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Os meandros e a influência do cinema pós-moderno

Nayana M. Moraes

Professora, licenciada em Português-Literatura

Introdução

Este artigo discute a influência do cinema pós-moderno sobre o espectador, que a cada dia torna-se aficionado por novas estrelas e personagens dessa indústria. O que ocorre nesse cinema é que os filmes lançam tendências e chavões para a cultura de massa. O cinema norte-americano, conhecido por seus altos investimentos e efeitos especiais recorrentes, torna-se o grande foco da discussão. Entretanto, o cinema brasileiro não fica de fora, com a nova onda de Tropa de Elite. Novos heróis estão evidenciados, bem como novos arquétipos da civilização pós-moderna, em que o cinema se preocupa com as bilheterias e a valorização das estrelas e dos filmes de ação.

O cinema norte-americano sem dúvida revela os ditames da sociedade norte-americana. Os filmes evidenciam o caráter nacionalista daquele país, como Independence Day (1996), em que o país está prestes a ser dominado por forças alienígenas, ou em O dia depois de amanhã (2004), em que o mundo sofre sérias e catastróficas alterações climáticas. Em ambos, surge o herói norte-americano salvando a humanidade dos abalos proeminentes, o que demonstra certa arrogância, já que são eles que muitas vezes interferem nas questões políticas, sociais e até climáticas.

São vários os filmes que podem ser citados nesse sentido, com a sempre presente figura do presidente dos EUA como o sábio, aquele que vai ditar os caminhos para a salvação da humanidade. Aliás, até nas comédias eles desempenham papel de jovialidade e honestidade. Em Meu querido presidente (1995), com Michael Douglas no papel-título, o presidente é interpretado como uma pessoa de família, que busca sempre o melhor para o mundo. Os valores da sociedade norte-americana estão em voga no cinema hollywoodiano, na tentativa de influenciar os povos emergentes, tentando mostrar que são os grandes exemplos para a sociedade mundial. “O indivíduo das sociedades hipermodernas passa a olhar o mundo como se fosse cinema, este constituindo as lentes inconscientes pelas quais ele vê a realidade onde vive. O cinema tornou-se formador de um olhar global dirigido às esferas mais diversas da vida contemporânea” (Lipovetsky; Serroy, 2009, p. 29).

Beleza americana (1999) demonstra o caráter de uma família torturada pela mesmice em que se encontra e como seus membros se saem diante de situações como a traição, o sexo e as drogas. O filme foi o vencedor do Oscar, que premia os melhores do cinema norte-americano (e não mundial, como querem alguns). Alguns desses longas demonstram como os norte-americanos se saem diante dos problemas da vida e como podem alterá-los. O fato é que Hollywood incute muitos valores sobre a cultura pós-moderna: a forma com que se vestem e se expressam. Vimos o antigo astro James Dean lançar a moda da calça jeans e jaqueta de couro; Marilyn Monroe mostrar o poder de sedução das loiras. Atualmente vemos a saga Crepúsculo e Harry Potter norteando os jovens com seu estilo gótico.

Criam-se ídolos teen, tornando os atores grandes ferramentas de sucesso e mercado. Fãs gritam histericamente por seus ídolos, querem fazer parte de suas vidas, querem tocar, cheirar e sentir. Os astros, por outro lado, influenciam erroneamente seus fãs, ao envolver-se com bebidas e drogas. O caso mais recente é de Lindsay Lohan, que perdeu completamente os limites de sua vida. Os atores norte-americanos são muito ricos; ganham milhões a cada filme, pois sabem da sua importância para o mercado e para as bilheterias.

Daí toda uma série de filmes que visam explicitamente esse alvo, a começar pelo gênero prolífico dos teen movies. Daí também um estilo “jovem”, “violento”, marcado pelo grande espetáculo, pelos efeitos especiais, pela cultura clipe, pela escalada da violência num ritmo alucinante, com mais ação que introspecção.
(Lipovetsky; Serroy, 2009, p. 66)

Os filmes de ação são produzidos com frequência, pois acarretam sucesso de público, o que leva à sua continuidade. Matrix (1999), A identidade Bourne (2002), Piratas do Caribe (2006) são alguns exemplos dos longas-metragens que fizeram enorme sucesso na indústria. O gênero drama, porém, perdeu-se em meio às fruições imagéticas do cinema pós-moderno e a necessidade do espectador por obter novidades. Esse gênero é pouco visto pelo grande público, sendo valorizado apenas nos festivais e prêmios de cinema. As pessoas querem os efeitos especiais.

Um exemplo mais recente de sucesso é Avatar (2009), que bateu o recorde de bilheteria mundial, tornando-se o filme mais visto da história. Mas o que de tão importante ele tem a acrescentar à civilização? Esses meandros pós-modernos denotam os interesses da civilização de massa, envolta por tecnologias em ritmo acelerado e a valorização da imagem. O texto perde seu espaço em meio aos jogos imagéticos alucinantes. “Mas esse é um mundo cujos sinais mais claros tendem a ser tecnológicos, ainda que suas exigências e reivindicações sejam subjetivas e envolvam a obrigação de produzir pessoas novas, formas totalmente novas de subjetividade” (Jameson, 2006, p. 379). O cinema valoriza o poder da imagem. Os atores, participantes do jogo, são os estereótipos do conceito de beleza pós-modernos. E o público quer fazer parte do mundo criado pela sétima arte. Entretanto, não é somente o cinema norte-americano que dita os novos heróis e novos valores. O cinema brasileiro está em ascendência.

A elite do cinema brasileiro

Um grande representante de sucesso do cinema brasileiro atualmente é Tropa de Elite. Revelando a violência dos policiais cariocas, o Bope em meio às favelas cariocas, o filme usa e abusa dos palavrões e de cenas fortes. Um dos motivos de seu enorme sucesso está nas imagens criadas pelo diretor, que sabe como elas são importantes para conquistar o público. Nota-se, entretanto, que esse mesmo longa foi influenciado pelo estrondoso sucesso de Cidade de Deus (2002), que utiliza como cenário a favela carioca Cidade de Deus e o tráfico de drogas. Os produtores nacionais perceberam que as pessoas estão cada vez mais interessadas pela violência e por discussões que giram em torno dela.

Não é incerto que novos filmes que revelam a violência brasileira sejam criados, pois encontraram um lugar ao sol para o sucesso. Assim como o cinema norte-americano, os filmes nacionais atualmente têm sua continuidade. O exemplo mais claro é Tropa de Elite 2, mais uma vez recorde de bilheteria do cinema nacional. Mas qual é o limite de revelação da realidade por parte desses filmes? Eles pretendem discutir a realidade ou buscam as bilheterias? O cinema brasileiro é visto com admiração pelos demais países, e alguns diretores alcançaram a carreira internacional, como Walter Salles e Fernando Meirelles.
A sétima arte brasileira hoje não tem medo de mostrar ao mundo a realidade em que se encontra o país. Mas é evidente que ele também influencia o aspecto como a sociedade enxerga a situação apresentada na tela. Após o sucesso do primeiro Tropa de Elite, a imprensa passou a discutir as formas de trabalho do Bope em diversas matérias de jornal. Chavões como “pede pra sair” tornaram-se usados por grande parte da população, o que evidencia também o cinema brasileiro como influenciador de comportamento.
Apesar do forte crescimento da televisão, o cinema ainda é um alicerce para a construção de valores para a cultura pós-moderna. As pessoas são aguçadas pelos sons, pelos signos visuais, pela moda. O cinema nacional adquiriu sua independência, abandonando o estranhamento por parte do espectador para levá-lo às salas de cinema. Se eu fosse você (2006), Central do Brasil (1998), Cazuza (2004), Dois filhos de Francisco (2006), Ônibus 174 (2002), além dos já citados, são alguns dos filmes que alavancaram o cinema brasileiro.

Considerações finais

Muito é discutido atualmente se a televisão pode apoderar-se do papel desempenhado pelo cinema, por ter tornado-se o grande meio de comunicação. Entretanto, a primeira, aprendeu a conviver com a internet, que oferece infinitas possibilidades. O mundo pós-moderno e sua cultura passam por processos acelerados de informação. O cinema agora está em 3D, em tela digital, fazendo com que o público sinta-se parte integrante do filme.

Visualmente o cinema atingiu o auge, com efeitos que a cada dia parecem mais reais. Os seus produtores e diretores gastam milhões para satisfazer os desejos do espectador e influenciá-lo. As estrelas também enriquecem com esse processo, pois são os olhos e a imagem do filme: são sua representação. Nesse processo, o cinema brasileiro também não fica de fora. Os responsáveis pelo filme procuram atores que conquistem o público, como Wagner Moura, na pele do Capitão Nascimento. Ele não era um simples desconhecido, mas sim um galã global, sucesso nas telenovelas. O carisma é fundamental.
O cinema ainda é a grande arma da cultura pós-moderna. E, como reflexo disso, os espectadores tentam imitar suas tendências, seus chavões e as formas com que seus personagens encararam a vida.

Referências bibliográficas

BUTCHER, Pedro. Cinema brasileiro hoje. São Paulo: Publifolha, 2005 (Folha Explica).

JAMESON, Fredric. Pós-modernismo. São Paulo: Ática, 2006.

LIPOVETSKY, Gilles; SERROY, Jean. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Porto Alegre: Sulina, 2009.

Publicado em 09/11/2010

Publicado em 09 de novembro de 2010

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