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Sem medo pelo mundo dos números

Tatiana Serra

Entrevista com o escritor inglês Alex Bellos


Alex Bellos

Um correspondente internacional pelo mundo dos números. Assim se definiu o jornalista e escritor inglês Alex Bellos no processo de construção do seu livro Alex no país dos números. Também graduado em Matemática e Filosofia, ele queria falar dos números de maneira antropológica. E, percorrendo vários lugares do mundo, conferiu que a matemática é universal, porém é abordada de forma particular em cada cultura.

Sem o objetivo de ensinar matemática, mas com a intenção de fazer com que todos a entendessem e, aí sim, passassem a gostar dela, Alex tem levado leigos, quem tem medo e quem domina a matemática ao mundo dos números. Seu livro acaba de ser lançado no Brasil pela Companhia das Letras e já é sucesso na Inglaterra, com mais de 40 mil cópias vendidas; esteve na lista dos dez mais vendidos do jornal britânico Sunday Times por quatro meses; foi indicado a dois prêmios: o Galaxy National Book Awards 2010, de livros de não ficção, e o BBC Samuel Johnson Prize 2010, sem distinção de categoria; além disso, tem 18 direitos de tradução.

Leia a entrevista com esse simpático e divertido inglês, que já foi correspondente do jornal The Guardian no Brasil entre 1998 e 2003. Enquanto esteve nestas terras, escreveu um livro sobre futebol e aprendeu a se expressar muito bem em português. Por falar de sua relação com o Brasil, Alex aproveita o sucesso do último livro para lançar em breve outro também sobre matemática “e, depois disso, quem sabe, voltar ao Brasil!?”. Afinal, a Copa do Mundo no Brasil poderá ser um estímulo para reestreitar os laços...

Educação Pública – Como surgiu a ideia de escrever o Alex no país dos números?

Alex Bellos – Foi um processo meio louco. A matemática era a minha preferida, mas depois de formado eu comecei a trabalhar com jornalismo e, depois de um tempo, fui correspondente do The Guardian por cinco anos aqui no Brasil. Quando voltei para Londres, eu estava meio perdido, sem saber o que fazer. Recebi a sugestão de escrever um livro sobre Matemática como se fosse a volta do meu primeiro amor, mas pensei que não dava para escrever sobre Matemática sem ser chato. Depois percebi que poderia ser diferente, porque a maioria dos livros de Matemática são escritos por profissionais dessa área; vi que eu poderia escrever sobre a história que há por trás da Matemática e fui a vários lugares buscar informações.

Educação Pública – Como foi a experiência de ser correspondente internacional pelo mundo dos números?

Alex Bellos – Eu me preocupei em contar histórias que envolvessem os números, e não apenas falar sobre matemática. Então, foi como se eu fosse um correspondente internacional pelo mundo dos números, e cada capítulo tem um aspecto particular, como a geografia de um lugar, uma história interessante ou personagens. Eu quis levar ao leitor curiosidades sobre os números de maneira divertida, mas sem querer parecer “engraçadinho”, porque quando as pessoas começam a ver que se quer mostrar a matemática de maneira engraçada elas já desconfiam que seja uma coisa chata.

Educação Pública – Como foi o processo de pesquisa do livro? Fale sobre suas viagens pelos Estados Unidos, Índia, Japão etc.

Alex Bellos – Foram dois anos de pesquisa. Nos Estados Unidos, conheci o diretor de projetos de jogos da International Game Technology, uma grande empresa de caça-níqueis do mundo. E, a partir desse encontro, escrevi sobre probabilidade e acaso. Na Índia, visitei um líder espiritual e matemático; lá descobri, por exemplo, que na Índia não é usada a palavra “milhão”. Na França, um amigo e pesquisador me disse que os índios Mundurucus, habitantes da Amazônia, têm um raciocínio quantitativo apurado, apesar de só saberem contar até cinco. No Japão, descobri um chimpanzé que decorava sequências numéricas com mais rapidez que um ser humano. E, ainda por lá, visitei uma escola onde as crianças fazem cálculos extraordinários com o ábaco.

Educação Pública – Por falar no Japão, você conta no livro que lá se deparou com uma maneira diferente, e até poética, de como os japoneses aprendem a tabuada, o que é muito curioso, já que eles são tidos como muito sérios e criticados quanto ao excesso de rigor na maneira de educar crianças e adolescentes. Como foi isso?

Alex Bellos – No Japão existe a poesia dos números. Eles cantam uma musiquinha e acabam memorizando a música e os números. É como se fosse uma canção de ninar; eles têm uma maneira “gostosa” de memorizar os números. O estudo da tabuada é como se fosse uma brincadeira.

Educação Pública – Ao pesquisar história, geografia, cultura e cotidiano para entender e explicar a matemática, o que você concluiu?

Alex Bellos – A matemática é universal, mas a forma como ela é entendida e trabalhada depende muito de cada cultura. Entender a matemática significa entender o mundo de uma forma melhor; é uma forma de entender que as coisas são diferentes e aceitar essas diferenças.

Educação Pública – Em todo esse processo de pesquisa, descobertas e curiosidades, a que você associa os medos e as dificuldades das pessoas com a matemática?

Alex Bellos – Eu acho que tem várias razões. Acho que, muitas vezes, quem ensina não entende ou não gosta da matemática e, nas aulas, acaba passando isso para os alunos. Também acho que a competição, a necessidade de mostrar resultados não é um caminho que serve para todos, e isso também faz com que quem não se identifica com esse método não se interesse por matemática. Acho complicado também ensinar matemática para um grupo em que há alunos em diferentes níveis. O ideal seria separar os grupos para ter um melhor aprendizado.

Educação Pública – Você acha que seu livro pode ser utilizado como apoio pedagógico ou mesmo como alternativa nas escolas para que adolescentes perdessem o desinteresse e/ou o medo da matemática?

Alex Bellos – Acho que ler meu livro não vai fazer com que a pessoa aprenda matemática melhor, mas vai fazer com que as pessoas entendam e gostem mais da matemática, independente da idade. Por exemplo, todo mundo aprende o Teorema de Pitágoras, mas saber como surgiu esse teorema é muito interessante. Isso não é ensinado, mas poderia fazer com que as pessoas se interessassem mais e questionassem por que estão aprendendo isso.

Educação Pública – Fale de sua relação com o futebol e da relação do futebol com a matemática.

Alex Bellos – Minha relação com o futebol tem muito a ver com a minha relação com o Brasil, como o futebol retrata muito a cultura brasileira. No livro Futebol: O Brasil em campo (Jorge Zahar, 2002), falo da relação do futebol com o carnaval, com a política etc. Para pesquisar sobre futebol pelo Brasil, foi muito importante falar português para entender melhor a cultura, assim como, para pesquisar sobre os números e colocar isso no livro, foi muito importante entender Matemática. No livro Alex pelo país dos números também cito o futebol quando falo sobre probabilidade e estatística.

Capa do livro

Quer saber mais sobre Alex Bellos? Conheça seu blog.

26/04/2011

Publicado em 26 de abril de 2011

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