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A roupa que nos define
Tatiana Serra
Também chamada de vestuário ou indumentária, a roupa é usada basicamente para proteger o corpo e aquecê-lo, ou pelo menos deveria ser assim. O que vemos é que a roupa carrega valores sociais e culturais, unindo ou segregando indivíduos, além de outros fatores que também influenciam na escolha da roupa como: conforto, bom-senso, status, o clima da região e, especialmente, as crenças religiosas.
Por falar em crenças, não se sabe ao certo quando o ser humano começou a fazer uso de roupa, mas talvez uma das explicações para a origem do vestuário esteja relacionada ao conceito do pecado, de acordo com a Bíblia. Isso porque Adão e Eva teriam desrespeitado os mandamentos de Deus, comendo o fruto proibido e se reconhecendo nus. Assim, se deparariam com a sensação de pudor e passariam a usar uma cinta feita com folhas de figueira.
Outra possível explicação estaria na Pré-História, quando os caçadores usavam peles de animais para se proteger do frio e passar a imagem de serem mais fortes – assim como os animais fazem instintivamente.
Vestindo a camisa
Culturalmente, as roupas definem ideologias de vida. Por meio de suas características, elas contam a história de cada povo. Conforme o tempo vai passando, mesmo que outras culturas venham a influenciar os indivíduos, sempre haverá traços de seu povo de origem.
As roupas também têm a ver com a aceitação num grupo social. No mundo contemporâneo, vimos isso bem definido nos times de futebol. Nem tanto dentro de campo, onde obviamente é preciso que haja distinção entre os adversários, mas percebemos o excesso do “vestir a camisa” entre os torcedores, que deveriam ir aos estádios por pura diversão, mas são hoje dos maiores representantes da violência e da intolerância. Vale lembrar que nem todos os torcedores agem assim, mas infelizmente a minoria vem se destacando.
Uniformes: padronização necessária?
De acordo com o dicionário Michaelis, uniforme é aquilo “que tem uma só forma; que tem a mesma forma; igual, idêntico; muito semelhante; conforme”. Em nosso cotidiano, vimos que os uniformes ajudam a organizar a sociedade. Na área da saúde, podemos identificar um profissional pela roupa que ele usa; as forças armadas também reproduzem sua hierarquia com os uniformes. Como parte dessa organização social, as escolas também costumam adotar o uso dos uniformes para padronizar os alunos, além de facilitar a identificação e o controle da entrada e saída de pessoas nas instituições de ensino e divulgá-la pela região.
Outros fatores também motivam esse uso, como a praticidade e a economia de roupa para alunos e pais, além da tentativa de controlar a vaidade e o consumismo típicos da adolescência. Mas será que isso é possível? Somente o seria se as escolas também padronizassem os sapatos, as mochilas, os estojos, as canetas e mais: os aparelhos celulares, as preferências musicais, o que os alunos comem (e isso muitas já fazem)... Enfim, deve-se ter cuidado com a padronização, pois os uniformes deveriam ser usados com o intuito de colaborar com a organização do ambiente escolar e não para ofuscar gostos e manifestações individuais.
É provável que o uso do uniforme escolar tenha origem no exército, uma das primeiras instituições a padronizar a roupa dos militares. No início, somente as escolas mais tradicionais faziam uso dos uniformes; depois, a maioria passou a fazer o mesmo. Eles já estiveram em moda, e sua simbologia ia além, sendo inclusive sinônimo de aceitação social – dependendo da instituição de ensino, os uniformes eram encarados como orgulho ou vergonha pelos estudantes. Ao longo do tempo, os uniformes passaram por altos e baixos; muitas instituições, principalmente as privadas, mudaram os modelos de seu uniforme em prol do conforto, da modernidade, e para resgatar a vontade dos estudantes de usar a roupa da escola.
Ainda há muita gente que defende o uso obrigatório do uniforme escolar. Na opinião do professor Vicente Martins, mestre em política educacional pela Universidade Federal do Ceará (UFC), em entrevista ao jornal O Povo, de Fortaleza-CE, há pelo menos três fortes razões para a obrigatoriedade do uso de uniforme escolar nas escolas públicas e privadas de educação básica no Brasil.
A primeira razão é a segurança dos alunos, especialmente as crianças da primeira infância, quando estão fora da escola. “No contexto de tanta violência contra o menor, especialmente crimes de pedofilia e estupros, o uniforme é inibidor para os inescrupulosos”, enfatiza Vicente. A segunda razão refere-se à segurança dos alunos dentro da escola, diminuindo a possibilidade de que pessoas não autorizadas circulem por lá. A terceira razão para o uso de uniforme escolar diz respeito à identidade estudantil. “Todos os cidadãos poderão, diante de alunos fardados, identificar suas escolas. Quando em situação de ‘gazear’ ou ‘matar’ aulas, as rondas escolares, através dos agentes da guarda municipal, ou mesmo populares, podem fazer a denúncia à direção das escolas ou aos conselhos tutelares e (re)encaminhar os ‘gazeadores’ à escola ou aos pais ou responsáveis”, acredita Vicente.
Apostando numa resolução coletiva – vinda dos representantes políticos, das escolas, dos alunos e de seus responsáveis –, o professor Vicente acredita que, assim, todos estariam corresponsáveis pelo uso do uniforme escolar. E diz ainda: “entendo que cabe ao Poder Público oferecer condições materiais às famílias, especialmente as que têm seus filhos nas escolas públicas, para o uso obrigatório da farda escolar. Alguns municípios já têm essa prática, mas poderiam, por força de lei, ofertar um kit de uniforme escolar para os alunos carentes, de modo a assegurar as condições do uso do uniforme escolar para todos os matriculados na rede pública de ensino”.
Fazendo uso do uniforme ou não, o mais importante é que a escola não faça dos alunos indivíduos uniformes, monótonos, invariáveis (outra definição para a palavra uniforme, segundo o Michaelis).
Publicado em 15 de fevereiro de 2011
Publicado em 15 de fevereiro de 2011
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