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Mudanças, confetes e serpentinas
Alexandre Amorim
Eu resolvi fazer minha mudança em um sábado de Carnaval. Não foi uma manifestação de revolta contra o reinado de Momo, nem um grito histérico contra o caos generalizado em que se transforma o Rio de Janeiro nesse período entre final de fevereiro e início de março. Sou fundador do bloco Atire o Primeiro Confete, que desfilava no sábado anterior ao período momesco pelas ladeiras do Humaitá. Se você nunca ouviu falar, provavelmente é porque pouquíssimas pessoas tinham coragem de subir e descer as ladeiras sambando e cantando, e o nosso bloco de oito foliões durou apenas dois anos. Pífio, mas animado como manda o estatuto do carnaval – se é que existe algum.
O que com certeza não existe é alguém que não me ache maluco e/ou chato de galochas porque, ao invés de sair vestido de clóvis pelos blocos da Zona Norte ou de fazer xixi nas praias da Zona Sul enquanto a Banda de Ipanema desfila seus versos cantados, eu decidi contratar um caminhão-baú e levar meu sofá, cadeira de balanço, fogão, geladeira, televisão, livros, discos e muito mais para minha nova residência. Isso no sábado, porque no domingo, segunda e terça-feira gorda, vou furar paredes, aparafusar estantes, pendurar quadros, arrumar papéis, instalar máquina de lavar e ar-condicionado, colocar os ganchos da rede e – aí, sim, na quarta-feira de cinzas – deitar nela, para botar a leitura em dia.
Pois é. Resolvi que o carnaval deste ano vai ser longe da folia. Quer dizer, vai ser no meio da folia, já que vou continuar morando na Cidade Maravilhosa, mas ela vai me passar desapercebida. Se eu fosse de alguma seita mais esotérica ou estivesse me candidatando a mestre espiritual, seria uma prova de fogo: ficar afastado do samba, suor e cerveja que acontecem à minha volta.
Mas, não. Sou só um cidadão que, neste ano, decidiu deixar de festejar com sua cidade a maior festa que nela acontece e aproveitar o tempo livre para cuidar de uns assuntos pessoais. Porque já era hora de me mudar, de construir um novo lar e descobrir que às vezes é bom cair no samba, mas às vezes o bom mesmo é cair na própria cama.
Aos amigos que não se conformam, só posso prometer uma coisa: ano que vem, podem me encontrar debaixo do sovaco do Cristo, cheio de simpatia (quase amor) ou escravo do samba, na praça Mauá. Evoé, Momo!
Publicado em 15/03/2011
Publicado em 15 de março de 2011
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