Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
Por que devemos estudar artes e cinema dentro da escola?
Janaina Pires Garcia
doutoranda em Educação (UFRJ); professora de Sociologia no Ensino Médio
Três grandes etapas marcam, até hoje, o processo de comunicação humana: a oralidade, a escrita e a imagem.
A comunicação oral aparece desde a época pré-histórica. As antigas culturas se desenvolveram utilizando a palavra como instrumento de comunicação entre os homens. A imagem começou a ser utilizada com a pintura e a escultura (Hauser, 2003).
Uma grande revolução ocorreu com a invenção da escrita. Sua utilização permitiu o desenvolvimento das civilizações antigas. A descoberta e a divulgação da imprensa, a partir do século XV, permitiu que a Europa ingressasse de forma definitiva na era da escrita. As escolas se multiplicaram rapidamente, tornando-se a mais importante via de acesso à cultura letrada. Saber ler e escrever era condição fundamental para gozar os benefícios da nova sociedade emergente.
Nestes últimos cem anos, porém, a hegemonia incontestável do livro começou a ser abalada pela presença cada vez mais expressiva da imagem.
O cinema foi o produto cultural da Revolução Industrial, a primeira marca da modernidade do século XX e a tecnologia de ponta da revolução mecânica (Hauser, 2003). Em todas as polêmicas alimentadas em torno de sua expansão universal – das artísticas às ideológicas – ninguém o contestou como linguagem especialíssima, que recriou na sala escura, iluminada pela luz intermitente do projetor, o ambiente escuro das cavernas onde os mitos eram narrados ao redor da fogueira.
A trajetória industrial-comercial trilhada pela tecnologia de captação e projeção de imagens em movimento foi ditada, pois, pela necessidade humana de nutrir-se de narrativas que criem, recriem e expliquem os mitos que os homens constroem na busca de tocar o transcendente.
O que o pensamento pedagógico fez com a realidade da construção da mitologia moderna foi esquecer que os mitos sempre foram um instrumento precioso de educação social em todos os povos. Em vez de estudar em profundidade o potencial formador do “mundo das sombras” e constituir uma metodologia de compreensão e uso dessa nova linguagem, julgou-a e condenou-a a viver fora dos muros das escolas.
Os filmes (como outras obras artísticas) são produções da cultura: obedecem a condições de produção, contingências de mercado, mas não são objetivos pedagógicos, didáticos ou seriações artificiais. Sua utilização na educação é importante porque eles trazem para a escola aquilo que ela se nega a ser e que poderia transformá-la em algo vivo e fundamental: participante ativa e criativa dos movimentos de cultura – e não repetidora e divulgadora de conhecimentos massificados, muitas vezes já deteriorados, defasados e inadequados para a educação de uma pessoa que já está imersa e viverá na cultura aparentemente caótica da sociedade moderna.
A escola é parte da cultura, porém da parcela mais conservadora e desatualizada dessa cultura, o que lhe confere baixo poder político e alta exposição manipulatória. O estudo das imagens e sons da sociedade moderna pode ser um momento para a educação fazer-se cultura e, talvez, poder.
Se acreditamos, como Herbert Read (2001), que a educação deve formar artistas, isto é, “pessoas eficientes nos vários modos de expressão”, e que educar através da arte é formar criaturas empenhadas em dirigir seus impulsos inconscientes para o caminho da criação e da autorrealização, numa busca da verdade pela beleza, passamos a olhar a criança como matéria moldável, com todas as possibilidades de expressão latentes.
Nesse sentido, deve-se pensar o cinema no contexto escolar como arte e não somente como uma nova tecnologia, pois, se o propósito da educação é visto como um processo que envolve a integração do indivíduo numa sociedade livre, a adequada educação dos impulsos criadores não é meramente um fim desejável em si mesmo, mas uma necessidade vital para a renovação da nossa civilização.
Referências bibliográficas
HAUSER, Arnold. História social da arte e da literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
READ, Herbert. A educação pela arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001.
Publicado em 27/09/2011
Publicado em 27 de setembro de 2011
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.