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Quem deve cobrar a realização dos deveres de casa? Os pais ou os professores?
Alexandre Amorim
Se o dever de casa é um prolongamento da atividade escolar, ele afeta também a vida doméstica do aluno e, por extensão, de seus pais. Pelo menos em teoria, já que o acompanhamento do desenvolvimento de um filho é, teoricamente, responsabilidade de quem o cria, e a educação escolar faz parte desse desenvolvimento. A cobrança de realizar a tarefa escolar, no entanto, deve ser feita em casa ou em sala de aula?
O professor entrega ao aluno a responsabilidade de realizar um trabalho em casa, que vai tomar tempo e exige concentração desse aluno fora do ambiente escolar. Como convencer a criança ou o adolescente de que aquele “dever de casa” faz parte de seu aprendizado e é tão importante quanto prestar atenção às aulas? Essa questão nem sempre passa pela cabeça de educadores ou de pais e acaba ofuscada pela questão de quem deve cobrá-la. Ou seja, discute-se quem deve acompanhar a vida escolar da criança/adolescente sem levar em conta o porquê desse acompanhamento.
Antes de tudo, o senso comum de que a tarefa de casa é maçante deve-se aos dois lados da questão: o professor muitas vezes não leva em consideração a necessidade de demonstrar a importância dessa atividade, seja de modo lúdico ou didático, e os pais ignoram e muitas vezes até fazem pouco do que seria uma demonstração de responsabilidade do aluno.
Até alcançar um nível de maturidade que estabeleça suas responsabilidades como realmente suas, o aluno passa por um processo de experimentação das relações sociais em que deveres e direitos são julgados por ele, até que sejam definidos como verdadeiros ou não em sua visão subjetiva do que o rodeia. É essa visão que vai determinar o modo como o aluno responderá a suas demandas. Se a tarefa escolar a ser realizada em casa é desprezada em seu ambiente doméstico, dificilmente essa parte de sua formação acadêmica será vista como relevante. O professor é um agente por demais externo ao lar do aluno para que sua influência possa derrubar uma atitude desdenhosa das figuras paterna e materna. E mesmo que o professor consiga transpor essa barreira e se faça presente na vida extraescolar do aluno (ainda que como exemplo e não fisicamente), a criança em formação ainda necessita do exemplo reforçador dos pais.
Tânia Resende, em seu texto Dever de casa: questões em torno de um consenso (UFMG, s.d.), afirma que “se a intensificação das relações entre família e escola não se dá sem contradições e tensões, as questões relativas ao dever de casa parecem ocupar um lugar importante como foco de dificuldades”. Além do estranhamento natural entre partes que raramente se encontram para debater o assunto foco de suas preocupações, que vem a ser o aluno/filho, professor e pais parecem se colocar invariavelmente em campos opostos nessa questão: a responsabilidade de ensinar não parece ser compartilhada – ao contrário, enquanto os pais se esquivam do dever de praticar o ensino letivo, professores reclamam de não poder lidar com a educação daqueles alunos sozinhos.
Embora a conclusão de Tânia Resende seja otimista, a questão sobre participação nos trabalhos de casa das crianças ainda fomenta discussões acadêmicas e pedagógicas. Até que ponto os pais devem se intrometer nas tarefas dos filhos é uma delas. Há um fio tênue entre ajudar e resolver os deveres de casa do filho. Seja por comodidade, falta de paciência ou mesmo inexperiência pedagógica, nem sempre os pais estão preparados para ajudar os filhos em seus afazeres. O que não impede que esses mesmos pais acompanhem as tarefas de seus filhos.
A solução parece ser uma conjugação de responsabilidades, em que professores saibam passar aos alunos a importância de levar para casa uma continuidade do ambiente escolar ao mesmo tempo que os pais saibam socializar no ambiente familiar as obrigações com que o filho começa a lidar. Como conjugar responsabilidades pressupõe se relacionar; pais e professores precisam ter laços mais estreitos, o que nos leva ao que talvez seja a maior questão: pais e professores podem e desejam modificar o estado das coisas como estão, a fim de oferecer melhor qualidade pedagógica aos filhos/alunos? Como se vê, uma questão leva a outra. Cabe a nós tentar responder.
Publicado em 9 de março de 2010.
Publicado em 09 de março de 2010
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