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Lições de Freud
Mariana Cruz
Em seu texto Cinco lições de psicanálise, Freud, na primeira delas, tem como enfoque os casos de histeria e utiliza, de início, a hipnose como possibilidade de cura. Apesar do insucesso de tal experiência ter sido verificado posteriormente em diversos casos, há certas constatações que lhe serão úteis em outros estudos.
Com o exercício da hipnose, a ideia da mente unificada cai por terra, sendo substituída pela concepção de uma mente dividida em dois estados: o consciente e o inconsciente. Freud observa que uma ordem dada enquanto o paciente está inconsciente (sob efeito da hipnose) é posteriormente (quando ele não está mais hipnotizado) cumprida sem grandes problemas – daí verifica-se a influência do estado inconsciente sobre o consciente. O paciente histérico é, pois, vítima de sintomas que surgem para “tampar o buraco” deixado por esses acontecimentos dolorosos do passado, dos quais ele não se lembra conscientemente. O sintoma, para Freud, é indício de uma pequena amnésia.
Os histéricos são incapazes de, em uma situação-limite, manter como um todo unificado as partes semi-independentes da mente. Quando pensam segundo uma das partes, não levam em conta as outras e, uma vez que não consideram todas as possibilidades, fazendo apenas uma escolha parcial delas, acabam geralmente agindo em desacordo com o todo unificado, considerado como sendo o melhor. Freud faz uma metáfora de tal conduta comparando-a a uma dona de casa abarrotada de sacolas de compras que deixa uma delas cair e quando abaixa-se e a pega de volta, outra cai, e assim sucessivamente. Ela nunca consegue estar com todas as bolsas concomitantemente (FREUD, 1970, p. 23). O histérico é tomado por um impulso – pois é a única atitude que ele enxerga naquele instante – e fica cego “momentaneamente” para as outras formas de agir que ele sabe que seriam melhores.
O psicanalista tem a função de extrair do doente aquilo que “ninguém, nem ele mesmo sabia” (FREUD, 1970, p. 24), ou seja, um saber inconsciente. Tanto é assim que os pacientes examinados por Freud afirmavam, até o derradeiro instante, sua ignorância sobre determinada coisa, mas, uma vez hipnotizados, recordavam exatamente o caso. Tais reminiscências encontram-se em poder do agente, porém estão contidas por alguma força que as obriga a permanecer enclausuradas no inconsciente. No caso do histérico, a maneira que o trauma encontra de burlar a vigília do inconsciente é disfarçando-se e aparecendo como um sintoma. Freud chama de resistência essa força que mantém os desejos e traumas encarcerados no inconsciente.
A divisão psíquica atribuída por Freud aos homens é a responsável pelos conflitos das forças mentais. O psicanalista recorre então a outra de suas metáforas para melhor explicitar o caso. Imaginemos que, em uma palestra, esteja na plateia um perturbador que não para de falar, assobiar, bater os pés. Os outros, incomodados, após certa luta conseguem retirá-lo do recinto, fechando a porta. O tumultuador, porém, continua a perturbar, gritando no pátio do lado de fora. Os outros, como medida de prevenção, reforçam a segurança da porta com cadeiras para que não haja risco de ele invadir a sala. Essas são as forças repressoras; o auditório é o consciente e o pátio, o inconsciente. Apesar das barreiras colocadas, a presença do homem do lado de fora continua perturbando muito os assistentes.
Freud fala sobre duas forças opostas que atuam no indivíduo: uma é o esforço de fazer emergir na consciência o que está esquecido no “sótão do inconsciente”; a outra é a própria resistência, e quanto maior for a sua rigidez no impedimento da passagem do elemento no inconsciente para o consciente maior será a deformação de tal elemento. De acordo com Freud, porém, um desejo se manifesta com muito mais força quando inconsciente, e tende a enfraquecer quando vai para a consciência.
Quando rompida a barreira de chegada ao consciente, o desejo deformado será executado na sua forma mais exagerada, mais hiperbólica. Como no caso de um ex-fumante que, ao ter uma recaída, volta a fumar tanto ou mais do que antes. Tal conduta também pode ter sido gerada pelo fato de ele ter exercido a repressão diversas vezes em momentos anteriores; assim, é como se estivesse saldando uma divida dele mesmo com seu desejo.
Referência
FREUD, S. Cinco lições de psicanálise, Leonardo da Vinci e outros trabalhos. Vol. XI. Rio de Janeiro: Imago, 1970.
Publicado em 17 de abril de 2012
Publicado em 17 de abril de 2012
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