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A Atitude Crítica e A Atitude Filosófica

Fábio Souza C. Lima

Historiador e filósofo, especialista em Educação, professor da rede estadual do Rio de Janeiro

Não é a barba que faz o filósofo.

Thomas Fuller

No Mito da Caverna, criado por Platão, o primeiro liberto, aquele que decidiu sair da caverna e conhecer/enfrentar o mundo, utilizou-se de uma postura evidente: a atitude crítica. A rebeldia aliada à vontade de saber mais levou aquele homem a um lugar nunca antes visto: o mundo real. Tal atitude está presente na vida dos pensadores, cientistas, intelectuais e filósofos – tendo eles diploma ou não. É, portanto, a adoção de tal postura a responsável por nosso avanço intelectual, seja individual ou na vida em sociedade. O que estamos a dizer é que essa atitude é característica humana, sendo necessário apenas ter vontade para isso. Em uma fórmula geral, podemos dizer que a atitude crítica, parte intrínseca do que chamamos de atitude filosófica, se distingue em dois movimentos: o negativo e o positivo.

Precisamos, antes de desenvolver esse tema, desconstruir a ideia que a maioria das pessoas tem do significado da palavra crítica. Muitas vezes a tomamos por uma resposta ruim ao que realizamos ou como tentativa de nos inferiorizar diante de um evento ou de outras pessoas. Contudo, a palavra crítica tem origem no grego krinein, que está ligado à ideia de ir à raiz do problema para tentar entendê-lo, ou seja, realizar uma análise. Krinein significa capacidade de separar para distinguir, capacidade de entender, estudar, examinar e ainda outros sentidos que nos servem construtivamente: capacidade de julgar, decidir, escolher, isso tudo sem pré-juízos, sem preconceitos. A atitude crítica exige, portanto, o trabalho de estudar, de procurar saber.

Em um primeiro momento, devemos negar os conhecimentos impostos ou que consideramos serem estabelecidos, prontos, que não devem ser contestados. Esse movimento necessita uma avaliação interior que reconheça nossos preconceitos e pré-julgamentos dos eventos e pessoas que nos cercam. Por isso dizemos que esse é o movimento negativo.

Em continuidade a esse processo, devemos adotar o movimento positivo, em que os questionamentos tornam-se parte do nosso cotidiano. Normalmente retórico, isto é, com necessidade de ponderar sobre as perguntas que realizamos, o movimento positivo busca o desenvolvimento da eloquência sobre o cotidiano.

Ouvimos sempre que “São as perguntas que movem o mundo”, não é? Pois vamos conhecer algumas perguntas que irão nos mover...

Ao parar diante de uma banca de jornal onde estão dispostas as notícias do dia, as revistas e até talões de jogos de azar, que tal realizar algumas questões como: “por que aquela notícia está disposta daquela forma?”, “a fim de que os jornais ou a banca de revista querem que eu a veja?” e ainda: “o que são os jornais?”, “como são os jornais?”, “por que estão aí?”, “o que é um jornal?”, “o que é o certo?”, “o que é o errado?”, “o que é verdade?”, “o que é mentira?”... Se você conseguiu compreender onde esses questionamentos levaram você, então que tal repetir esses questionamentos quando o professor estiver lecionando. Que tal repetir quando estiver vendo televisão... E aí, repetir até tornar um procedimento comum a quase todas as situações de que participamos...

Esse procedimento nos faz perceber que os conhecimentos que julgávamos serem suficientes para a nossa vivência já não o são mais. Existem conhecimentos sobre tudo e todos que não somos capazes de ter se não nos fizermos perguntas. Um infinito de saber que só pode nos levar à conclusão do quanto somos ignorantes. Mas, espere, somos ignorantes, porém não somos burros, pois então sabemos que não sabemos e que podemos buscar saber. Trata-se, nestas últimas frases, da síntese da atitude filosófica (perguntar), em pensamentos divulgados ou proferidos pelo Patrono da filosofia, Sócrates: “Conhece-te a ti mesmo” e “Sei que nada sei”.

O pensamento crítico é, portanto, transformador, contestador, revolucionário, desconfiado e constituinte, isto é, sempre se por terminar... Essa consciência de saber que não sabe e querer buscar o conhecimento tem um nome: Filosofia. Mas o conceito e a gênese da filosofia, já são assunto para outro texto.

Referências

CHAUÍ, M. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2000.

PLATÃO. Apologia de Sócrates. São Paulo: Nova Cultural, 1999.

Site

Carneiro Leão – FiloInfo disponível em: http://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/articles/article.php?id=25.

Leia também: Como nasce o pensador

Publicado em 7 de junho de 2011

Publicado em 07 de junho de 2011

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