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Como promover a interatividade por meio das mídias nas aulas de Língua Inglesa

Lidiane Gonçalves Barbosa

Especialista em Língua Portuguesa e Tecnologias em Educação

Atualmente, o uso de novas tecnologias faz parte do dia a dia de alunos e professores. Por essa razão, faz-se necessária a sua incorporação na prática educativa, de forma a utilizar o computador como ferramenta educacional, voltado para desenvolver no educando a autonomia e a capacidade de se socializar e construir conhecimento. Este trabalho tem a finalidade de apresentar um relato de experiência educacional em que foram utilizadas algumas mídias como prática inovadora em sala durante as aulas de Língua Inglesa, tendo como objetivo desenvolver ações práticas de interatividade com uma língua estrangeira. Desse modo, foi possível promover situações de criação, troca de experiências, pesquisa e produção de materiais em inglês.

O trabalho com as mídias é um desafio para os professores do século XXI. Ele requer profundas mudanças pedagógicas e de postura frente ao conteúdo, tanto por parte dos professores quanto por parte dos alunos. O objetivo deste trabalho é relatar uma experiência sobre a prática de ensino utilizando mídias e sua ação bem-sucedida em despertar o interesse e o desenvolvimento educacional nos alunos. Até que ponto sua utilização contribui para o aprendizado? Como a escola e os professores estão se adequando às novas tecnologias?

Com os avanços tecnológicos e a chegada do século XXI, a escola não pode ignorar a necessidade de se adequar ao desenvolvimento tecnológico. Sendo assim, as redes de ensino vivenciam a chegada da televisão, do vídeo e da informática, sendo introduzidos nas salas de aula como ferramentas para auxiliar o professor a trabalhar seus conteúdos.

Trata-se de uma atividade desafiadora para os professores, pois há necessidade de que ocorram mudanças pedagógicas, uma vez que o trabalho com o computador não é aquele de tornar o ensino meramente repetitivo, mas sim de se usar tal ferramenta como um recurso a mais para a promoção de um aprendizado contextualizado e significativo. O professor precisa ver e utilizar o computador como um instrumento de construção do conhecimento do aluno, um recurso facilitador do processo de ensino-aprendizagem, com o qual o estudante vai avançando de acordo com o seu ritmo.

Este relato de experiência é resultado de uma prática pedagógica realizada com duas turmas de 3º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Fagundes Varela, em Rio Claro-RJ. Ao iniciar os trabalhos com as turmas, em fevereiro de 2010, percebi o descrédito que a maioria dos alunos dava ao estudo de uma língua estrangeira. Eles tinham como modelo aulas que davam ênfase à memorização e à repetição de exercícios gramaticais. A fim de despertar o interesse pelo idioma, ressaltar a importância da diversidade neste mundo globalizado e, principalmente, visando a promover situações comunicativas, resolvi introduzir algumas ferramentas midiáticas em minhas aulas.

O ponto de partida foi a percepção do interesse das turmas em usar a tecnologia dentro e fora da sala de aula. Dentre as ferramentas midiáticas, escolhi utilizar música, comerciais de TV, webquest e blog. Os temas, divididos em bimestres, foram escolhidos de forma a privilegiar a compreensão dos conteúdos, desenvolver a capacidade de criação e integrar diferentes áreas do conhecimento, não deixando de abordar os conteúdos de Língua Inglesa referentes ao 3º ano do Ensino Médio.

A seguir farei uma análise da introdução das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) na prática docente. Mais à frente, relatarei os tipos de práticas realizadas para desenvolver meu trabalho em sala de aula com os alunos do 3º ano do Ensino Médio.

Embasamento teórico

Para a implantação do computador na educação são necessários basicamente quatro ingredientes: o computador, o software educativo, o professor capacitado para usar o computador como meio educacional e o aluno (VALENTE, 2007, p. 1).

José Armando Valente (1991) separa o uso do computador na educação em duas modalidades. Primeira, quando o computador ensina o aluno. Nesse caso, o computador assume o papel de “máquina de ensinar“ e a abordagem educacional é a instrução auxiliada por computador. Essa abordagem tem suas raízes nos métodos de instrução programada tradicionais, porém, ao invés de papel ou livro, é usado o computador. São exemplos dessa modalidade os programas de computador como tutoriais, jogos, educacionais, simuladores.

Do outro lado, temos o uso do computador como ferramenta educacional. Segundo essa modalidade, o computador não é mais o instrumento que ensina o aprendiz, mas a ferramenta com a qual o aluno desenvolve algo; portanto, o aprendizado ocorre pelo fato de estar executando uma tarefa por intermédio do computador. São exemplos dessa modalidade os programas de processamento de texto, planilha, manipulação de banco de dados, produção de música, comunicação e uso de rede de computadores.

Partindo desse conceito, podemos dizer que a primeira modalidade nada mais é do que o ensino tradicional utilizando o computador. Na segunda modalidade, o aprendiz constrói, por meio do computador, seu próprio conhecimento.

A primeira abordagem mostra que o professor deixa de ser o transmissor do conhecimento, pois o computador pode desempenhar essa tarefa sozinho. O papel do professor hoje é muito mais desafiador: ele é o facilitador do processo de ensino-aprendizagem e o criador de ambientes que estimulem o desenvolvimento intelectual do aluno. É importante ressaltar que as novas tecnologias devem ser aliadas ao desenvolvimento desse novo processo educacional. Não se trata de uma substituição, mas sim de utilizar as TICs na educação de forma que as ferramentas midiáticas possibilitem que os alunos sejam autores e coautores do seu conhecimento.

Não se trata de transferir a responsabilidade do processo educacional para os alunos, e sim estimular a autonomia, a busca de conhecimento, a criatividade. Os professores se fazem presentes no planejamento e no acompanhamento, dando a linha mestra, garantindo a organização que faz com que os alunos adquiram conhecimentos significativos ao fim do processo.

O relato que farei trata da minha experiência inserindo algumas mídias em sala de aula na tentativa de utilizar o computador como ferramenta educacional durante o ano de 2010. Parti do princípio de que atualmente os jovens já dominam recursos da internet, dos blogs e fotologs, do celular e das câmeras digitais, onde produzem filmes, e se aventuram no uso das tecnologias, evidenciando, portanto, a importância de que os processos educacionais, com o uso de tecnologias, não se limitem ao mero manuseio dos equipamentos ou à reprodução de informações.

Metodologia do trabalho

Aprendemos melhor quando vivenciamos, experimentamos, sentimos (MORAN, 2008, p. 23).

Por muitos anos o ensino da Língua Inglesa na escola regular objetivava apenas o conhecimento metalinguístico e o domínio das regras gramaticais. Utilizando como método a memorização, dando prioridade ao ensino da escrita de forma descontextualizada e desvinculada da realidade. Esse tipo de ensino acaba por se tornar uma simples repetição, ano após ano, dos mesmos conteúdos, de forma a tornar a aula monótona e desinteressante.

Partindo de uma perspectiva atual, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), surge uma modalidade de curso que tem como princípio geral levar o aluno a comunicar-se de maneira adequada em diferentes situações da vida cotidiana. O trabalho individual dá lugar ao trabalho em equipe, o qual promove o compartilhamento das ideias e das experiências. Além disso, desenvolvem-se, assim, diferentes habilidades para a era da informação. A fim de favorecer o processo de ensino-aprendizagem, as novas tecnologias (vídeo, DVD, computador e internet) estão sendo incorporadas ao cotidiano escolar.

Para José Manuel Moran (2007), a TV e o vídeo são grandes ferramentas de comunicação e produção. Ambos facilitam a motivação e o interesse por assuntos novos, são instrumentos dinâmicos, contam histórias, mostram e criam impacto por meio de sua linguagem audiovisual.

Partindo dessa proposta, resolvi introduzir algumas ferramentas midiáticas em minhas aulas de inglês. Primeiramente fiz uma sondagem sobre quais eram os interesses dos alunos das turmas 3001 e 3002. Assim, constatei que a maioria se interessava por música, videoclips, principalmente por acessar a internet e participar de sites de relacionamento.

No primeiro bimestre foi realizada uma releitura da letra de uma música estrangeira; os alunos foram divididos em grupos de cinco componentes e deveriam representá-la em vídeo com imagens de acordo com o significado da canção. Os trabalhos foram apresentados em datashow no mesmo dia em que realizamos um minifestival, chamada Noite Cultural, em que outras turmas da escola também participaram com suas apresentações, a fim de trabalhar a diversidade cultural e promover a interação entre os alunos e a comunidade.

Aprendemos quando interagimos com os outros e o mundo e depois, quando interiorizamos, quando nos voltamos para dentro, fazendo nossa própria síntese, nosso reencontro do mundo exterior com a nossa elaboração pessoal (MORAN, 2008).

Baseada nesse conceito, procurei uma forma de trabalhar a habilidade comunicativa da língua. A maioria dos alunos não vê motivação para estudar a Língua Inglesa. Eles sempre questionam sua utilidade, argumentam que nunca sairão do país, portanto não veem aplicabilidade no estudo de outra língua.

No mês de maio, surgiu a oportunidade de realização de um encontro com um norte-americano. Seu nome é John Davis, residente no Kentucky. Achei o momento propício para a realização de um “brunch com amigos”, pois os alunos estavam envolvidos com atividades para comemoração do aniversário da cidade. Por isso aproveitei as informações que eles já haviam selecionado sobre a história do nosso município para que fizessem um roteiro turístico e cultural. Durante o encontro, os alunos puderam apresentar as habilidades desenvolvidas durante seus estudos da Língua Inglesa e perceber seu crescimento no entendimento de uma língua estrangeira.

Foi organizado um café da manhã para nosso convidado, e os estudantes puderam praticar suas habilidades comunicativas de maneira informal. Durante o encontro, os alunos mostraram um videoclip produzido utilizando os aplicativos Power Point e Movie Maker, em que apresentaram nossa cidade reproduzida em fotos antigas e atuais. Um grupo de alunos que participa do coral da igreja fez a versão em português da música estrangeira trabalhada durante o bimestre.

Após as apresentações, um grupo de alunos levou nosso convidado para conhecer os principais pontos da cidade, fazendo uso da língua estrangeira durante todo o percurso. Finalizamos o dia com um almoço bem brasileiro em um restaurante típico. Todo o encontro foi fotografado e filmado. As fotos foram colocadas no mural da escola e a filmagem está disponível na internet.

Segundo Moran (2008), as atividades virtuais possuem três importantes campos que devem ser destacados. Primeiro, o campo da pesquisa, em que acontece a busca de temas, experiências, projetos e textos; o segundo campo é a comunicação, onde se realizam os debates off e on-line sobre os temas e experiências pesquisados; como terceiro campo de atividade virtual aparece a produção, que é a divulgação dos resultados no formato multimídia, de forma a publicar os resultados para os colegas e comunidade virtual geral.

No segundo bimestre foi trabalhada a criatividade nos comerciais de TV. Meu objetivo foi desenvolver as competências oral e escrita em Língua Inglesa a partir da reflexão crítica dos anúncios publicitários Primeiramente, selecionei três propagandas de marcas de produtos conhecidos (McDonald’s, Fiat e Coca-cola) e fiz um roteiro para ser respondido sobre os anúncios. Na primeira aula, os alunos assistiram aos vídeos, responderam às atividades em grupo e participaram de um debate sobre até que ponto a criatividade pode ser considerada uma forma de estimular preconceitos ou discriminação.

Na aula seguinte, os alunos foram divididos em grupos de cinco componentes e incitados a produzir um comercial de um produto criado por eles. Esse comercial deveria apresentar um produto inovador, seus atores deveriam ser da comunidade escolar ou da cidade.

A participação e empenho dos alunos foi total. Uma equipe produziu seu comercial em uma loja de roupas da cidade, criou as falas, fez a edição e até um slogan em inglês. Outra inventou um produto irreverente e usou os próprios alunos como atores. Os comerciais foram apresentados para alguns alunos do Ensino Médio da escola e estão disponíveis na internet.

Sabendo que os alunos adoram desafios, no terceiro bimestre propus a realização das tarefas de uma webquest, “Os mochileiros”. Ela está disponível em: http://lidgb.vilabol.uol.com.br/.

Uma webquest geralmente é elaborada pelo professor para ser desenvolvida por alunos, organizados em equipes. É considerada um projeto educacional que utiliza ferramentas de publicação na web. Uma webquest como projeto ou jogo sempre parte de um tema específico, tem objetivo, propõe tarefas que envolvem consultar fontes de informação. Essas fontes são os recursos e podem ser livros, vídeos ou pessoas, mas na maioria das vezes são indicados sites ou páginas na internet para consulta. Os alunos devem seguir um cronograma e o produto final é formado normalmente por páginas publicadas na internet ou produtos multimídia.

A apresentação dos trabalhos aconteceu no laboratório de informática da escola no dia 27 de setembro. Todas as produções realizadas pelos alunos durante esse ano letivo estão disponíveis no meu blog.

Para explorar melhor as atividades desenvolvidas ao longo do ano, aproveitei a oportunidade de incentivar a criação de blogs para cada grupo de alunos. O blog é um ótimo recurso midiático para ser utilizado na divulgação de resultados de pesquisas, pois funciona como uma página pessoal publicada na internet que, diferentemente de uma home page, assemelha-se mais ao gênero “diário pessoal”, por sua facilidade de atualização e por sua característica de texto de autoria – nele estão publicadas opiniões do autor, links que considera interessantes, fotos e imagens que ilustram algum momento da vida relatado.

As ferramentas de criação e manutenção de blogs permitem a edição e postagem gratuita de textos na web por qualquer indivíduo com o mínimo de experiência no meio digital. A data de postagem desses textos é registrada automaticamente e os textos ficam armazenados em ordem cronológica reversa após um tempo determinado de exposição.

A etapa seguinte foi a criação de blogs para a divulgação dos resultados da pesquisa feita com a realização da webquest e desenvolver a interação entre os grupos. Nesse sentido, no dia 25 de outubro as equipes foram comigo ao laboratório de informática e criaram seus blogs; como primeira tarefa, eles postaram uma apresentação sobre o grupo, depois adicionaram os blogs das outras equipes. Como continuação do trabalho, os alunos deveriam inserir links interessantes sobre a prática da Língua Inglesa, postar vídeos e interagir com as outras equipes.

Resultados obtidos

A emergência do ciberespaço não significa em absoluto que “tudo” esteja enfim acessível, mas que o tudo está definitivamente fora de alcance (LÉVY, 2004).

As novas tecnologias inseridas no ambiente escolar contribuem para a melhoria do acesso às informações, minimizando as limitações relativas ao tempo e ao espaço, permitindo com isso a agilidade na comunicação entre professores, alunos e instituições.

Após essa experiência de ensino com essas duas turmas de Ensino Médio, posso dizer que a inclusão das mídias como instrumento educacional, por si só, não trará mudanças na aprendizagem. O computador como ferramenta educacional possui infinitas possibilidades que podem contribuir para a qualidade do ensino, desde que aconteça uma reformulação no currículo escolar, que se utilizem novos modelos metodológicos, que se repense o significado de ensino e aprendizagem.

Segundo Moran (2007), a aprendizagem deve ser mediada pelas tecnologias em rede, em que haja espaço para a promoção da construção do conhecimento. As mudanças que estão acontecendo na sociedade abrem uma nova fase de convergência e integração das mídias. O conhecimento não é algo que se recebe; é concebido como um produto da interação do sujeito com o mundo.

Durante o desenvolvimento das aulas, pude observar que o interesse e a participação dos alunos nas atividades propostas foi muito bom, como se pode ver pelas postagens em meu blog. Porém também percebi que alguns alunos se adaptam mais facilmente, e outros ficam à margem do conhecimento.

Um ponto positivo que desejo destacar é a melhora da disciplina durante as aulas e a participação positiva no trabalho em equipe. Também pude perceber a mudança de postura de alguns alunos frente ao conteúdo e à distribuição das tarefas durante a organização das atividades.

Com o desenvolvimento desse trabalho, pude perceber que a inclusão das ferramentas midiáticas é um processo contínuo; por essa razão, o professor e o ambiente escolar devem estar em constante atualização.

Referências bibliográficas

ARRUDA, Euridio Pimenta. Ciberprofessor – novas tecnologias, ensino e trabalho docente. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

BRASIL. MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio. Disponível em: portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf Acesso em: 10 out. 2010.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 36ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

KENSKI, Vani Moreira. Educação e tecnologias o novo ritmo da informação. 4ª ed. Campinas: Papirus, 2008.

LÉVY, Pierre. As tecnologias da inteligência – o futuro do pensamento na era da informática. São Paulo: Editora 34, 1996.

MORAN, José Manuel. Caminhos para a aprendizagem inovadora. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/camin.htm. Acesso em 05 out. 2010.

MORAN, José Manuel. O vídeo na sala de aula. Disponível em: http://www.eca.usp.br/prof/moran/vidsal.htm. Acesso em 20 out. 2010.

SENAC. Webquest. O que é? Disponível em: http://webquest.sp.senac.br/textos/oque. Acesso em: 10 out. 2010.

VALENTE, José Armando. Por que o computador na educação? Disponível em: http://www.nied.unicamp.br/publicacoes/arquivos/jvtAvQCX4K. Acesso em: 02 out. 2010.

VALENTE, José Armando. O uso inteligente do computador na educação. Disponível em: http://www.proinfo.mec.gov.br/upload/biblioteca/215.pdf. Acesso em: 02 out. 2010.

VALENTE, José Armando. Diferentes usos do computador na educação. Disponível em: www.mrherondomingues.seed.pr.gov.br/.../Diferentesusosdocomputadoreducacao.PDF. Acesso em: 02 out. 2010.

Publicado em 3 de abril de 2012

Publicado em 03 de abril de 2012

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