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O gosto pela ciência - Experimentar, aprender e, aí sim, gostar

Tatiana Serra

Se cada um de nós olhar para trás e lembrar das aulas de Ciências, certamente terá muito mais lembranças dos momentos em laboratório do que das aulas teóricas, em que, muitas vezes, o conteúdo parecia tão abstrato e difícil de ser absorvido. Sem dúvida, o visual associado ao aprendizado teórico é mais bem registrado e fixado na memória. Contudo, seja na teoria ou na prática, o mais importante é a competência do professor em saber passar a informação e estimular os alunos no processo de aprendizagem.

O estímulo aos jovens é cada vez mais um dos grandes desafios dos profissionais de educação. Mas como fazer da ciência um alvo de interesse para eles? É bom lembrar que hoje em dia podemos dizer que o educador ideal une conhecimento conceitual, pedagógico e tecnológico – aliás, esse foi o tema abordado na entrevista com Daniel Salvador e Roberta Rolando, publicada na última edição desta revista. E, especialmente no caso da ciência, a tecnologia pode colaborar, e muito, para aumentar o leque de possibilidades de aprendizagem em sala de aula e fora dela. De que forma o educador deve utilizar essa interação a seu favor? Como estimular a curiosidade e o interesse de um estudante que é motivado por recursos tecnológicos em quase todas as suas atividades do cotidiano? Até porque as muitas alternativas que um iPod oferece são perfeitamente capazes de desfocar a atenção de qualquer um.

Para tentar responder a essas questões, podemos destacar o artigo Henry Armstrong e o ensino por descoberta, de Arthur Galamba (na ocasião, doutorando em regime de cotutela entre a Escola de Educação da Universidade de Leeds, no Reino Unido, e o Departamento de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Nova de Lisboa, Portugal). Publicado pela revista A Física na escola (volume 10, nº 2, outubro de 2009), o artigo traz um pouco da história de um dos nomes mais importantes e influentes na trajetória do ensino de Física na Inglaterra e considerado o grande impulsionador do ensino por descoberta no começo do século XX. Em seu texto, Arthur destaca a importância de despertar nos alunos a iniciativa e a ação e de oferecer a eles a oportunidade de experimentar sem a interferência prévia de alguém que detenha as respostas prontas para ele.

Ciência na mídia

Pulando do século XX para os dias de hoje, o ensino por descoberta ainda faz muito sentido; podemos ter na internet e em suas múltiplas facetas a oferta de ótimas oportunidades de experimentos, além de despertar nos alunos a ação. Os blogs, por exemplo, são muito democráticos, atendendo a profissionais, a estudantes, enfim, a quem tiver interesse em participar desse canal de interação. É possível acessar o blog do autor de um livro que acabou de ler, conhecer um pouco mais sobre seu trabalho, postar uma mensagem e passar a se corresponder com ele.

Por falar em blog, os interessados em ciências já devem ter acessado o Ciência na mídia, uma das referências em divulgação científica na internet. Em 2008, a bióloga Tatiana Nahas resolveu abrir esse espaço para a divulgação e o debate da pesquisa científica, a veiculação da ciência e a educação em ciências a partir do que ela vê circulando na mídia. “Definições formais de mídia à parte, aqui o termo refere-se a jornais, revistas, sites, blogs, twitter, livros (didáticos ou de ficção), reuniões científicas, audiovisuais, programas de rádio, histórias em quadrinhos e o que mais for inventado para se comunicar e comunicar a ciência”, esclarece ela em seu blog.

Quando decidiu criar o Ciência na mídia, Tatiana achou que havia diversos blogs de divulgação científica, e poucos que olhavam a ciência na mídia. “Desses, grande parte do que encontrei – para não dizer todos – enfatizavam a ‘crítica destrutiva’. Assim, resolvi ter como meta em meu blog falar sobre ciência a partir de suas aparições na mídia, mas tomando apenas os bons exemplos. Tudo que pesco de interessante, original e/ou bem estruturado nas minhas leituras e navegações virtuais, audiovisuais & cia. se torna mote para um post. Pode ser um documentário, um artigo de revista, um telejornal, um livro, um blog, um filme, uma palestra, um outdoor... Também divulgo no blog alguns dos trabalhos que faço. Essa espécie de ‘portfólio virtual’ não tem o objetivo exclusivo de vitrine, mas sim de oferecer aos leitores alguns dos materiais e/ou ideias que elaboro e que podem ser usados por todos. A maior parte desse tipo de posts está reunida aqui”, complementa Tatiana.

Questionada sobre os fatores a que associa o sucesso do blog, ela diz que ainda há muito o que crescer em termos de leitores e também conquistá-los para que comentem os posts, discutam os temas. Mas acredita que uma das razões para os muitos acessos se refira ao fato de as pessoas que acompanham o blog perceberem que há um cuidado com o que é divulgado ali. “Gosto demais desse trabalho e é muito prazerosa a troca que há entre os blogueiros de ciência. É muito bom ter boas e divertidas fontes de informação sobre as mais diversas áreas da ciência. O conhecimento de materiais que podem ser usados em aula... Enfim, uma infinidade de trocas. Acho que o prazer que há em manter o blog é perceptível também para o leitor, que passa a acompanhar o trabalho do blogueiro e ‘torcer’ por novos posts”, declara a bióloga, que também destaca o fato de boas fontes fazerem referência ao blog em seus links, como a revista Ciência Hoje, a Casa da Ciência etc. Além disso, Tatiana é uma das administradoras da versão em português do Research Blogging, um site que agrega posts que versam sobre pesquisa revisada por pares. “Neste trabalho, acabo ficando em contato com diversos blogueiros de ciências, os quais eventualmente colocam links para o meu blog em seus blogs, e assim as ligações vão se fazendo”, afirma ela.

Voltando a falar sobre a interação entre o educador e seus alunos, Tatiana aposta em alguns pontos como fundamentais para um profissional de educação em geral, não só de ciências: relacionar os temas que ensina com o cotidiano do aluno; extravasar a paixão que tem pela sua área de estudo; propiciar o exercício de diferentes linguagens e formas de expressão durante o processo de ensino-aprendizagem, ou seja, “o aluno precisa ser estimulado a interpretar e a se expressar em diferentes formas de expressão (esquemas, gráficos, textos de diversos gêneros etc.). Outro ponto é o uso das chamadas linguagens midiáticas na sala de aula, seja as das consideradas mídias tradicionais – jornais, revistas e filmes –, seja as das chamadas novas mídias – como os blogs. Tudo isso faz parte do cotidiano do aluno, e ele precisa aprender a selecionar fontes de informação boas e confiáveis para determinado objetivo; precisa adquirir autonomia, aprender a aprender. Temos que ensiná-los a fazer isso. Os blogs são um caso nítido de preconceito por parte dos professores, que geralmente não os consideram confiáveis”, esclarece Tatiana, lembrando que ela mesma só criou o Ciência na mídia depois de perder o preconceito de relacionar blogs a ‘diários de menininhas’, na época.

Na sua opinião, o foco da educação não deve estar no conteúdo puro e simples, seja de qual área for, mas sim no desenvolvimento das habilidades de relacionar, interpretar, extrapolar, criar etc. E, especialmente quanto ao professor de Ciências, Tatiana acredita que o diferencial seja “desenvolver um trabalho que envolva o conhecimento da história da ciência e a prática do método científico. Para de fato compreender a ciência, o aluno deve também entendê-la como uma construção social e como um processo guiado por um método específico. Nesse contexto, deve perceber que a controvérsia faz parte do processo de construção do conhecimento científico e que ideias e teorias são resultado disso”.

Tatiana dá um exemplo de troca de informação entre professor e aluno através do blog (veja o link). “Nele relato uma situação de sala de aula que me levou a buscar uma informação interessante. A partir disso, tomei conhecimento de um trabalho muito bacana que mistura um pouco de arte com ciência, um trabalho que já valeria um post típico do meu blog. Mas como isso veio a partir de uma questão de sala de aula, os dois elementos foram combinados e eu abri para os leitores a dúvida de um aluno – que era minha também. Recebi, então, comentários de alguns professores que se dispuseram a refletir sobre a questão, me ajudando a encontrar uma boa resposta para oferecer ao aluno e para nós mesmos. Foi uma troca bem gostosa! E um bom exemplo de como os blogs podem auxiliar nesse contato”. Prova de que não há nada mais construtivo do que estar aberto a uma nova informação, seja ela vinda de um profissional, de um estudante, de um experimento, de um blog, seja lá que roupagem essa novidade tenha.

Espaço da Ciência

O acesso à Ciência e o seu estudo podem transformar o indivíduo. Em muitos casos, esse acesso pode inclusive colaborar para a inclusão social do cidadão. Na opinião de Vera Cascon, coordenadora geral do programa Espaço da Ciência, da Fundação Cecierj, “todo acesso ao estudo e à informação, em qualquer área do conhecimento, possibilita a inclusão social e o exercício da cidadania plena. A educação científica contribui para que o indivíduo obtenha conhecimentos que o permitam entender, opinar e atuar em áreas e iniciativas que afetam e modificam sua vida em sociedade, como o meio ambiente e o contexto socioeconômico”.

O Espaço da Ciência está vinculado à Vice-Presidência de Divulgação Científica da fundação; foi criado em 1999, com a implantação do Espaço da Ciência de Campos dos Goytacazes, que funcionou até 2003. Em 2002, foram inaugurados o Espaço da Ciência de Três Rios e o de Paracambi. No final de 2006, foi inaugurado o Espaço da Ciência Maria de Lourdes Coelho Anunciação, de São João da Barra. Esses três espaços estão em pleno funcionamento, instalados em prédios próprios; outros poderão ser abertos, dependendo do estabelecimento de parcerias com prefeituras de outras cidades.

Considerado um exemplo de que é possível levar alternativas de aprendizagem aos alunos, esse programa é um misto de museu e centro de ciências e, através de parcerias com as prefeituras, apresenta exposições com equipamentos interativos. “Todos os Espaços têm equipamentos (como bicicleta geradora de energia, anel saltador) que exploram conceitos e fenômenos em ciências, permitindo que os visitantes estabeleçam correlações com os fenômenos observados e vivenciados em seu cotidiano, jogos de lógica/matemática e um setor de microscopia. Além disso, o Espaço da Ciência Maria de Lourdes Coelho Anunciação tem seis aquários de água doce e um oceanário”, esclarece Vera, destacando que, além da exposição permanente, os espaços oferecem exposições temporárias e atividades como exibição de vídeos científicos (através do programa Ver Ciência – Circuito CECIERJ), palestras, minicursos e oficinas.

O projeto Espaço da Ciência – Ciência e Tecnologia para a População no Interior do Estado do Rio de Janeiro, coordenado por Vera Cascon, foi um dos aprovados no edital do programa Difusão e Popularização da Ciência e Tecnologia,da Faperj. O principal objetivo desse projeto é promover a difusão e a popularização da ciência e tecnologia no Estado do Rio de Janeiro.

Publicado em 3 de novembro de 2010

Publicado em 03 de novembro de 2010

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