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A educação para a Economia Criativa

Juliana Maria Carvalho

Professora e redatora

Você já ouviu falar em Economia Criativa? Esse é um tema novo, e por isso ainda não existe um conceito formado. Mas, com base em uma definição divulgada na Conferência das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, pode-se dizer que engloba toda atividade que utilize a criatividade e o conhecimento para produzir bens e serviços com valor agregado, o que vai desde o turismo ao artesanato, passando pelas atividades culturais, inovações tecnológicas e pela comunicação.

A Economia Criativa não se baseia em fontes esgotáveis como terra, ouro e petróleo; ao contrário da economia tradicional, está alicerçada em recursos que nunca terminam, como a cultura e a criatividade, valores que tendem a se renovar e se multiplicar com o uso. Além disso, podem gerar uma economia de abundância (caracterizada pela colaboração), em vez de uma de escassez (na qual predomina a competição). Por esse motivo, a Economia Criativa vem se firmando cada vez mais como uma alternativa para o desenvolvimento sustentável do mundo atual. Tudo aquilo que a sociedade em rede produz dá uma ideia da abundância e da diversidade de possibilidades que temos pela frente.

Mas quem são os profissionais que atuam nesse setor? Podemos compará-los com os mágicos, que utilizam uma ideia muito simples, com um segredo fácil de explicar, mas que encanta o público ao ser apresentada pela primeira vez. Depois que vemos a ideia em prática, até pensamos: poxa, como não pensei nisso antes? Veja o caso da Wikipédia. É um exemplo claro de Economia Criativa que privilegia a inteligência, o cérebro, o conhecimento...

A Economia Criativa possui estreita correlação com a produtividade. O autor norte-americano Richard Florida recentemente publicou um ranking dos países segundo o critério de medição do seu índice de criatividade. Resumidamente, Florida estabeleceu o que ele denominou “os três Ts da criatividade”: talentos, tecnologia e tolerância.

Os 20 primeiros países no ranking de talentos possuem mais de 20% da população dedicando-se a atividades relacionadas à Economia Criativa. Também são computados, no índice de talentos, o percentual da população com formação superior, o número de cientistas, doutores etc.

O índice de inovação ou tecnologia é medido tanto pelo percentual de investimento em pesquisa e desenvolvimento quanto pelo número de patentes por milhão de habitantes. Nas vinte primeiras posições do ranking, a percentagem de pesquisa e desenvolvimento varia desde o mínimo de 1,11% (Nova Zelândia) até o máximo de 4,27% do PIB (Suécia). Quanto às patentes, os Estados Unidos tem 307 patentes por milhão de habitantes (ppmh), seguidos do Japão (261 ppmh), Suíça (196 ppmh) e Suécia (196 ppmh).

O Brasil figura na 43ª posição do Índice Global de Criatividade, atrás de Uruguai, Polônia, China, Argentina, Turquia, Chile, Índia e México, à frente tão somente do Peru e da Romênia, numa relação de 45 países. Esse índice, definido pelos critérios mencionados, apresenta os seguintes países no ranking de 10 posições na publicação The Flight of the Creative Class: Suécia, Japão, Finlândia, Estados Unidos, Suíça, Dinamarca, Islândia, Holanda, Noruega e Alemanha.

O desenvolvimento de regiões, cidades e nações remete ao crescimento da chamada Economia Criativa e, consequentemente, do número de talentos empregados por essa economia. Em 23 de setembro de 2005, O jornal Folha de S. Paulo divulgou os resultados de uma pesquisa de produtividade elaborada pela FIESP, em um artigo de Marcelo Billi, do qual cito alguns trechos:

“A competitividade brasileira continua baixa, mostra estudo divulgado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). A pesquisa analisou os dados de 43 países que, juntos, representam 95% da economia mundial. O Brasil ficou quase na lanterninha, na 39ª posição do ranking elaborado pela Fiesp.

Os 43 países foram divididos em quatro grupos. O de produtividade elevada é liderado pelos EUA, o primeiro do ranking. A Dinamarca, no 12º lugar, lidera o grupo considerado de competitividade satisfatória. Países como Itália, China, Portugal, Rússia e Argentina têm competitividade média. Por fim, o grupo do qual faz parte o Brasil inclui países como Chile (34º lugar) e México (36º).”

Analisando os cinco países mais bem colocados em produtividade, a pesquisa aponta, pela ordem: Estados Unidos, Suécia, Suíça, Japão e Singapura. Curiosamente, os cinco primeiros no “ranking de criatividade” são: Suécia, Japão, Finlândia, Estados Unidos e Suíça. Não é mera coincidência! Existe uma relação direta entre o grau de educação – elo principal da chamada Economia Criativa, aliado, naturalmente, a outros fatores – e o índice de produtividade de uma economia.

O setor criativo só vem crescendo e já é o terceiro em nível global, movimentando US$ 2 trilhões por ano, atrás apenas das indústrias de petróleo e de armamentos, revela o estudo A cadeia da indústria criativa no Brasil, realizado em 2008 pela Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). No país, o segmento respondia, na época do estudo, por 21,8% das vagas de trabalho formais no país e empregava 7,6 milhões de pessoas.

As atividades da indústria criativa abrangem muitos segmentos: arquitetura e design; artes em geral; audiovisuais; mercado editorial; ensino; informática; pesquisa e desenvolvimento; e publicidade e propaganda, entre outros. Esses segmentos correspondem a 1,87% do índice de emprego formal do país. O dado é revelado por uma pesquisa finalizada em julho/2011, encomendada pela Secretaria de Governo da Prefeitura de São Paulo à Fundação do Desenvolvimento Administrativo. As taxas são maiores em algumas áreas, como a Região Sudeste (2,21%), o Estado de São Paulo (2,46%), e o município de São Paulo (3,47%).

A Economia Criativa, segundo o estudo feito em São Paulo, se destaca não apenas pela capacidade de gerar empregos, mas pela qualidade e pela remuneração desses empregos. De 2006 a 2009, a taxa média anual de crescimento da atividade formal no setor chegou a 8,% no Estado de São Paulo e a 9,1% na capital paulista. No panorama total da economia, o crescimento do setor no mesmo estado chega a 5,5% e a 5,8% na capital paulista.

Mas não só a cidade de São Paulo vive de boas ideias. O Rio de Janeiro também tem se destacado no setor criativo – principalmente em tempos de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) nas comunidades. Há um novo elemento na lista de especialidades cariocas, que vem ganhando espaço e redefinindo o posicionamento da cidade na economia global. “Durante muitos anos, o Rio permaneceu fora da economia mundial, pois as empresas cariocas migraram para São Paulo. Com um evento grande como as Olimpíadas de 2016, podemos mostrar para o mundo que temos um ambiente de negócios tão favorável quanto o paulista. Não vamos trazer de volta o mercado financeiro ou a atividade industrial, mas podemos pensar em novos filões, que não precisam de petróleo ou aço para se desenvolver. Este é o momento de usarmos o que nosso povo tem de melhor: a criatividade.

Valorizando o potencial do Rio de Janeiro para a Economia Criativa, o Governo do Estado, em parceria com o Instituto Gênesis, da PUC-Rio, criou o Rio Criativo – Incubadoras de Empreendimentos da Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro. O projeto profissionaliza e orienta empreendimentos do setor. Somente no primeiro edital, lançado em agosto de 2010, foram selecionados 24 dos 124 planos de negócio recebidos. Os ambientes de trabalho planejados para apoiar empreendimentos inovadores terão sede na região portuária da capital e São João de Meriti, na Baixada Fluminense. Mais quatro trabalhos, de outras áreas do estado, serão acompanhados a distância. Durante 18 meses, esses projetos recebem consultoria e orientação, além de participar de rede de negócios entre empreendedores culturais, clientes e parceiros, entre outros benefícios. Isso mostra que já existem pessoas se organizando para fazer da Economia Criativa um setor que se destaque no Rio de Janeiro.

Um exemplo de área que tem se destacado no ramo da Economia Criativa é a moda. Os números do estudo Territórios da Moda apontam que o setor movimenta cerca de R$ 892 milhões e emprega aproximadamente 33 mil pessoas. Ainda segundo o relatório, dentro do estado, o município do Rio predomina no setor, reunindo 66% das pessoas ocupadas com moda e 60% dos estabelecimentos do setor.

Uma das grandes mudanças que colaboram para esses resultados é a criatividade das grifes cariocas; outro pilar para o amadurecimento do setor corresponde à profissionalização: os empresários estão aprendendo a lidar com esse novo momento, contratando pessoas qualificadas. Além da moda, várias outras atividades criativas estão surgindo como atividade formal, e atividades tradicionais – como a publicidade, por exemplo – estão passando por transformações. Já existem muitas agências trabalhando com meios alternativos para a propaganda, como bicicletas, passeatas e outras movimentações, propaganda aérea... Quanto mais criativo melhor!

Mas será que a educação tradicional está preparada para formar esses cidadãos “criativos”? A Educação tem como desafio ser o agente de mudança dessa transformação, preparando os jovens para essa nova realidade econômica e social. A educação para a Economia Criativa deve transcender a educação formal, ter uma abordagem multi e transdisciplinar, além de promover e disseminar o pensamento sistêmico, o senso crítico, a atitude empreendedora e a atuação colaborativa. O projeto pedagógico institucional e os projetos de cursos devem ser consistentes e inovadores; as equipes administrativa e docente devem ser qualificadas e motivadas; e os recursos tecnológicos e os ambientes devem ser estimulantes e acolhedores.

Nosso desafio, como docentes, é preparar aulas criativas, com uso de recursos diferenciados, e mediar essa aula, oferecendo uma atmosfera criativa.

Publicado em 17 de abril de 2012

Publicado em 17 de abril de 2012

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