como teus.

Pensaste tu talvez
que poderia desprezar a vida
e ao deserto fugir
porque nem todos
os meus sonhos floriram?

Aqui estou.
Homens faço segundo a minha imagem,
homens que serão logo iguais a mim.
Divertem-se e padecem,
gozam e choram,
mas não se renderão aos poderosos
como também eu nunca me rendi!

Publicado em 26 de outubro de 2010.

Publicado em 26 de outubro de 2010

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.