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Que sono é esse? Adolescentes sonolentos demais tiram o sono de pais e professores

Tatiana Serra

Tem coisa mais irritante do que tentar acordar um adolescente? “Só mais um pouquinho” é o que ele suplica. E isso quando você dá a sorte de se fazer ouvir. E pedir que ele durma cedo porque tem aula no dia seguinte? Enfim, nada parece ser uma boa justificativa para dormir cedo e acordar com o despertador. O pior é quando ele está de férias... Aí então a disciplina de horário praticamente inexiste. Quando retorna às aulas, são os professores que dividem o teste de paciência com os pais, já que os adolescentes tendem a se manter sonolentos e desatentos durante todo o dia.

O sono desses jovens preocupa pais e professores e é motivo de vários estudos. Porém quase nunca essa sonolência é motivo para preocupações. A conclusão é que o excesso de sono é normal entre os adolescentes e faz parte do seu desenvolvimento. Aliás, quase todo excesso deveria ser explicável na adolescência; afinal, quem já passou por essa fase da vida deve lembrar como tudo que se sente é “ao extremo”! O problema é quando se começa a dormir menos que o necessário.

Dormindo mais tarde e acordando mais cedo

Ainda em 2005, a revista Veja chamou a atenção para os adolescentes que estão dormindo mais tarde e acordando mais cedo do que deveriam. O uso “ilimitado” do celular, da televisão, do computador, o acesso à internet, o crescimento das redes sociais, a variedade de jogos... Tudo isso desencadeou mudança no ritmo e nos hábitos da sociedade. Muitas vezes, além de o adolescente ter seu próprio celular, a televisão e o computador ficam localizados no seu quarto. Daí, é só dar “boa noite” aos pais, fechar a porta e navegar pela internet, sem limites.

A maranhense Rayane dos Santos, de 13 anos, cursa o 8º ano do Ensino Fundamental pela manhã e confessa que tenta driblar os pais em alguns momentos. “Eu costumo dormir mais ou menos às 9 horas da noite. Mas várias vezes eu dou boa noite para os meus pais e volto para a sala para assistir à televisão ou mexer no celular. Meus pais ficam reclamando, chamando minha atenção porque preciso dormir cedo, descansar para amanhecer bem disposta. E sei que, quando eu vou dormir um pouco mais tarde, no dia seguinte fico com sono o tempo inteiro”, diz ela. Mesmo sabendo que o dia após uma noite mal ou pouco dormida parece ser o dia mais longo da vida, muitos adolescentes insistem em prorrogar a ida para a cama.

O paulistano Cauê Nomura, de 15 anos, também estudante do 8º ano, diz não fugir à regra de dormir cedo durante a semana. “Quando estou em aula, tenho que dormir cedo, às 9h da noite, para acordar às 5h30 da manhã. Quando dá a hora, vou para o quarto e durmo mesmo, não fico enrolando e me distraindo com outras coisas, como televisão, computador, celular etc.”, afirma ele. Mesmo assim, Cauê também tem muito sono durante o dia e, aliás, ele percebe que é a pessoa da casa que mais tem sono.

SMS e ligações durante a noite perturbam o sono dos adolescentes

O uso de celular, videogame e internet à noite, perto da hora de dormir, pode causar alterações no sono dos adolescentes e levar a problemas como ansiedade e depressão. Foi o que publicou a jornalista Elisa Araújo, em seu blog Crianças e mídia, referindo-se a um estudo realizado nos EUA pelo Sleep Disorders Center do JFK Medical Center em Edison, Nova Jersey. A pesquisa, que analisou 40 adolescentes com distúrbios de sono, identificou que, em média, eles enviam cerca de 30 SMS ou e-mails por noite. “E disseram que fazem isso entre 10 minutos e 4 horas após seus pais terem mandado apagar as luzes para dormir. O estudo descobriu ainda que SMS ou ligações acordam os teens em média 1 vez a cada noite. De acordo com a pesquisa, metade dos pais não sabe que os filhos estão usando os eletrônicos nesse horário”.

As mudanças no cotidiano e a empolgação diante de tantas alternativas de distração vêm causando a falta do sono ideal na adolescência, e essa é uma das etapas da vida em que mais ocorrem distúrbios do sono. De acordo com a matéria da revista Veja, “o ideal seria que os adolescentes dormissem, em média, nove horas por noite. A maioria não dorme, no máximo, mais do que seis. A falta de sono pode levar a complicações que vão do comprometimento do rendimento escolar ao desenvolvimento de problemas de saúde.

A revolução hormonal que detona a adolescência tem impacto na produção da melatonina, o hormônio que regula a vontade de dormir. Secretado na ausência de luz solar, ele aciona uma região específica do cérebro, o núcleo supraquiasmático, responsável, entre outras funções, pela liberação de substâncias associadas ao sono. Nos adolescentes, a produção diária de melatonina sofre atraso de até quatro horas em relação à população em geral. Apesar de não se conhecerem as causas desse atraso, sabe-se que ele nada tem a ver com a vida moderna. Desde 2003, a psicóloga Fernanda Torres, da Universidade de São Paulo, acompanha os hábitos de sono dos adolescentes de uma tribo indígena do litoral paulista. Mesmo lá, onde não há nem luz elétrica, os jovens tendem a dormir uma hora mais tarde do que o resto do grupo. E, consequentemente, a acordar também depois de todo mundo”. Mas há fatores que podem amenizar o excesso de sono desses jovens. A matéria da Veja traz um boxe com dicas do que é possível fazer para regular o sono dos adolescentes. 

De acordo com a Fundação Nacional do Sono, o ideal é que os adolescentes estudem pela manhã e procurem ir para a cama mais cedo. “Quando isso não acontece, o fato de o jovem ficar acordado até mais tarde, seja no computador ou na televisão, quebra o ciclo natural do sono, criando uma série de situações conflituosas em casa, na escola e com ele mesmo. Ele sempre necessita da ajuda de um despertador ou de alguém da família para acordá-lo, está sempre atrasado para os seus compromissos e tem dificuldade de se manter alerta durante as aulas. Porque se priva do sono necessário, passa a sentir sonolência durante o dia e não sentir ânimo para estudar ou praticar esportes”.

Veja a seguir as possíveis consequências apontadas pela fundação devido à privação do sono nessa fase:

  • Limita a capacidade de aprender, escutar, concentrar e resolver problemas, provocando baixo rendimento escolar;  
  • Leva a comportamento agressivo e à impaciência com os colegas, professores ou membros da família, gerando situações de conflito e ansiedade;
  • Provoca a ansiedade e faz com que o jovem coma em demasia, levando a ganhos de peso;
  • Causa sonolência diurna, com cochilos, atrapalhando o adolescente na realização de suas tarefas diárias.

Entre as alternativas para manter os alunos acordados, uma escola britânica resolveu iniciar as aulas uma hora mais tarde, às 10h, como parte de um experimento científico, e já registrou queda significativa nos índices de ausência dos alunos. Além disso, os cientistas que monitoraram o experimento dizem que os alunos aprendem melhor à tarde. Para saber mais detalhes, veja a matéria Escola britânica muda horário das aulas e reduz faltas em 8%.

Após estudo, descanso merecido e necessário

E não basta ter um sono tranquilo para ter concentração e disposição durante o dia. Na hora do estudo, quando o aluno diz que está cansado, sem conseguir se concentrar, logo vem uma desconfiança: tanto para pais quanto para professores, isso parece ser mais uma desculpa para parar de estudar. E que o diga o estudante Cauê: “quando digo que estou com sono, meus pais acham que é preguiça minha. E, em época de prova, quando estudo mais, ou quando acabo indo dormir um pouco mais tarde, fica muito difícil controlar o sono e tenho muita dificuldade de me concentrar”.
Especialistas comprovam que o descanso é fundamental para o aluno que busca um estudo de qualidade. Em matéria publicada pelo jornal O Dia, a psicólogaGiana Falkemback afirma que o descanso entre os estudos é decisivo para a boa absorção dos conteúdos. "Isso é neurológico. É comprovado que um adulto não consegue ficar mais de 20 minutos concentrado. E se um adulto fica somente 20 minutos sem desvio de atenção, um jovem fica menos ainda", diz.

Para a psicóloga, que trabalha em dois cursos pré-vestibulares na cidade de Santa Maria, no Rio Grande do Sul, e atende muitos alunos prestes a enlouquecer no fim do ano, a cada 30 minutos de estudo, 10 minutos devem ser para arejar. Giana ainda destaca que um período de aprendizagem sem tempo de descontração resulta em um estudo de quantidade, e não de qualidade.

Para tentar driblar o sono e a dificuldade de concentração, os próprios estudantes encontram boas alternativas. A estudante Rayane, por exemplo, quando está em período de provas, estuda assim que chega da escola, para que não precise estudar até mais tarde. E fala mais: “costumo começar a estudar muito antes do período de provas, porque aí, quando chegam as provas, eu já sei o conteúdo”, completa ela.

Adolescentes com sono, adolescentes drogados?

Infelizmente, há situações em que o sono desequilibrado pode desencadear outros problemas mais sérios. Falando sobre comportamentos que são facilmente replicados por outros indivíduos que compartilham círculos sociais, o portal O que eu tenho?, do UOL, divulgou informações sobre uma pesquisa conjunta das Universidades da Califórnia, de San Diego e de Harvard, nos EUA. Tal pesquisa descobriu que a duplicação de um determinado hábito – como o sono desequilibrado – também influenciava negativamente outros padrões, como o uso de drogas. O estudo se baseou em informações vindas de mais de oito mil adolescentes entre o sétimo ano do Ensino Fundamental e o último ano do Ensino Médio.

“Os dados colhidos pelos pesquisadores levaram à descoberta de hábitos em grupo que, coincidentemente, associavam padrões de sono desregulados ao consumo de maconha. Esses grupos tinham, em média, até quatro ‘degraus de separação’, ou seja, os amigos de amigos em até 4º grau costumavam compartilhar os mesmos hábitos.

Outro resultado observado pelo estudo foi que os indivíduos centrais desses grupos eram os mais vulneráveis a ambos os hábitos (dormir pouco e consumir drogas). E, ao contrário da ideia geral, de que o uso de drogas compromete os padrões de sono, os pesquisadores observaram que, quanto pior o nível de sono dos adolescentes observados, maiores os círculos sociais desses indivíduos e, por alguma razão, maior o consumo de maconha”.

Pode parecer exagero associar o desequilíbrio do sono ao uso de drogas, mas é sempre interessante refletir e estar atento às influências que sofremos. Afinal, “nossos comportamentos são conectados às pessoas com as quais convivemos, e é preciso estar atento a como o comportamento alheio afeta nossas vidas em vários aspectos”. Todavia, levando o desequilíbrio do sono ao extremo ou não, o que se sabe ou o que a maioria deseja é que pequenas mudanças no cotidiano façam diferença para que se tenha mais saúde física e mental.

Para levar essa discussão e outros temas afins para a sala de aula, no link Hora de estudar, hora de dormir, a revista Nova Escola sugere aos professores um plano de aula baseado em uma reportagem da revista Veja que aborda o gradativo desaparecimento do hábito da siesta na Espanha. Como essa tradição tem raízes em fatores biológicos, a ideia é mostrar para os alunos como os ritmos e hábitos podem ser determinados por grupos de hormônios que funcionam como relógios biológicos, acertados por estímulos externos.

Link:
Adolescentes devem manter o sono regular mesmo durante as férias

Publicado em 25/01/2011

Publicado em 25 de janeiro de 2011

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