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O que é a Idade Média?

Nathália Lacerda

Graduanda em História (UFRJ); do Programa de Estudos Medievais do Instituto de História; bolsista Faperj

Não é novidade que as leituras do passado, feitas pelos homens de diferentes épocas, trazem cada uma conclusões das mais diversas possíveis. No caso da Idade Média, o interesse geral parece figurar no insólito, no exótico, no diferente, para o lado negativo – com a concepção de “idade das trevas” – ou para o positivo – associado ao lúdico, do qual o rei Artur é o grande exemplo. Aquilo que tanto se distancia do tempo presente e foi estigmatizado pelas sociedades imediatamente posteriores acabou perpetuando-se de alguma forma. Nesse sentido, a pergunta-título deste texto talvez seja apenas retórica, objetivando incutir uma reflexão sobre a imagem que temos hoje dos diferentes períodos da História. Não pretendemos definir aqui o que foi a Idade Média, mas ponderar um pouco sobre suas diferentes percepções ao longo do tempo e sua releitura feita a partir da Nova História.

O termo “Idade Média”, por si só, conceitua o período como um intervalo entre outros dois momentos, a Antiguidade Clássica e o Renascimento, ao qual devemos essa nomenclatura. Os homens da Idade Moderna elaboraram tal conceito em contraposição à sua “época de luz”, inspirada nas civilizações grega e romana. O mito historiográfico renascentista e iluminista que caracterizou o medievo como uma época obscura, na qual o saber era restrito, o domínio da Igreja Católica era absoluto e o progresso humano fora interrompido, perpetuou-se tanto no meio acadêmico quanto no senso comum. Até hoje, apesar dos inegáveis avanços, percebemos nos livros didáticos uma visão estereotipada desse passado.

Na margem oposta verificamos uma leitura não menos problemática. Os românticos da primeira metade do século XIX também compreenderam a Idade Média de acordo com seus próprios referenciais. Invertendo tanto quanto possível o sentido dado ao período que vai, didaticamente falando, do século V ao XV, esses homens ressaltaram o que poderíamos chamar de “pontos positivos” da Idade Média. Situando nela a origem das nacionalidades, preocupação mais que presente no século XIX, e revestindo-a de paixões e inocência, o bucólico inspirador era aqui exaltado.

Entre o pessimismo renascentista e iluminista e a exaltação romântica, o século XX procurou pensar a Idade Média com os olhos do homem medieval. A Escola dos Annales, com suas novas abordagens, perspectivas, metodologias e objetos, abriu caminho para uma leitura menos parcial da História, o que permitiu que as pesquisas sobre o medievo desconstruíssem paradigmas elaborados entre os séculos XVI e o XIX, revestidos de juízos de valor.

A proposta de pensar a Idade Média com os olhos da Idade Média tem sido, então, o norte dos estudos contemporâneos. Vale ressaltar, contudo, que nenhum historiador é capaz de se distanciar completamente de sua própria época. Por mais que busquemos nos despir de preconceitos e analisar nossos objetos para além de concepções individuais, a historiografia é, sem dúvida, produto de seu tempo, dialoga de uma forma ou de outra com questões presentes no momento em que é elaborada.

A proposta consistiria muito mais em formular problemáticas, hipóteses e respostas possíveis do que construir uma verdade absoluta sobre o período.

Publicado em 03/01/2012

Publicado em 03 de janeiro de 2012

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