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Sala ambiente (permanência dos professores em sala de aula e o rodízio dos alunos): uma alternativa que pode dar certo

Mariana Cruz, Pedro Zille T. Nasser e Iacy Nunes

Quem trabalha com educação sabe que o ofício exige empenho constante por parte de todos os integrantes da comunidade escolar. Cabe aos professores, alunos, direção e funcionários pensarem coletivamente para fazer da escola um ambiente cada vez mais agradável a todos; sendo assim, a sala de aula deve ser entendida como um lugar que deve propiciar o aprendizado. Por vezes são testadas estratégias que visam tais melhorias. Algumas experiências dão certo, outras nem tanto, mas tudo se justifica quando pensamos a Educação como um processo contínuo de construção/adaptação, cujo foco principal esteja centrado na melhoria da qualidade do ensino para todos (alunos, professores, coordenadores etc.).

Dia desses houve uma troca de e-mails entre alguns professores de um colégio estadual de Ensino Médio do Rio de Janeiro que defendiam o sistema de rodízio de alunos, em que, em vez de os professores mudarem de uma sala de aula para outra, quem muda são os alunos. Tal assunto já foi tema do fórum Discutindo da revista Educação Pública em 2009, mas a discussão continua. A seguir apresentamos o relato de alguns dos professores favoráveis ao rodízio dos alunos, bem como os motivos que justificam sua implementação.

Pedro Zille, professor de física da rede pública do Estado do Rio de Janeiro, conta um pouco de sua experiência.

“Há aproximadamente dois anos (2009), no colégio estadual onde leciono, com a chegada dos computadores do projeto Conexão Educação, houve uma reunião de equipe (professores, coordenação e direção) para decidirmos o que fazer com relação à segurança e à preservação dos equipamentos que seriam instalados nas salas de aula. Nessa reunião decidiu-se que, como uma provável solução para evitar vandalismo e furtos, os professores permaneceriam em sala de aula e os alunos deveriam fazer o rodízio, a exemplo do que já acontece em outras escolas de Ensino Médio do Estado do Rio de Janeiro.

Após algumas semanas de implantação do sistema de rodízio dos alunos, constatou-se redução na quantidade de lixo e pichações nas salas de aula, o que era de se esperar, afinal de contas sempre haveria um professor em sala e quando ele não estivesse presente as salas estariam trancadas.

Um dos problemas levantados durante a reunião foi de que ficaria uma ‘baderna’ nos corredores com a quantidade de alunos transitando; no entanto, com o tempo, percebemos justamente o contrário: os alunos se mostraram organizados e animados com a novidade, o que, a meu ver, criou senso de responsabilidade. Mas isso exigiu certo grau de organização da equipe pedagógica, em parceria com os inspetores de corredor.

Como construir com os alunos senso de responsabilidade? Talvez atribuir responsabilidade seja a melhor forma de ensinar a tê-la.

Como pudemos perceber, outras vantagens foram ressaltadas com a utilização do rodízio dos alunos; no entanto, a motivação inicial para adotar esse sistema não obteve tanto sucesso, pois tivemos problemas com furtos e vandalismos nos computadores, tendo em vista que muitas das salas permaneciam abertas, mesmo sem a presença dos professores. Entretanto obtivemos sucesso na solução de tais problemas quando nosso técnico de informática – que conseguiu colocar algumas máquinas para operar – teve a preocupação de passar de sala em sala conscientizando/educando nossos alunos com relação à importância de ter aquele equipamento em bom estado dentro da sala de aula.

Todos ou quase todos que me conhecem ou pelo menos já me viram pelos corredores do colégio sabem que sempre estou carregado de materiais; logo, fica inviável montar, desmontar e remontar todo o meu material em cada turma em que dou aula. Por esse e pelos motivos já citados, sou a favor do rodízio dos alunos; assim, cada professor pode fazer de sua sala uma sala ambiente, com todos os materiais e recursos que serão utilizados durante um mesmo dia, acarretando economia de tempo de preparo das salas para as aulas. Além disso, andei conversando com outros colegas (professores) e eles trouxeram os mesmos argumentos, dificuldades, e vantagens de utilizar a ideia de sala ambiente, mas para tal os alunos deveriam realizar o rodízio”.

Fazendo coro com o pensamento de Zille, a professora de inglês Iacy Nunes relata sua experiência pessoal em relação ao rodízio de alunos e mostra como, em uma das escolas em que leciona, foram sanados os problemas que porventura tal pratica poderia gerar:

“Trabalho em um CIEP, e lá o professor permanece na sala de aula com a chave dela, que lhe é entregue no primeiro tempo e que deve ser devolvida ao claviculário ao final do sexto tempo. Às vezes acontecem alguns imprevistos: o professor se esquece de devolver a chave ao final de seu turno, perde a chave etc. Mas a direção tem sempre uma cópia de reserva e tudo acaba se resolvendo bem. Os alunos adoraram a novidade, e isso permitiu a muitas equipes se organizar e montar a tal sala ambiente: mapas, elementos de decoração apropriados (apenas como exemplo) que ajudam o aluno a entrar no ‘clima da aula’ e facilitam a vida do professor. Pode ser uma ideia. Podemos sempre adaptar ideias diferentes conforme nossa própria realidade; posso dizer que apoio o rodízio de alunos, pois, segundo alguns deles, o rodízio faz com que se sintam já na faculdade, além de lhes dar maior responsabilidade e fazer com que tenham mais atenção para não entrar em sala errada. Eu, que sou da área de Língua Estrangeira e a-do-ro inventar, sofria ao ter que carregar laptop (quando a sala não tem computador), dicionários, apostilas, revistas e som. Agora fico bem mais estimulada para criar em sala de aula”.

Na troca de e-mails, eu, Mariana, também me coloquei favorável ao rodízio dos alunos pelo fato de já ter vivido tal experiência na escola onde leciono e ter percebido bons resultados provenientes de tal prática. Os principais argumentos contrários ao rodízio de alunos baseiam-se no fato de que algumas escolas têm quantidade de funcionários insuficiente para dar apoio nesses momentos de transição entre salas e para evitar a depredação ou ocupação das salas vazias. Realmente são graves tais problemas. Por outro lado, a escola é, juntamente com a família do aluno, o lugar ideal para resolver dificuldades dessa natureza, isto é, relacionadas à educação do indivíduo. Por se tratar de alunos do Ensino Médio, cuja maioria vai sozinha para escola, sem precisar ser levada por um responsável, é evidente que eles têm a capacidade de se deslocar de uma sala para outra de forma autônoma, têm capacidade de se organizar e autogerir nesse ínfimo percurso (não são mais crianças que precisam fazer trenzinho ou andar de mãos dadas para se deslocar); da mesma forma, a violação das salas vazias diz respeito à má conduta do aluno, que também é papel da escola (junto da família) tentar melhorar. Parece-me que a solução não é acabar com o rodízio, e sim conscientizar os alunos de que eles não devem depredar as salas vazias (como fez o técnico de informática), bem como mostrar que eles são responsáveis e organizados o suficiente para saberem se deslocar de uma sala para outra sem que sejam necessárias diversas pessoas fiscalizando e mandando-os entrar na sala a todo momento. Isso também é educar.

Sendo assim, podemos destacar algumas vantagens e possibilidades criadas ao implementar a ideia de sala ambiente em conjunto com o rodízio dos alunos:

  • Redução do lixo jogado no chão da sala de aula;
  • Redução das pichações na sala de aula;
  • Geração de maior senso de responsabilidade nos alunos;
  • Criação da possibilidade de conscientizar professores e alunos com relação ao espaço da escola;
  • Favorecimento da implementação da ideia de sala ambiente;
  • Economia do tempo de preparo da sala para início das aulas;
  • Evitação de maior desgaste dos professores (carregar livros, computadores, projetores, som etc.).

Publicado em 15 de março de 2011

Publicado em 15 de março de 2011

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