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Nem alunos condicionados pelo meio, nem formados desde o nascimento

Mariana Cruz

Como é de amplo conhecimento, a Psicologia Genética de Jean Piaget (1896-1980) abriu novos caminhos para a Pedagogia. As inovações do biólogo suíço nesse campo representaram um contraponto às tradições da pedagogia anglo-saxônica, em que as disciplinas eram ministradas de forma totalmente independente umas das outras. Piaget ressalta a necessidade do caráter interdisciplinar para a iniciação científica e defende que o ensino científico deve estar unido à pesquisa. Assim, o aluno deve desde pequeno tentar buscar por si próprio possíveis soluções para os problemas que surjam; quer dizer, ele deve participar ativamente das atividades propostas.

Piaget, em seu livro Para onde vai a educação, descreve dois polos que refletem pontos extremos da Pedagogia contemporânea: um que tenta fazer o aluno aprender por meio da repetição de exercícios e dos resultados obtidos, isto é, que busca o “condicionamento” do aluno; outro que se concentra nas atividades espontâneas das crianças. Além desses dois lados, Piaget chama atenção para o fato de que, devido à influência da Psicanálise, em alguns países buscou-se evitar que a criança se deparasse com qualquer tipo de frustração, o que acabou gerando uma liberdade sem limites. Esta, por sua vez, não trouxe resultado satisfatório no campo da Educação, o que acabou gerando reação e fez com que ocorresse uma espécie de desdobramento daqueles extremos supracitados.

Ocorreu então um fortalecimento da Educação baseada no condicionamento, com grande influência de Skinner, como acontece até os dias de hoje. De acordo com Piaget, esse “ensino programado por meio de associações progressivas mecanicamente ordenadas” (Piaget, 2001, p. 14), no que se refere à aprendizagem, pode ser considerado eficaz; entretanto, é ineficiente “no que concerne à invenção, a menos que, tal como experimentou Papert, seja entregue a programação à própria criança” (Piaget, 2001, p. 14).

Os blocos lógicos são um conjunto de pequenas peças geométricas divididas em quadrados, retângulos, triângulos e círculos com diferentes tamanhos, espessuras e cores e têm por finalidade auxiliar na aprendizagem de crianças na Educação Infantil.

Piaget se coloca como uma terceira via pedagógica diante de duas outras: aquela ligada às tradições anglo-saxônicas, que coloca o conhecimento como algo vindo de fora para dentro e se desenvolve a partir de exposições verbais ou visuais passadas do adulto para a criança; e a outra via, que acredita na ocorrência de um amadurecimento interno do indivíduo, baseando-se na crença de um certo inatismo. De acordo com tal corrente, a Educação consistiria em exercitar essa razão preexistente no indivíduo. A via de Piaget é a da natureza construtivista, que atribui “o começo da linguagem às estruturas construídas pela inteligência sensorial-motora preexistente” (Piaget, 2001, p. 16). Para tanto, ele se mostra favorável àquelas atividades que estimulem isso, como, por exemplo, o emprego dos blocos lógicos na aprendizagem da Matemática, uma vez que a compreensão de tal disciplina se dá originalmente em cima de bases qualitativas. Segundo Piaget, esse conjunto aparece como facilitador da aprendizagem das operações lógicas.

Hoje em dia muitas escolas se denominam construtivistas; apesar disso, percebe-se que muitas delas estão focadas numa pedagogia que visa os resultados, e para isso tendem a “condicionar” o aluno a aprender, o que vai contra a concepção piagetiana de Educação.

Será que já não está na hora de construir uma pedagogia verdadeiramente construtivista e deixar de usar tal termo apenas como um rótulo?

Bibliografia:

PIAGET, Jean. Para onde vai a educação? Trad. Ivette Braga. 20ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 2011.

Publicado em 25/10/2011

Publicado em 25 de outubro de 2011

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