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Professoras e guerreiras

Carla Laneuville Figueiredo Barbosa

Pós-graduada em Direito (FGV), estudante de Pedagogia (Iserj)

Encontrei com minhas amigas esta semana para comemorarmos os 40 anos de uma delas. Somos quarentonas, mas pude constatar que ainda estamos cheias de sonhos, esperanças, e aspirações, com aquele gostinho dos deliciosos 17 anos! Parece incrível, mas somos as mesmas meninas; mais maduras, mais, digamos, cascudas, mas as mesmas meninas...

Das sete amigas, três escolheram ser educadoras. As histórias, porém, são muito diferentes: uma fez o antigo normal, mas desistiu da profissão; era muita pressão, foi muita desilusão, e outras opções foram feitas, com uma escolha movida pela vocação; outra fez Letras, com especialização, e ama de fato a vida de educadora; leciona até hoje, com louvor; a outra sou eu, uma advogada desiludida por causa da situação da Justiça de nosso país e em busca da verdadeira vocação.

Três histórias entrelaçadas que nos levaram a questionar: o que leva alguém, hoje em dia, a querer ser professor? O que leva alguém, hoje em dia, a querer deixar de ser professor? Pois é... Acabamos por desenrolar longa discussão (sadia!) acerca da atual situação dos educadores no Brasil.

Nossa conversa percorreu muitos aspectos da vida acadêmica, e dentre eles um muito controverso, que logo foi suscitado pelas três: o salário do educador. Há pouco tempo, esse assunto ganhou vulto nacional, por causa da professora Amanda Gurgel, que levou várias questões, em especial a do salário, para uma audiência pública na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte, mas que valiam para todo o Brasil, não somente para aquele estado. Sua iniciativa fez com que, por uma semana, ganhássemos voz mais ativa. Mas, como tudo neste país, acabou em pizza. Ganha-se pouco, é fato, face a tantas responsabilidades que temos; mas, por outro lado, é verdade também que a postura dos educadores acaba por acarretar isso.

Vamos por partes. Há 40 anos, os professores eram respeitadíssimos, exerciam importante papel na sociedade, eram vistos como exemplos de correção, saber, conduta, postura etc. Hoje em dia, esses valores foram transformados (aprendi com minha professora de Sociologia que valores não se perdem, transformam-se... Não sei se isso me deixou muito feliz) de maneira lamentável, transformações estas, sejamos sinceros, que não são inteligentes, visto que não fizemos nossa profissão crescer nem evoluímos com elas; pelo contrário, há uma piora generalizada, fazendo com que nossa qualidade e nosso valor sejam igualmente diminuídos!

Saber e respeito aos saberes, postura, apresentação são essenciais para todos os educadores, mas parece que nos esquecemos disso. É tudo uma questão de espelho: se não damos, não podemos receber! Vejo professores com roupas que, por favor, nem ao mercado eu teria coragem de ir usando; vejo professores dizerem que seus alunos são burros... Como assim? Vejo professores nada empenhados, cansados, que não têm, na realidade, vocação.

As outras amigas (as que não são educadoras) também têm os mesmos problemas em suas profissões, mas tratamos o nosso como se fosse a única profissão desvalorizada. Questiono o seguinte: quando optamos por ser educadoras, sabíamos que os salários não seriam os melhores do mercado, sabíamos que seria tarefa árdua, de amor, pois essa é a história da Educação. Então, por que tantas reclamações??!!

A tarefa é árdua, só os fortes e com vocação permanecem. Então, se temos vocação e amor por esta profissão, temos que tentar mudar essa situação, mostrando que somos capazes de tal, mostrando empenho, de peito aberto, vez que é a profissão que amamos, que deveríamos amar, já que foi a escolhida por nós.

É urgente que repensemos nossas posturas e tenhamos consciência de que a educação é uma via de mão dupla, não adiantando os velhos discursos comuns, dizendo que o salário é pouco, que as condições são terríveis. Há exemplos que deveriam ser seguidos, pois, mesmo dentro desse caos, alcançam destaque, são escolas e educadores vencedores por terem amor e postura, fazendo com que suas escolas sejam modelo, fazendo com que seus educandos obtenham êxito.

Publicado em 02/08/2011

Publicado em 02 de agosto de 2011

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