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Eu, Tamanduá-Mirim
Alexandre Amorim
Sou um tamanduá-mirim. Não sei se vocês ligam o nome à pessoa, ou, neste caso, o nome ao tamanduá. Se não, por favor, busquem no Google. Não estou aqui para perder meu tempo ensinando a vocês que um tamanduá-mirim não é exatamente como um tamanduá, principalmente como um tamanduá-bandeira, com aquele seu exuberante traseiro. Sou mirim, não tenho nada de exuberante, mas tenho meu predicados.
Um deles é que sei me defender muito bem. Não é porque não chego a ser grande (mirim, entenderam? Sou mirim!) que não sei me defender. Posso ficar de pé e abraçar um cachorro ou qualquer predador, cravando minhas garras. Quem passa por mim de pé, em posição de abraço, acha logo bonitinho. “Que gracinha, esse bichinho quer dar um abraço”. Ele que venha ganhar um abraço do bichinho aqui. Vai levar umas unhadas boas e sair da floresta direto pro hospital.
Ah, sim. Moro na floresta, como já era de se esperar. Vivo de insetos, o que para muitos é meio nojento. Mas isso não é relevante. Importa, mesmo, é que vivo em áreas que vocês, humanos, chamam de preservadas. Preservadas porque vocês ainda não destruíram, não é mesmo? Porque, eu vou te contar, vocês me tiram do sério com essa história de preservação e ecologia. Ao invés de me acharem bonitinho, não dá pra considerar que eu preciso do meu canto pra viver e que estou pouco me lixando se vocês têm problemas de espaço? Ficam aí, espaçosos, folgados, construindo a torto e a direito e acabando com qualquer chance de viver harmoniosamente comigo, por exemplo. E aí começam a se preocupar, a ficar amiguinhos da floresta, a querer preservar o verde... Aí me perguntam por que eu estou de mau humor. Oras, por quê? Por sua causa, camaradas! Já queimaram metade das árvores, já exterminaram familiares e amigos meus, agora vêm querer ser amiguinhos, fazer aliança política comigo e com o urso panda. Eu nem sei quem é esse tal de urso panda!
Eu repito: sou mirim. Parece que tenho complexo com isso, de tanto eu repetir, mas não. Só quero enfatizar o fato de que não preciso de muito espaço pra viver. Mas vocês, com seu um metro e setenta de altura, em média, tomam tudo que é canto. Tem uma florestinha aqui? Vocês vêm e fundam um vilarejo, que vira cidade, que daqui a pouco vira polo industrial ou acaba ficando no fundo de uma represa, que vocês fazem pra alimentar outras cidades. Tá bom, eu entendo que vocês têm o polegar opositor e um cérebro considerável, o que deixa vocês em condição de se considerarem sapiens e de dominarem esse vasto mundo. Mas vou te contar, se é pra dominar o mundo, faz direito. Ou vocês acreditam mesmo que vão achar outro lugar depois que deixarem este planeta aqui no bagaço?
Sinceramente, essa preocupação ecológica de vocês é balela. Só se preocupam porque estão vendo que essa moleza vai acabar. Que não vai ter mais laranjinha fresca, ursinho panda carinhoso, tamanduá bonitinho e coelhinho peludo. Vão se ferrar!
Bom, desculpem o desabafo. Vocês me pegaram num mau dia. Um abraço. Quer dizer, lembranças à família.
Para saber mais sobre mim:
http://www.cpap.embrapa.br/fauna/tamirim.html
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tamanduá-mirim
http://www.zoologico.sp.gov.br/mamiferos/tamanduamirim.htm
Publicado em 09/11/2010
Publicado em 09 de novembro de 2010
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