Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

EDUCAÇÃO AMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE GLOBAL

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Pesquisador da UFPB, professor de Educação Básica

Educação Ambiental (EA), antes de tudo, é trabalhar em prol da qualidade de vida e da sustentabilidade para esta e as futuras gerações, através da diagnose de problemas que afetam o meio ambiente pelas inúmeras ações antrópicas que o modificam e que estão vinculadas diretamente à falta de consciência, respeito e do pleno exercício da cidadania na sociedade humana (Córdula, 2011b). Porém, tal advento de inconsciência persiste ao longo das décadas, desde a formação da pólis e que se acelerou com a Revolução Industrial. Para mudar esse quadro, faz-se necessária a incorporação, pela nossa sociedade, de uma cultura de preservação individual e coletiva (Dias, 1998).

Mas por que a Educação Ambiental pouco consegue na consciência de proteção dos recursos naturais dos brasileiros na atualidade? Primeiro porque consciência não se faz, e sim se induz por meio de processos de sensibilização e estímulo, com mensagens sobre a problemática em questão. Segundo, porque a visão do ser sobre si mesmo precisa ser mudada, redirecionando novos paradigmas para que consigamos cidadãos que tragam mudanças ao cenário local e com reflexos ao cenário global (Córdula, 2010b; Trigueiro, 2005).

Somos todos contemporâneos de um impasse civilizatório, cultivando nas entranhas de um modelo de desenvolvimento que vem exaurindo, em velocidade assustadora e numa escala sem precedentes, os recursos naturais não renováveis do planeta, com impactos negativos sobre a qualidade de vida da população (Trigueiro, 2005, p. 7).

Estamos consumindo em larga escala os recursos naturais energéticos, a ponto de exaurir o planeta, gerando como consequência uma carga de gases de efeito estufa que saturou os ciclos biológicos e bioquímicos do planeta, não podendo ser mais absorvidos, provocando o aquecimento global (Dias, 2002; Trigueiro, 2005; Córdula; 2010a).

Tudo se deve simplesmente ao fato da neomania (consumismo) exacerbada da população mundial, principalmente nos países desenvolvidos, chegando ao ponto da compulsividade e se tornando um grave problema psicossocial (Capra, 2006). Consumimos atualmente 20% a mais do que a Terra consegue sustentar. Corroborando o fato relatado no início deste parágrafo, hoje 20% da população mundial consomem 86% de tudo que é produzido no planeta (alimentação, vestuários, tecnologias, energia etc.) (Trigueiro, 2005, p. 26).

Por essa razão, estamos gastando esforços na direção errada do problema do aquecimento global. Devemos, sim, nos voltar para as populações e sensibilizá-las para as questões da sustentabilidade, consumo consciente e equidade social.

A visão sistêmica do ser humano, que, para Trigueiro (2005, p. 7), significa “a compreensão de que o universo se revela como uma rede de fenômenos interligados e interdependentes”, segundo Córdula (2011) já não satisfaz mais quanto ao entendimento de nossa própria espécie. Devemos adotar a máxima complexidade coletiva e individual pela qual somos constituídos, evolutivamente, historicamente, tecnologicamente e espiritualmente, ou seja, para um ser humano holostêmico.

Esse consumo traz como consequência resíduos que se acumulam nas áreas urbanas e geram aumento da poluição e da quantidade de lixo nos aterros sanitários e/ou lixões, que emanam gases e que poderiam ser reaproveitados como fonte geradora de energia; alguns de seus componentes poderiam ser reciclados (Dias, 2002; Trigueiro; 2005). Quanto maior o crescimento populacional, maior o consumismo e maior o despejo de lixo nas áreas urbanas, principalmente nas ruas; “em 63% das cidades brasileiras o lixo é abandonado a céu aberto, em vazadouros” (Trigueiro, 2005, p. 202).

A informação, em si, não ilumina. Não se consegue esclarecer o que seja má informação, desinformação ou propaganda enganosa neste ambiente dominado e ‘adulterado’ pelos meios de comunicação. A excessiva ênfase dada à simples informação levou a uma sobrecarga de bilhões de partículas de dados primários, fragmentada e cada vez menos significativos, e não à busca de novos padrões significativos de conhecimento. Minha visão nascente Era da Luz envolve uma repadronização da Era da Informação, que agora se estilhaça. Isso exige nada menos que uma mudança de paradigma, uma visão holística da família humana como um todo, hoje inextricavelmente ligada pelas tecnologias que circundam todo o globo. A Terra volta a ser percebida como um planeta vivo, e a visão mais apropriada é orgânica e baseada nos modelos auto-organizadores das ciências da vida. As ciências biológicas passam a ser ‘lentes’ mais úteis, e não é por acaso que as biotecnologias estão se tornando nossas ferramentas mais ambíguas do ponto de vista moral (Hazel Henderson, citado por Trigueiro, 2005, p. 262).

Portanto, devemos nos voltar a uma educação para a sustentabilidade e o consumo consciente, que, consequentemente, se reverterão na redução dos poluentes na superfície deste planeta, reduzindo também a emissão dos gases do efeito estufa e na reversão dos efeitos catastróficos do aquecimento global ao longo do tempo. E é na escola, que devemos implantar esse novo paradigma (padrão) para lecionar aos nossos alunos, futuros cidadãos, que tragam e façam escolhas conscientes na busca da qualidade de vida (Córdula, 2011).

Para que tenhamos um trabalho com resultados proporcionais à realidade vivenciada, precisamos escolher um tema para foco que interligue vários outros conhecimentos e que esteja diretamente relacionado à problemática ambiental gritante, que é o aquecimento global (AG). Nessa rede viva de conexões que mantém o equilíbrio global e que está em declínio acelerado, temos o problema secular do resíduo sólido doméstico, que é o maior problema enfrentado nos centros urbanos, que provoca poluição dos ambientes e favorece o AG (Córdula, 2010b, p. 97).

Com a disciplinaridade, a interdisciplinaridade e a multidisciplinaridade, podemos introduzir e correlacionar os conhecimentos necessários para sensibilizar nossas crianças, desde os simples 3Rs (reduzir, reaproveitar e reciclar), passando pela contextualização da problemática do cotidiano do aluno e/ou da comunidade do entorno da escola com projetos didáticos aplicáveis nesses ambientes e na própria família do alunado, tornando-os multiplicadores do ideal ambiental; com isso, chegarmos à tão almejada consciência planetária holostêmica (Córdula, 2010a; Córdula, 2011).

REFÊRENCIAS

CAPRA, F. O ponto de mutação. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Cultrix, 2006.
CÓRDULA, E. B. L. Meio ambiente, ser humano e aquecimento global. Revista Eletrônica Educação Ambiental em Ação, n° 34, ano IX, 05 dez. 2010a. Disponível em: http://www.revistaea.org/artigo.php?idartigo=922&class=02. Acesso em 05 dez. 2010.
CÓRDULA, E. B. L. Educação Ambiental Integradora (EAI): unindo saberes em prol da consciência ambiental sobre a problemática do lixo. Rev. Brasileira de Educação Ambiental (REVBEA), v. 05, n° 01, 2010b, p. 96-103. Disponível em: http://www.seer.furg.br/ojs/index.php/revbea/issue/view/211/showToc. Acesso em: 19 dez. 2010.
CÓRDULA, E. B. L. O ser humano: da concepção criacionista à holostêmica. Rev. Educação Pública, n° 31, 31 mar. 2011. Disponível em: http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/filosofia/0069.html. Acesso em: 31 mar. 2011.
DIAS, G. F. Educação Ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998.
DIAS, G. F. Iniciação à temática ambiental. São Paulo: Gaia, 2002.
TRIGUEIRO, A. Mundo sustentável: abrindo espaços na mídia para um planeta em transformação. São Paulo: Globo, 2005.

Publicado em 20/12/2011

Publicado em 20 de dezembro de 2011

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.