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Livros usados na cidade maravilhosa Parte 2 - Sebos no Rio de Janeiro

Alexandre Amorim

Descrever a img desde que não seja apenas ilustração

Na literatura, é comum encontrarmos o flaneur, aquele personagem que passeia ou anda sem rumo, mais preocupado em experimentar o que está em volta de si do que chegar a algum lugar. Rubem Fonseca escreveu sobre um tipo de passeante no conto A arte de andar nas ruas do Rio de Janeiro. Augusto, decerto inspirado no flaneur baudelairiano, andava e sorvia a cidade, mas tinha caminhos certos a percorrer.

Misturar caminhada com literatura pode trazer bons frutos. Escritores produzem obras-primas relacionando as duas práticas, mas os leitores também podem se aproveitar desse binômio – principalmente sendo cariocas. Como não aproveitar a beleza dessa cidade ao sair para comprar um livro?

Andando pelo Centro do Rio, o leitor-flaneur pode apreciar o Largo da Carioca parar para tomar um suco, olhando o movimento e comparando a modernidade dos prédios do BNDES e da Petrobras com a arquitetura colonial do Convento de Santo Antônio. Depois, atravessar a Avenida Rio Branco e descer para o subsolo do Edifício Marquês do Herval. Aqui, o leitor deve ter cuidado. Se estiver buscando livros usados e baratos, favor não entrar na Livraria Da Vinci – que é excelente, mas não é sebo... O sebo, mesmo, fica no fundo do corredor e se chama Berinjela. Livros distribuídos por poesia, teatro, filosofia, romances e outros temas, estantes de livros em inglês, francês, espanhol, alemão. Ali, algumas boas bibliotecas caseiras já foram “despejadas” e você pode sentar e conversar com os donos, que dão ótimas dicas e adoram um bom papo. Aliás, o leitor pode se deparar com uma disputa de futebol de botão ou uma torcida acompanhando um jogo em pleno sebo. Além, é claro, da bancada de CDs e DVDs.

Querendo adicionar à caminhada, além de literatura e arquitetura, um bom prato, o leitor deve andar até o Largo de São Francisco e entrar no Caffè Olé, onde será atendido por um espanhol e um alemão, ambos boas-praças. Peça o prato, a sobremesa e não se esqueça do café. Enquanto isso, deixe os olhos vagarem pela decoração e prateleiras do sebo Letra Viva, que funciona junto com o bistrô. Agora pode se levantar e procurar pelo seu livro. Ou andar pelo sebo e escolher livros que você já havia esquecido que queria ler. Café e sebo em um mesmo lugar é uma combinação perfeita.

É quase o que acontece no sebo Luzes da Cidade. A loja funciona no cinema Estação Sesc Rio, na Rua Voluntários da Pátria, em Botafogo. Isso significa que o leitor deve pegar um ônibus no Centro e vir admirando a Praia do Flamengo, o Aterro, a enseada de Botafogo e – é claro – o Pão de Açúcar. O sebo Luzes da Cidade tem uma variedade grande de títulos, mas os preços estão um pouco acima da média dos sebos em geral. Se o dinheiro está sobrando, após comprar seu livro, você ainda pode lanchar um pastelzinho de queijo meia-cura ali mesmo, no café do cinema. E, quem sabe, pegar um filminho. Vai que o livro que você leu virou filme?

Bom, o leitor já se fartou da beleza arquitetônica e natural do Rio, de boas letras e boa comida. Já foi até ao cinema. Mas, se é um flaneur e um leitor de verdade, precisa pegar o metrô (ou ir andando, se for seguir à risca o título de flaneur) até a Rua Barata Ribeiro, em Copacabana. É certo que o bairro é uma bagunça de concreto e gente e que, a princípio, assusta um pouco. É certo, também, que a beleza natural se limita a quem olha o mar e que a arquitetura não é muito harmônica, mas o sebo Baratos da Ribeiro é quase obrigatório na caça a algum livro. Ou a alguma HQ. Ou a algum LP (sim, em vinil). Ali também é lugar de bom papo com os donos ou com os clientes, e você pode até participar dos clubes do Vinil ou da Leitura. Dando sorte, pode entrar e deparar com algum lançamento de livro ou revista. Copacabana é um microcosmo em constante ebulição e a Baratos é um epicentro cultural dessa agitação toda.

Depois desse dia cheio de andanças e leituras, cabe ao leitor escolher como descansar. Mas, se eu fosse você, dava uma caminhada até o Cervantes, sentava, pedia um chope e abria um dos livros que comprou.

Aqui, alguns sites de sebos mencionados neste artigo:
http://www.luzesdacidade.com.br/
http://www.baratosdaribeiro.com.br/
http://www.caffeole.com.br

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06/12/2011

Publicado em 06 de dezembro de 2011

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