Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
Jornal como recurso pedagógico
Mariana Cruz
Em entrevista para o site EducaBrasil publicada em 8 de fevereiro de 2002, a historiadora Flávia Aidar aponta as vantagens de utilizar o jornal em sala de aula e dá algumas sugestões de como ele pode servir como recurso pedagógico. Em Língua Portuguesa, por exemplo, ela mostra que os professores “podem trabalhar com as imagens (fotojornalismo) escondendo a legenda e solicitar que os alunos legendem a imagem, deem um título ao texto ou, a partir do texto de uma notícia, criar uma manchete”.
Não só em Português como em diversas outras disciplinas, o jornal pode ser excelente instrumento de apoio, além de tornar as aulas mais dinâmicas e interessantes. Notícias da época em que Barack Obama foi eleito o primeiro presidente negro dos Estados Unidos podem produzir excelente material sobre questões raciais – uma boa discussão para as aulas de História e Sociologia.
Tais disciplinas podem também trabalhar questões de gênero; investigar, por exemplo, a situação da mulher do mundo, como a mulher é vista no Brasil e internacionalmente. Para isso, pode-se utilizar o caso da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada em 2007 ao apedrejamento por adultério e que, após apelos internacionais, teve a pena trocada para enforcamento. Tal ato de crueldade, agora divulgado mundialmente, pode gerar diversas discussões: quantas mulheres até hoje foram mortas por apedrejamento naquele lugar? E no Brasil, como é vista a mulher? Para enriquecer o debate sobre o tema, por que não trabalhar notícias recentes sobre a eleição de nossa primeira presidente?
Eventos esportivos que envolvem países de todo o mundo, como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, podem ter suas notícias utilizadas em disciplinas como Educação Física; História (estudo da origem de cada país e das diferenças culturais entre eles); Geografia (localização, características físicas e econômicas de cada nação); Matemática (no caso das Olimpíadas, pode-se fazer a contagem das medalhas e os diferentes valores atribuídos às medalhas de ouro, prata e bronze; na Copa do Mundo, pode-se utilizar a Matemática para fazer a contagem dos pontos de cada seleção); Física (a trajetória da bola, a leis da gravidade que os atletas olímpicos por vezes parecem desafiar, a aceleração dos corpos etc.); Filosofia (a origem dos jogos olímpicos na Grécia Antiga e sua relação com a mitologia). Como se vê, tais acontecimentos podem mesmo se tornar grandes projetos transdisciplinares.
Desequilíbrio ecológico, desastres ambientais e outros danos à natureza estão a toda hora nos jornais e podem ser estudados com propriedade em Biologia e Geografia, assim como a recente tragédia ocorrida na Região Serrana do Rio de Janeiro. O episódio envolveu diversos aspectos relacionados a essas disciplinas, como desgaste do solo, deslizamento de terras, erosão, força das chuvas e ocupação humana desorganizada nas áreas de risco, entre outras coisas que podem ser discutidas utilizando notícias. E, devido ao grande espaço que tal catástrofe tomou na mídia, é quase certo que vá despertar grande interesse dos alunos.
Estes são apenas alguns exemplos pontuais de como utilizar as notícias do jornal em sala de aula. Dependendo da criatividade do professor e do interesse da turma, tal atividade pode dar bons frutos, pois, de acordo com Flávia, essa prática faz com que o aluno ative “habilidades mentais que exigem múltiplas operações até chegar a uma resposta. Ao contrário dos antigos questionários, que têm como referência um dado texto e só exige do aluno que ele localize onde está a resposta esperada pelo professor”.
Mesmo que, por diversas vezes, o jornal apresente uma visão parcial na análise dos fatos, a historiadora considera que o foco deve ser formar um “leitor crítico”. Para isso, o professor deve saber interpretar o que está nas entrelinhas das notícias do jornal e, dessa forma, ser capaz de “ensinar” seu aluno a “analisar os diferentes discursos, identificar os diferentes elementos que compõem a linguagem jornalística”.
Publicado em 01 de fevereiro de 2011
Publicado em 01 de fevereiro de 2011
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.