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As redes sociais e seus excessos: de “Cala a boca, Galvão” a mudanças no comportamento dos usuários
Tatiana Serra
São 140 caracteres para se expressar no Twitter, e o que muito se vê são comentários como: “Estou feliz hoje” ou “Fui ao banheiro” ou “Dormindozzzzz”... Sem contar que já foram movimentadas “verdadeiras” campanhas por lá. Lembra do comentário campeão, o “Cala a boca, Galvão”, que surgiu durante a Copa do Mundo de 2010? Criada para criticar o locutor esportivo Galvão Bueno, em pouco tempo essa expressão já era a mais twittada, ganhando inclusive de “Fifa World Cup”, que ficou em 5º lugar. Na época, o “Cala a boca, Galvão” causou a maior polêmica e confusão. Em outros países, usuários do Twitter chegaram a pensar que se tratava de uma campanha brasileira de proteção a uma ave. No final, já havia até uma conta na rede social para o “Instituto Galvão”, com promessa de doações para a causa e tudo o mais.
Confusões à parte, essa situação ilustra a força que menos de 140 toques podem ter e as muitas possibilidades que as redes sociais oferecem. Além disso, a invasão dessas ferramentas na vida de adultos, jovens e até de bebês vem mudando os hábitos e o cotidiano de nossa sociedade.
“Alta frequência nas redes sociais... piora suas notas?”
Parece que o excesso de acessos ao Facebook tem influenciado o rendimento dos estudantes. Foi o que informou o artigo “Facebook and academic performance”, publicado na revista acadêmica Computers in Human Behavior. Segundo disse Silvio Meira, professor de engenharia de software da Universidade Federal de Pernambuco e comentarista de tecnologia da rádio CBN, em seu blog Dia a dia, bit a bit, o artigo mostra que usuários de Facebook relatam menores notas e gastam menos horas por semana estudando.
Considerando um pequeno grupo de alunos norte-americanos, concluiu-se que, entre os alunos que acreditam que Facebook pode causar impacto em sua performance acadêmica (cerca de 25% da amostra), 75% indicam que esse impacto é negativo, inclusive nas notas. Silvio Meira destaca que “um dos principais efeitos do uso de Facebook (e provavelmente de outras redes de relacionamento não consideradas no estudo) é o aumento do índice de procrastinação, com os alunos deixando para estudar depois de fazer ‘tudo’ o que tinham que tratar com suas relações sociais (virtuais)”.
Mas isso mostra que o problema é o Facebook? – questiona Silvio. “Não, não mostra. O problema pode ser que a escola – e as oportunidades de aprendizado que rolam por lá, para a vasta maioria dos alunos – deixou de ser interessante; aliás, disso se pode ter certeza; a escola não acompanhou a linguagem dos ‘alunos’, especialmente nestas últimas duas décadas de games em rede”. Talvez o estudo oferecido nas escolas não apresente todas as oportunidades para provocar o aprendizado que as redes sociais podem oferecer.
Será que a escola não deveria usar isso a seu favor? Como usar essa nova linguagem? Essas deveriam ser as perguntas e não simplesmente criticar as redes sociais. “E é isso que os governos do Rio de Janeiro e de Pernambuco estão tentando fazer, e com resultados muito interessantes, usando uma plataforma de redes sociais para jogos interativos (uma olimpíada online de jogos e educação, uma rede social para ‘jogar’ conteúdos do currículo escolar…) para trazer os alunos de volta para o ‘ambiente’ escolar. Ainda por cima, esse experimento em grande escala já criou a Joy Street (empresa de jogos eletrônicos), um dos startups (negócios de inovação em TI) mais interessantes do Porto Digital (um dos principais polos de tecnologia do Brasil)”, destaca Silvio, deixando no ar uma dúvida: “se houvesse cada vez mais ambiente e conteúdo educacional interessante e interativo, jogável e em redes sociais, será que não aprenderíamos muito mais, muito mais rápido?”.
Orkut, Facebook e Twitter: o que é útil e o que é inútil?
Na seção Discutindo, perguntamos aos nossos usuários o que é útil e o que é inútil nas redes sociais, e as respostas fazem pensar que ainda vivemos um período de adaptação quanto às possibilidades oferecidas por elas. A professora Helena Souza, por exemplo, diz não saber a verdadeira resposta, mas afirma ter algumas certezas que não gostaria que fossem verdadeiras: “os nossos alunos não querem utilizar essas ferramentas para uso pedagógico, eles querem fazer uso delas para se locupletar, para satisfazer suas vontades”, diz ela, que já tentou utilizar e-mails para uso pedagógico sem sucesso, já que ninguém sequer se deu ao trabalho de abrir o correio eletrônico para se informar sobre o que fazer.
Diante de suas tentativas e da experiência de seus colegas, Helena duvida da utilidade dessas ferramentas para uso escolar. “Mas, para ficarem sabendo coisas sobre os outros, acredito que sirva. Para deixá-los cada vez mais preocupados com o que o colega comprou, o que usou, onde foi, com quem foi, quem encontrou etc. Creio que seja para isso que servem essas ferramentas. E assim caminha a humanidade, é assim que o homem se desenvolve”, conclui a professora.
Perfis infantis criados pelas mães invadem as redes sociais
E não são só os estudantes que acabam se excedendo no meio virtual. Parece brincadeira, mas até mesmo crianças que ainda não falam (e muito menos digitam) já têm contas no Orkut e no Facebook controladas pelos pais. A matéria Perfis infantis criados pelas mães invadem as redes sociais, do IG, afirma que 86% dos usuários brasileiros ativos de internet usam algum tipo de rede social e passam cerca de cinco horas diárias navegando por elas. E parte deles é de pais que querem compartilhar vivências, tirar dúvidas e, como todos os pais corujas, querem contar as “gracinhas” dos filhos e mostrá-los ao mundo. Mas para que mundo seus filhos estão sendo mostrados?
Uma das formas de proteger o excesso de exposição de crianças seria a idade mínima de 18 anos exigida para o cadastro em redes sociais, porém é claro que isso não impede que os filhos, pelas mãos de seus pais, conversem com seus amiguinhos pelo Twitter; ou melhor, os pais é que acabam conversando com os pais dos amiguinhos de seus fi... Enfim, confuso, não? Para ter uma ideia, “comunidades de bebês no Orkut com cerca de 2.750 usuários – a maioria com menos de um ano –, provam que os novos pais buscam maneiras de registrar e dividir a vida de seus filhos com quem quiser ver. Mas isso é saudável?”
Para a psicóloga Luciana Ruffo, membro do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP, em entrevista ao IG, é preciso entender os limites entre a brincadeira e a superexposição. “O que você contaria sobre seu filho para uma pessoa na rua? Com certeza não seria tudo. Na internet é a mesma coisa: é preciso compreender esse limite, porque, uma vez publicada a informação, ficará lá para todo o sempre”, afirma a psicóloga.
De “Cala a boca, Galvão” a mudanças no comportamento dos usuários, podemos dizer que há utilidades e inutilidades nas redes sociais. Orkut, Facebook e Twitter já fazem parte do nosso cotidiano, mas talvez ainda estejamos nos adaptando e começando a reconhecer suas possibilidades. Portanto, assim como na vida real, vale optar pelo bom senso também no meio virtual.
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Publicado em 3 de maio de 2011
Publicado em 03 de maio de 2011
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