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Expectativas para o primeiro emprego

Tatiana Serra

Jovens que idealizam a primeira oportunidade num mercado de trabalho que exige muito... Calma! Há alternativas para um bom começo.

Era uma tarde das primeiras semanas de janeiro deste ano quando dois jovens amigos, ambos com 18 anos, se esbarraram ao atravessar a rua. Eles não se viam desde novembro passado, quando concluíram o Ensino Médio. Um deles, Maurício, estava, desde então, envolvido com as provas do vestibular; o outro, Guilherme, estava em busca de seu primeiro emprego e, acompanhado de sua irmã mais velha, Gisele, de 23 anos, estava voltando de uma entrevista de emprego. Como de costume, em todo começo de ano, a conversa teve início com as expectativas dos amigos para 2011:  

Maurício – Oi, Guilherme, tudo bem? Todo arrumado... Está vindo da onde?

Guilherme –E aí, Maurício, como você está? Conhece minha irmã? Essa aqui é a Gisele. Estamos voltando de uma entrevista de emprego que fui fazer.

Maurício –Oi, Gisele, tudo bem?

Gisele –Oi, Maurício. Mas você também está todo arrumado...

Maurício –Pois é, fui fazer matrícula na faculdade. Passei para o curso de Administração. Em seguida, também fui me candidatar a uma vaga numa empresa de telemarketing. Mas e a sua entrevista, como foi?

Guilherme –Sei lá. Foi para uma vaga de vendedor em uma loja. Mas saí muito inseguro... Sabe como é, sempre que a gente diz que não tem experiência o entrevistador olha de cara feia.

Maurício –Todo mundo fala que o jovem tem mais oportunidades para encontrar o primeiro emprego. Mas será que, em algum dia, algum anúncio de emprego vai dizer: “não exigimos experiência profissional, apenas queremos experiência em educação, disposição e dedicação”?

Gisele, que faz faculdade de Psicologia e trabalha no setor de atendimento de uma agência de empregos, tentou animar os meninos:

Gisele –Hoje em dia, tem setores, como comércio e serviços, que estão contratando profissionais sem experiência, mas exigindo Ensino Médio completo. Daí aumentam as chances de encontrar empregos como vendedor, auxiliar administrativo e atendente de telemarketing. Tem estatística demonstrando até que, em algumas regiões, a geração de empregos está maior do que a quantidade de pessoas que buscam entrar no mercado de trabalho (de acordo com dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - Dieese). Parece que hoje a principal barreira é o nível educacional.

Guilherme –Mas já mandei currículo para tantas empresas nos últimos meses que dá até desânimo.

Maurício –Mal comecei a procurar e já estava me desanimando. Mas o Guilherme já tinha me dito que você trabalha numa agência de empregos; ouvindo isso, fico com mais disposição para continuar buscando.

Gisele – Mesmo assim, é bom não criar grandes expectativas para muito à frente. Há pontos positivos e outros nem tanto ao iniciar a vida profissional nos setores de comércio e de serviços. Disciplina, responsabilidade, relação com chefe e colegas, tudo isso são aprendizados que se leva por toda a vida. Mas, com o tempo, é importante buscar melhores oportunidades. Normalmente, o trabalho como vendedor de loja ou operador de telemarketing deve ser encarado como uma boa experiência, mas passageira. Sempre vale a pena investir em educação para saltar mais alto.

Maurício – Eu entendo. Mas também me deixa inseguro saber que, enquanto eu não tenho uma profissão nem experiência em nenhuma área, talvez as únicas portas abertas estejam em lojas e telemarketing. Sei que esses setores têm seu valor e que toda experiência é válida, mas tenho medo de sair do caminho que idealizo.

Gisele – Outro dia li um texto sobre qual seria a função da Educação: preparar os alunos para a vida em sociedade ou para o mundo do trabalho? Em geral, educadores de esquerda defendem uma educação direcionada para a vida em sociedade e professores adeptos do neoliberalismo defendem um ensino que prepare os alunos para ocupar uma posição no mercado de trabalho. Mas acho que nas últimas eleições nenhum dos candidatos à presidência deu muito valor à Educação. Do pouco que falaram, defenderam a educação profissionalizante como forma de ascensão social. Até pouco tempo atrás, muita gente condenaria essa proposta, e ainda há quem condene. Eles devem ter feito isso porque sabem que a população mais pobre e parte da classe média veem a educação profissionalizante como a melhor alternativa. Mas será que profissionalizar gera automaticamente empregos? Há quem diga que, sem mudar a economia, os empregos serão os mesmos e que pouquíssimas empresas deixam de investir no Brasil por falta de mão de obra qualificada. Acho que o ensino técnico tem seus benefícios, mas não pode ser a única opção para o jovem, muito menos a única opção de ensino público de qualidade. Muito mais ainda pode ser oferecido aos jovens.

Guilherme – Desde que terminei o Ensino Médio, ou melhor, desde antes disso, eu já me perguntava como conquistaria meu primeiro emprego. Eu gostaria de entrar logo no mercado de trabalho e cheguei a pensar em fazer um desses cursos profissionalizantes no lugar de cursar o Ensino Médio regular.

Maurício – Hoje em dia meus pais têm uma situação financeira um pouco melhor, mas quando meu irmão mais velho tinha uns quinze anos não teve nem tempo de pensar muito. Ele precisava ajudar a família e cursou o 2º Grau técnico, pois precisava conciliar trabalho e estudo e logo melhorar seu currículo. Depois de um tempo, ele quis fazer uma faculdade e, ao prestar o vestibular, teve muita dificuldade com relação aos estudos. Hoje, meu irmão tem 30 anos e acabou de terminar a faculdade, mas, ao longo do curso, chegou a perder algumas oportunidades de trabalho por não ter o diploma em mãos. Definitivamente, em vários casos não basta você ter anos de experiência em determinada área.

Guilherme – Cheguei a pensar em não fazer faculdade e me dedicar somente ao trabalho. Mas vi que o diploma é uma exigência frequente. E desde que comecei a pensar em fazer faculdade tenho procurado trabalhos melhores para conseguir pagar também meus estudos. Varias vezes fico achando que um dia posso não conseguir levar estudo e trabalho e, se tiver que escolher, não terei outra opção senão o trabalho.

Maurício – E o pior é que, seja trabalhando em outra área ou só nos dedicando aos estudos, não teremos como evitar uma dificuldade que parece ser maior ainda: quando a gente estiver com o diploma em mãos, ou mesmo antes disso, quando estiver procurando estágio, a verdade é que a maioria dos lugares vai exigir experiência sem que a gente tenha tido a primeira chance.

Guilherme – Nem me fale, me pergunto tanta coisa: por onde começar? Como enfrentar uma entrevista de emprego sem tremer? E o currículo, como preencher? O que devo falar quando me perguntarem sobre minha experiência anterior? Demora muito pra conseguir um emprego? Será que vou me adaptar?

Gisele – Calma, meninos. Essas dúvidas surgem e são normais. Acho que todo mundo vai ter que lidar com essas e outras inseguranças em algum momento. Mas, para quem está atrás do primeiro emprego, o ideal é analisar quais são os objetivos hoje e adequá-los às suas necessidades pessoais. Porque nem sempre a primeira experiência de trabalho será na área que você escolheu para sua vida profissional. Relaxem!

Guilherme – Pois é. Enquanto procuro, e até mesmo para controlar minha ansiedade, estou tentando seguir uma rotina, reservando horários específicos para procurar vagas e buscando mais informações sobre as áreas em que eu poderia trabalhar.

Maurício – Acho que isso ajuda mesmo, boa ideia! Eu posso até organizar minha semana toda, priorizando o que fazer. Com certeza isso vai me deixar menos ansioso e vou terminar a semana me sentindo mais produtivo.

Gisele – É preciso se organizar em tudo. E mesmo quem não é muito organizado pode aprender a ser; assim já se vai exercitando para a vida profissional.

Maurício –Acho que é melhor ir aos poucos para não atropelar as etapas. Quero muito ter meu primeiro emprego e conquistar certa independência, mesmo antes de começar a faculdade. Mas preciso ter consciência de que as coisas acontecem ao seu tempo.

Ao se despedirem, os três jovens se desejaram boa sorte e sucesso em suas conquistas. Os dois amigos, especialmente, se prometeram calma e vigilância quanto às oportunidades que surgirem. E que venham elas já em 2011, se possível!

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Publicado em 01 de janeiro de 2011

Publicado em 01 de fevereiro de 2011

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