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Paz na Escola Rap Quase
Denilson Cardoso de Araújo
Serventuário do TJ-RJ na Vara da Infância, Juventude e Idoso de Petrópolis, coordenador do programa Escola da Paz
Os tempos do agora te entrego na lata. Chumbo da angústia, te digo na letra: que todo esse hoje são dias de medo. A real da escola é o luto! que nesta trilha ofereço. Vê só, o jornal noticia: na calada se mata um garoto encolhido. Na sala vazia, do professor cai a lágrima, no giz do silêncio enrustido. Longe passa, com a pedagogia arriada, o diretor safenado abatido. E infelizmente muitos pais “nem aí” e certas mães “nem te ligo”.
Aluno indigno, no corredor esfola o colega mais fraco e cativo. Vacilão, aquele aluno drogado atrapalha. Outro é idiota xerife da escola. Traz o facão para a aula, sem saber que o três-oito o aguarda. Facção, droga podre que corrompe na quadra. Drama triste, essa escolha bandalha. Comédia sem riso achar covardia valente, quando a tragédia insistente destrói cada dia. Vazia cabeça dessa gente vadia, que bolina, ameaça e avacalha. Só na caveira feita se empreita e com triste vocação da desfeita destrói o bem que, já magro, no esforço dos bons inda tenta e persiste.
Que beira de abismo fizemos? O que permitimos? O que tanto corrói? Adolescência mirando alvo errado em seu berro. Gente há na revolta correta, operando, entretanto, em razão desastrada. Pesado e insano esse trágico engano. Queimamos o filme do templo sagrado. Sereno local de firme aprendizado virou murcha flor pisada ao relento. Lágrimas-rio encharcando pátios de vento. Mães desesperadas têm gotas de sangue no lábio. Veem pelo chão esburacado das quadras a demência da derrotada inocência. A criança mais linda que passa já foi, já era, era cheia de graça. Encheu a cara no funk mais vulgar da infância fugaz. Barriga em riste, garota parindo criança, duas vidas já cedo em calvário. Cara cheia, droga-trapaça e sexo banal: receita exata do mal que mal se disfarça. Assim faz de Brasil da Silva, esse adolescente, nada mais que um otário demente. Sina escrava da triste pessoa, povo em senzala itinerário, sobra, refugo, ser desnecessário.
Levanta garota, acende luz nessa tua ideia! Reage, moleque, e vê se dá um breque. Precisamos resgatar do abismo da tensão essa escola em naufrágio. Apaziguar a zoação que no pátio interno traveste o inferno da guerra acirrada em cruel diversão. Chega dessa pedra que zune no vidro que trinca, da parede que picha e essa mão que assassina. Basta à tristeza que ensina ao moleque seu medo e ao professor um receio. Já deu. É só você que bobeia, na boa, é a tua cabeça que enfeia quando cai essa casa em que você mesmo, à toa, pôs fogo.
Firmeza, te digo: o aluno é capaz, mas às vezes tá “se achando” demais. Todo marechal, integralmente rei, completamente patrão. Ilusão. Alteza despida, sem trono, sem cetro, é o que dele eu sei. Trapalhão, não saca que uma só gota não flui, que a solitária andorinha não alcança a estação. Sem fraternidade e estudo constante, seu destino vil é o poço profundo. Somente. O fútil vive rindo agora em esboço do amanhã calabouço. Inevitável a oca cabeça, o bolso vazado de grana e o embaraço quando for comer grama e viver só de sopro. Opção? Avião de asfalto, gado do sistema, ruminante de pedra que late sua dor-solidão.
Urgente te acordar nesta letra que é tosca, mas a reta conversa é o que me resta. Preciso dizer este apelo que acende meu grito preciso. Melhor escola é questão tua, de escolha melhor, menos fosca. A vida nem sempre mel e leite será, é árdua e nua que em regra virá. Mas teu caminho pode dar medalha e vitória. Ouro puro e pódio branco, com louros na testa. Mãe chorando alegrias de hino e bandeira. Você, campeão da vida, deu duro, águia que olha claro no escuro! Assim sonhei eu acordado, porque a uma escola correta te vi dedicado. Zero bala, zero bullying, era dez ponto zero a nota no quadro, uma festa. A meta escrita. Linda sina, gentil história, futuro bom de soberana glória.
Escola sem estrago era o costume fiel no pedaço. Conhecimento-tesouro. Aula? Compromisso sagrado. Lição, grato abraço do saber. Caderneta azulada de céu que benze o esforço da melhora do ser. Gentileza acesa em gentileza, a alma da regra valia. Como velho profeta de rua disse bem, certo dia. Escola-sonho cuidada, como lar que se arruma pra amada. O professor com justo salário, merendeira feliz, respeitado inspetor, consciência dos pais e molecada capaz. Sem botar banca, qualquer divergência morre na conversa franca. Solidariedade empenhada, brio e braço em remada persistência. Garante a travessia do oceano da indigência. Desse esforço e boa história vinha o happy end. Claro saldo da energia, encontrar na noite a luz clara do dia.
Mas acordei no pesadelo da decepção que derruba. Essa escola frágil que tanto me preocupa. Por isso, do alto deste sonho te convido à ação que me ocupa. Garoto, te convoco e te nomeio cavaleiro da transformação. Menina, te indico, agente decisiva da esperança. Guerreiros da bondade, fazendo diferença rente, vão arrancar do céu uma aurora diferente. Vem nessa, fé constante é primário dever de estudante. Crença positiva, interessada e interessante, a fim da correção no proceder. Afetos conscientes no peito. Na própria pele a diretriz no jeito. Na carteira o cartaz com teu lema que é voz: amor, sabedoria e paz – Senhor Jesus, “é nós”! Mostra a atitude dessa fé que realiza mais. Nosso caderno é paz, nossa mochila é bem. Andar pra trás, jamais. Em frente vamos, o coração vibrante e a meta em mente a todo instante. Ser da paz na escola o mais digno e completo militante.
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Não se passa um dia no Brasil sem ao menos algumas dezenas de registros de violência nas escolas, espancamentos, armas etc., afora os milhares de incidentes de enfrentamentos, bullying, depredações e desrespeito ao professor. As aulas recomeçaram. Alguns que me leem sabe o quanto isso me preocupa. Por isso, segue este texto. Quem sabe ajuda nas reflexões dentro das escolas...
Publicado em 13/03/2012
Publicado em 13 de março de 2012
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