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A competência leitora no Ensino Médio: uma análise das habilidades de leitura requeridas pelo Exame Nacional do Ensino Médio - Enem

Silvio Profirio da Silva

Graduando em Letras da Universidade Federal Rural de Pernambuco - UFRPE

Todos sabemos que a leitura é, no contexto atual, uma competência linguística de fundamental importância que surge como diferencial competitivo, sobretudo no que diz respeito aos processos seletivos, como é o caso do Enem e das provas de vestibular.
Sabemos também que, nos últimos anos, o ensino de língua [seja ela Portuguesa ou Estrangeira] tem passado por inúmeras alterações e modificações. Com a publicação dos documentos oficiais [PCNs e OCNs], surge um novo enfoque com base em uma perspectiva textual e, sobretudo, contextual. No Brasil, essa nova visão foi aceita e, acima de tudo, utilizada pelos órgãos que elaboram provas para exames e vestibulares.
Diante dessa perspectiva, as mais recentes provas de Língua Portuguesa lançam mão de um enfoque inovador, trazendo múltiplas e diversificadas estratégias de leitura.

Essa nova abordagem, pautada em uma perspectiva textual e contextual, requer que o leitor seja apto a compreender e interpretar diversos gêneros/tipos de texto a partir de diversas estratégias de leitura (Koch; Elias, 2006). Dentre essas novas estratégias e habilidades de leitura requeridas pelo Enem, destacam-se:

  1. Identificar o tema central/ideia central de um texto [em geral, expressa no primeiro parágrafo do texto], com o propósito de levar o leitor a perceber a temática em torno da qual o texto gira e o direcionamento/tratamento dado a esse tema, tendo em vista que um determinado tema é amplo/geral, mas passa por uma delimitação, o que dá a essa temática um direcionamento e uma linha de pensamento, evidenciando, assim, a relação geral X particular na construção temática do texto. Essa é a sua ideia central.
  2. Diferenciar as partes principais das secundárias em um texto. Essa habilidade tem por objetivo levar o leitor a perceber os argumentos/a argumentação [em geral, expressos no(s) parágrafo(s) intermediários] e a Pretensão Do Autor [em geral, expressa no último parágrafo]. Com isso, há o propósito de avaliar se o leitor consegue perceber a estrutura argumentativa do texto e as relações de hierarquia entre as partes desse texto. Dito de outra forma: os argumentos do autor [parágrafos do meio do texto] comprovam, justificam e sustentam a ideia central expressa no primeiro parágrafo. Já a pretensão [último parágrafo] evidencia a reflexão crítica do autor acerca do tema, podendo até mesmo apresentar solução para o problema discutido. Ainda no tocante à estrutura textual, podem ser cobrados do participante do exame conhecimentos relativos à tipologia do texto, isto é, se o texto é uma descrição, dissertação, narração ou injunção [ou também textos injuntivos, textos de procedimentos ou procedimentais]. Este último não é muito abordado nas escolas e, por esse motivo, muito abordado nesses exames. São as chamadas cascas de bananas. Os textos injuntivos são os que dizem/especificam como fazer algo, dando o passo a passo para realizar essa ação ou ato, tais como: receitas, manuais de instrução etc.
  3. Destaca-se, em especial, a habilidade de identificar a finalidade de textos de diferentes gêneros. Nessa habilidade, é avaliada a capacidade do leitor de perceber o propósito comunicativo do gênero, tendo como base elementos verbais [textos, falas e diálogos] e não verbais [imagens]. Assim, leva-se em conta a articulação de todos esses fatores/ elementos a fim de perceber a intenção comunicativa do autor (Koch; Elias, 2006). Como, por exemplo, em uma determinada propaganda, o leitor deve observar a forma/maneira como as informações são organizadas e expostas na superfície do texto, lançando mão da persuasão, para conseguir a adesão [convencimento] do leitor acerca do que é dito/expresso. Esse é apenas um exemplo, mas existem inúmeros gêneros textuais que circulam nessas provas com objetivos e propósitos diversos, conforme menciona a matriz de competências do INEP: “qual o objetivo do texto: informar, convencer, advertir, instruir, explicar, comentar, divertir, solicitar, recomendar etc.”.
  4. Interpretar texto com o auxílio de material gráfico diverso (charges, tirinhas, propagandas, quadrinhos, fotos etc.). Nessa habilidade, é avaliada a compreensão global dos elementos presentes no gênero textual por parte do leitor. Para tanto, ele é levado a trabalhar com os elementos verbais [frases, palavras, falas e diálogos] e não verbais [imagens], como também com os elementos contextualizadores internos [intratextuais] e elementos contextualizadores externos [extratextuais]. São exemplos destes últimos o título, a data de publicação, o local/meio/veículo de publicação e até mesmo o endereço ou nome do site onde foi publicado o gênero textual. Todos esses elementos auxiliam na construção/produção por parte do leitor, conforme sinalizam Koch (2002) e Koch & Elias (2006).
  5. A relação entre textos. Nessa habilidade, o leitor é levado a perceber as mais diversas formas de tratamento dado a uma determinada informação ou tema. Para isso, os exames, em geral, trazem dois textos ou gêneros textuais com a pretensão de compará-los e, por conseguinte, levar o leitor a perceber o tratamento/enfoque dado à informação/tema. Assim, o leitor deve perceber se a temática abordada por ambos é a mesma, se há relação entre os dois textos/gêneros textuais, se ambos concordam/discordam/concordam em parte. E até mesmo se há relação de intertextualidade ou de interdiscursividade entre ambos.

Todas essas habilidades de leitura são mencionadas pela matriz de competências do Saeb/Inep, o que evidencia não só o novo papel atribuído à leitura como construção e produção de sentidos (Koch, 2002; Koch; Elias, 2006), mas, sobretudo, demonstra a nova perspectiva de enfoque dado ao texto a partir de múltiplas e diversificadas estratégias de leitura.

Referências

BRASIL. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Matriz de competências do SAEB. Disponível em: http://portal.inep.gov.br/web/prova-brasil-e-saeb/exemplos-de-questoes2. Acesso em 15 out. 2011.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça. Desvendando os segredos do texto. São Paulo: Cortez, 2002.

KOCH, Ingedore Grunfeld Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006.

Publicado em 29/11/2011

Publicado em 29 de novembro de 2011

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