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Capacitação para Professores de Português e Matemática a Distância
Tatiana Serra
Professora Beth Bastos
Fundação Cecierj participa de projeto da SEEDUC voltado para a melhoria da Educação no Rio de Janeiro
O que esperar da Educação no Rio de Janeiro? Essa é a grande preocupação de pais, docentes e setores responsáveis pelo ensino no Estado do Rio. E é com o objetivo de contribuir para essa melhoria que acaba de ser colocado em prática o Programa de Formação Continuada de Professores em Língua Portuguesa e Matemática, uma parceria da Secretaria de Estado de Educação do Rio de Janeiro (SEEDUC) com a Fundação Cecierj.
A professora Beth Bastos, responsável pelo projeto de capacitação na Fundação Cecierj, dá detalhes de como será realizado o curso de aperfeiçoamento em nível de especialização, na modalidade a distância, que tem início em agosto de 2011.
Educação Pública – Quais são os objetivos do Programa de Formação Continuada de Professores?
Beth Bastos – Na verdade, é mais do que uma capacitação; trata-se de um curso de aperfeiçoamento com especialização. Isso faz parte de um programa que envolve o conteúdo do currículo mínimo. Nesse primeiro momento, optou-se por priorizar as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática de duas séries: 9º ano do Ensino Fundamental e 1ª série do Ensino Médio, porque são as duas séries que passam inicialmente pela avaliação do Estado. A Fundação Cecierj tem a preocupação da melhoria do ensino, mas ela sabe que isso passa por outros fatores. Nosso trabalho é uma ação que está integrada a outras frentes de ações em que a SEEDUC está agindo.
Educação Pública – Por que a Fundação Cecierj foi escolhida para realizar esse projeto?
Beth Bastos – Por que nós estamos fazendo esse trabalho e não outra Fundação? Porque temos o ensino a distância das universidades públicas do Rio de Janeiro. Na realidade, a Fundação Cecierj está organizando esse formato de aperfeiçoamento e especialização – com aperfeiçoamento ligado à práxis e a especialização ligada à formação inicial. Hoje, estamos criando um modelo de estrutura, e, assim que estivermos com tudo isso azeitado, validado, poderemos replicá-lo para as outras séries.
Educação Pública – No que consiste esse curso?
Beth Bastos – São 160 horas de aperfeiçoamento, com o conteúdo ligado ao currículo mínimo que está sendo aplicado na sala de aula. Por exemplo, se eu vou dar funções quadráticas no 3º bimestre em sala de aula, vou trabalhar simultaneamente funções quadráticas no curso. Na realidade, o curso vai prover o professor de recursos distintos para atender melhor seus alunos e ir além. Uma das formas de melhoria do professorado e, consequentemente, da qualidade do ensino e do desempenho dos alunos é garantir formação permanente aos educadores.
As 160 horas de aperfeiçoamento estão ligadas à Fundação Cecierj; então, a gente tem uma âncora com a SEEDUC. As 200 horas de especialização completam isso.
Educação Pública – Como acontecerá o curso? Qual será sua duração?
Beth Bastos – Em agosto, o professor vai começar a fazer uma disciplina do aperfeiçoamento; no bimestre seguinte, ele fará uma disciplina do aperfeiçoamento e uma da especialização. O curso todo tem duração de 11 meses – são 9 meses de aula (quatro bimestres em nove meses); daí, ele termina as 160 horas e, paralelamente a isso, também termina uma disciplina da especialização que tem 20 horas. Durante o curso, o professor deve se dedicar às atividades por quatro horas semanais, além dos encontros presenciais de três horas cada. Nessa primeira disciplina, o professor terá atividades em contato direto com seus tutores. Os grupos são formados por 20 a 30 professores, selecionados por região do Estado do Rio. Para fazer essa distribuição, foi usado o critério de divisão dos polos do Cederj.
Mais para a frente, quando o professor já estiver mais integrado ao sistema de ensino a distância, acreditamos que ele consiga fazer duas disciplinas da especialização. Porque hoje o aperfeiçoamento e a especialização têm pesos diferentes: as disciplinas da práxis têm carga horária de 40 horas, enquanto as da especialização têm 20 horas. Vai chegar uma hora em que o professor vai poder cumprir uma carga horária de 80 horas, porque ele não terá mais problema de adequação ao modelo.
Durante o curso, os professores terão encontros nos polos do Cederj. É importante destacar que os diretores de polo estão sendo ótimos parceiros quanto a essa organização. Além disso, estamos trabalhando para facilitar o acesso dos cursistas à internet também em outros momentos, para que possam ler o material e realizar as atividades do curso.
Educação Pública – Que equipe de trabalho está envolvida na estrutura do projeto?
Beth Bastos – Os 140 tutores (70 para cada disciplina) são doutores, mestres ou mestrandos que, dentro de cada área, são divididos nas duas séries (9º ano do Ensino Fundamental e 1ª série do Ensino Médio); cada equipe tem de 5 a 10 conteudistas para desenvolver sete propostas de atividades para dois conteúdos do currículo mínimo.
Hoje a gente deve ter umas 250 pessoas envolvidas só com a parte acadêmica, fora a equipe de produção.
Parte dos tutores que trabalharam nos cursos são formados pelo Consórcio Cederj; logo, são pessoas que se formaram pelo ensino a distância e que dominam essa linguagem. Além dos tutores e de outros profissionais, contamos também com os professores-âncora das universidades.
Educação Pública – O conteúdo foi definido e elaborado pela SEEDUC e pela Fundação Cecierj?
Beth Bastos – Em nossa equipe, temos um grupo de profissionais da SEEDUC que tem perfil para trabalhar como conteudistas na elaboração do curso. E esse foi um dos critérios exigidos – que os profissionais fossem da rede estadual de educação, para que passassem suas vivências para o projeto, que tem foco muito forte na prática em sala de aula. Porque não é só a questão do saber, é a questão do saber docente, da prática.
Educação Pública – Quantos professores se inscreveram para o curso e quantos foram selecionados?
Beth Bastos – Foram quase 8 mil inscritos; foram selecionados 4 mil professores, em todo o Estado do Rio.
Educação Pública – Quais foram os critérios utilizados para a seleção?
Beth Bastos – Foram vários os critérios. O primeiro foi o de o professor ser regente dessas séries (9º ano EF ou 1º ano EM), porque é importante que o trabalho seja feito em sala de aula. Essas disciplinas são linguagens que contribuem para as outras, permitem que as ciências (humanas, exatas e da natureza) sejam explicadas.
O segundo critério foi saber em que escolas os profissionais estavam lotados. Fizemos isso porque existe a tendência dos professores de querer ir para uma escola melhor. Então, para participar do projeto, o professor precisa estar comprometido com uma determinada unidade escolar, porque esse investimento é para o benefício dos alunos dessa unidade. Para isso, a gente usou os números do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para o 1º ano e do SAERJ para o 9º ano. Depois disso, foram utilizados critérios de desempate, como tempo de regência, por exemplo.
Educação Pública – Os selecionados receberão uma bolsa como auxílio para a realização do curso?
Beth Bastos – Sim, os 4 mil professores selecionados receberão bolsa de R$ 300 mensais por 11 meses para concluir o curso de aperfeiçoamento. Esse valor foi estipulado para que os professores tivessem condições de viabilizar isso, diante de possíveis gastos com deslocamento, material, bibliografia etc.
Educação Pública – Após a seleção dos professores, a Fundação Cecierj já realizou alguns encontros presenciais com eles. Como e quando isso aconteceu?
Beth Bastos – Foi o que chamamos de acolhimento; foram encontros para adequar os professores ao modelo do curso, apresentar a eles o trabalho que será feito, ajustar os detalhes que faltavam e para achar o melhor lugar para cada um deles. Isso foi muito positivo para que possam ser feitos os ajustes necessários na organização. Nós estamos pensando em ações e resultados locais, e não só globais; nós nos interessamos por cada professor, e não por números – que podem significar apenas resultados.
O primeiro encontro de acolhimento aconteceu em dois momentos, em que identificamos e ajustamos detalhes, nos apresentamos aos professores e explicamos como o curso funcionará, como eles usarão a plataforma, confirmamos seus dados, mapeamos os locais onde eles farão o curso etc.
O segundo encontro do acolhimento aconteceu nos dias 29 e 30 de julho, com o objetivo de os professores encontrarem seus respectivos tutores, pois é importante criar esse elo entre eles. O encontro teve três horas de duração, dividido em três momentos: as duas primeiras horas foram dedicadas a cada curso e suas especificações: na primeira, cada tutor conversou com seu grupo para encontrar soluções localmente, como, por exemplo, o melhor dia para o encontro presencial etc.; na segunda hora, os professores e seus tutores discutiram o conteúdo que será oferecido em cada curso; na terceira hora os tutores foram com seus alunos ao laboratório para a conferência de dados e garantir que todos estejam conseguindo acessar o curso pela internet.
Educação Pública – Quais serão os próximos passos?
Beth Bastos – Em agosto e setembro, os professores já estarão trabalhando os conteúdos dos cursos. E o mais bacana da proposta desse projeto é o trabalho em conjunto dos conteudistas com os professores que farão os cursos. Esta premissa de trabalho é de construção coletiva, em que o caminhante faz o caminho... No caso da formação, conteudistas, professores, tutores, cursistas são caminhantes construindo juntos o caminho.
Educação Pública – Como será feita a avaliação dos professores durante o curso?
Beth Bastos – Na especialização, haverá prova, trabalhos etc. No aperfeiçoamento, a avaliação será mais subjetiva, havendo uma forma de avaliação para Língua Portuguesa e outra para Matemática, ainda a serem definidas, mas ambas baseadas fortemente na aplicação do trabalho do curso com os alunos.
Uma das dificuldades encontradas para a estrutura do curso é garantir que o professor permaneça dando aula no 9º ano ou na 1ª série no ano que vem. Embora seja difícil, isso é possível, desde que sejam criados mecanismos.
Educação Pública – Vocês já têm ou pretendem ter relação com os diretores das escolas, a fim de colaborar para a dedicação dos professores aos cursos oferecidos?
Beth Bastos – Já estamos começando a ter essa relação. Planejamos para breve um encontro com os coordenadores regionais. A ideia é solicitar que eles conversem com os diretores das escolas sobre o programa.
É importante lembrar que o objetivo da Fundação Cecierj nesse projeto é contribuir para o trabalho do professor em sala de aula. É fundamental, para a melhoria da educação, que estejam acontecendo outras ações paralelas a essa. É sabido que, para melhorar a educação, outras providências precisam ser tomadas, como: a melhoria das condições de trabalho, as condições estruturais das escolas. Caso contrário, você coloca a responsabilidade só em cima do professor, e não é assim.
02/08/2011
Publicado em 02 de agosto de 2011
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