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Gênero é masculino ou feminino? Reflexões sobre ser homem ou ser mulher no século XXI

Cristiane da Silva Brandão

O que é ser homem ou mulher no século XXI? Alguma coisa mudou? Mudanças são pertinentes às sociedades, pois é de fato essa dinamicidade que torna o ser humano reprodutor e produtor de cultura, em meio às mais variadas relações sociais que se estabelecem cotidianamente.

Mas, o que é inerente à mulher, ou ao feminino? Talvez só o sexo: sexo feminino. Aliás, pensando bem, até o sexo deixa a desejar, uma vez que tem caráter discriminatório machista, tendo em vista que o ‘sexo’ (palavra), como mostra o artigo definido, é masculino.

Voltamos, então, à estaca zero. Em que sentido propriamente? Da neutralidade de valores ou da indiferença, visível no mundo contemporâneo, quanto à busca pela desejável igualdade de gênero?

Preconceitos se reforçam a cada dia em nossa sociedade midiática, que tende a rotular, estereotipar e discriminar o que deve ser próprio ao sexo masculino e o que deve ser comum ao sexo feminino, atropelando, com seus valores e ideologias dominantes, através dos meios de comunicação de massa (televisão, jornais, internet etc.), toda a conquista paulatina para a estruturação sólida de uma sociedade justa e igualitária, que busca erguer a verdadeira bandeira da cultura da paz.

Nesse sentido, não basta querer uma sociedade que pregue o discurso da educação inclusiva e não sexista. É de extrema necessidade arregaçar as mangas e ir além de pseudopolíticas e pseudofilosofias que têm permeado o sistema educacional, econômico, político de quase todo o mundo.

Destarte, convém identificar os dispositivos reprodutores da desigualdade de gênero, de raça, enfim, os geradores de qualquer tipo de discriminação, que estruturam a exclusão social em nosso país; nessa instância poderíamos avançar ainda mais, de toda uma sociedade globalizada que se deleita e se beneficia da propagação, feita por ela própria, da intolerância, dos preconceitos e do ódio à humanidade.

Um grande educador brasileiro anunciou aos quatro cantos do mundo, com sua mensagem através da pedagogia da libertação, que “ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho, as pessoas se libertam em comunhão”, da mesma forma que “educação não transforma o mundo, educação muda pessoas, pessoas transformam o mundo”. De fato, e de direito, é disso que carecemos: ‘liberdade’.

Liberdade no sentido apresentado no contexto que nos trouxe a Revolução Francesa: “fraternidade, igualdade e liberdade”; liberdade de expressão, de opinião, de escolha; liberdade também no sentido de sermos libertos dos preconceitos, do senso comum quando este nos coloca em dúvida o direito à igualdade ou qualquer um dos outros direitos como ser humano.

Pensar que um dia à mulher foi ‘decretado’ o espaço privado (restrito aos cuidados do lar) e ao homem foi deliberadamente cedido o espaço público (que vai muito além do trabalho ou sustento da casa). Ainda bem que chegou o século XXI e, com ele, gloriosas conquistas que são frutos colhidos a partir de lutas e entraves vividos há séculos de existência.

Hoje, embora sexo (palavra) continue masculino, as definições para o que é pertinente às mulheres (sexo feminino) e aos homens também são outras. Felizmente, avançamos e, com bom senso, o machismo deixa gradativamente de reinar.

Quem esperava um dia poder encontrar uma família no seu modelo nuclear, em que a mãe (mulher) explora o espaço privado e administra toda a finança da casa, enquanto, em contrapartida, o pai (homem) é responsável por todo o cuidado doméstico, sem que haja contradições entre o novo e o velho contexto sociocultural? Permitir inovações no modelo já existente é se deparar com as superações de um sistema que estratifica as relações de gênero, sobretudo, na divisão sexual do trabalho.

Nada precisa ser aniquilado; precisa, na verdade, é ser reinventado, reestruturado, compreendido, reconstruído, acompanhando os processos sociais que dão significado à vida humana, que também compreende ‘ser homem’ ou ‘ser mulher’, em determinada sociedade. Isso se quisermos entender como é possível construir igualdade de gênero em meio à sociedade contemporânea, que pode até ditar padrões, mas jamais poderá destruir a conquista milenar daqueles que prezam, através da educação de homens e mulheres, transformar o mundo.

Publicado em 18 de janeiro de 2011.

Publicado em 18 de janeiro de 2011

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