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Aprendizagem com dispositivos eletrônicos

Juliana Carvalho

Professora e redatora

Neste artigo, vou tentar descrever algumas possibilidades do uso de três dispositivos tecnológicos na educação: o celular – mais especificamente os smartphones –, os tablets e os e-readers (ou leitores de livros). A aprendizagem mediada por esses aparatos já está sendo chamada de m-learning. Também abordarei algumas questões sobre seu presente e futuro.

Mas de que âmbito educativo estamos falando?

Antes de continuar, é preciso esclarecer alguns conceitos que muitas vezes não temos em conta na hora de falar desses temas.

Este artigo enfoca a educação obrigatória, ou seja, a dos menores de idade – crianças e adolescentes. Essa educação, no Brasil, não se produz com a utilização do e-learning (educação a distância por meios eletrônicos); é presencial, e é previsível que não mude, já que esse tipo de educação é motivada também por outros interesses, que vão além da eficácia que proporciona a aprendizagem on-line, como a socialização e uma educação baseada em valores nos quais se fazem necessárias a presença física e a convivência. Além disso, existem outros motivos alheios à própria educação, como abrigar meninos e meninas para que os pais possam trabalhar.

Entretanto, essa educação presencial é otimizada adquirindo determinadas facetas do e-learning, e é assim que surge o b-learning (do inglês blended: mesclado, combinado). O b-learning é o entorno a que tende a educação de crianças e jovens, e é nesse ambiente que devemos nos mover: um entorno presencial, porém com parte importante virtual.

Existe o m-learning?

É curioso ver como os miniportáteis (os netbooks, por exemplo) ficam de fora da categoria de m-learning, mesmo tendo sido o primeiro dispositivo com todas as características de um computador utilizado para acessar a internet sem a necessidade de estar em um lugar fixo. Provavelmente isso tem a ver com o desejo de que o m-learning tenha uma identidade própria e não seja apenas uma simples evolução surgida a partir do computador clássico.

Contudo, o conceito de m-learning é mais semelhante a este último. Os telefones celulares estão há tempos adquirindo características dos computadores, e estes têm sofrido aproximação dos primeiros por meio da diminuição de seu tamanho e redução de preço. A fusão de ambos se produziu nos tablets. Estes provavelmente vão substituir grande parte dos atuais portáteis, e ao menos grande parte dos aplicativos educativos que atualmente são atribuídos aos smartphones. Os dispositivos atuais (smartphones, tablets e leitores de livros) são fruto da evolução e convergência do antigo computador de uso pessoal (PC) e do telefone fixo, ambos já usados na educação presencial e a distância na era pré-internet.

Até agora não mencionei nada novo, porém uma de minhas intenções é dar importância ao conceito de m-learning para focar o motor educativo nos novos avanços tecnológicos. O m-learning não é mais do que a evolução e o desenvolvimento natural das tecnologias da informação e comunicação, porém de nenhum modo algo diferente.

Dispositivos móveis com vocação educativa

Celulares ou smartphones

Quando falamos em m-learning, geralmente pensamos em utilizar celulares ou smartphones para proporcionar objetos de aprendizagem através deles, ou seja, para o desenvolvimento de um tema, conceito, estudo de lições, exercícios de prática etc. Entretanto, creio que o smartphone é útil para uma infinidade de coisas, exceto para isso. Os tablets ou netbooks desenvolvem essa função com perfeição, simplicidade e eficácia. Se estivermos em qualquer lugar com um smartphone e com um tablet, usaremos o tablet para acessar uma plataforma, um blog ou a Wikipédia – e não o smartphone. Isso não quer dizer que em determinadas situações não se possa utilizar o celular para essas tarefas, porém o vejo como algo secundário e à parte.

Então, para que usaremos o smartphone? Os celulares se caracterizam por dispor de dispositivos e características que os tornam muito úteis sempre que não se trate de obter ou gerar informação extensa ou para grande número de pessoas. Aqui mostrarei algumas ideias – a maioria delas já testadas em classe –, porém a lista de possíveis usos poderá ser ampliada por qualquer professor.

Câmera de fotos

As fotos podem ser utilizadas de mil formas diferentes no ambiente educativo. Aqui temos alguns exemplos:

  • Para ilustrar trabalhos on-line ou em papel
  • Para capturar uma imagem dos deveres, apontamentos, esquemas no quadro e para evitar ter que copiá-los manualmente.
  • Para entregar trabalhos via internet. Por exemplo, problemas de Física, de Matemática, de Química etc.
  • Gravador de voz.
  • Realização de podcast pelos alunos como trabalho de classe.
  • Escutar material sonoro proporcionado pelo professor: canções, obras de música clássica, diálogos para aprender idiomas, audiobooks etc.
  • Gravador de vídeo.
  • Para realizar trabalhos em formato de vídeo.
  • Deixar registro de práticas de laboratório realizadas pelos próprios alunos.
  • Ilustrar saídas culturais para que sejam incluídas em um trabalho etc.

Bluetooth

O bluetooth permite o intercâmbio de material digital entre alunos e professores. Com ele, é possível repartir exercícios de forma individual em classe. Por exemplo, enquanto os alunos terminam um problema, outro já pode ser enviado.

Além disso, pode-se compartilhar documentos, fotos, vídeos ou gravações de áudio uns com outros.

Aplicativos

O iPhone e os celulares com sistema Android dispõem de uma enorme quantidade de aplicações, que cresce a cada dia. Seu potencial é imenso e provavelmente esse será o maior campo de crescimento dos celulares na educação durante os próximos meses.

Mensagens

Várias aplicações permitem o envio de texto, imagens, vídeos ou sons como SMS ou MMS, de forma gratuita, pela internet. Além disso, a capacidade de criar conversações em grupo faz o aparelho móvel especialmente apto para ser usado na comunicação entre os alunos nos trabalhos de classe.

Idiomas

Programas no estilo do tradutor do Google, que traduz tanto por voz como texto, permitem manter conversações em diferentes idiomas, já que a aplicação traduz de forma sonora ou textual para o idioma que queremos (é o mais parecido com o tradutor universal de Star Trek de que dispomos atualmente). Podem ser criadas atividades de classe com esse tipo de aplicação.

Geolocalização

Há uma enorme variedade de programas que usam as capacidades de geolocalização do celular. Desde mapas, vistas de satélite, busca de serviços na região e localização de transportes públicos nas redondezas, entre outros. Sem dúvida é outra das habilidades de celular que podemos usar em várias ocasiões com caráter educativo.

Aplicações de caráter enciclopédico, dicionário ou de consulta

Existe grande quantidade de aplicações que permitem buscar definições, temas históricos ou que dão informação sobre temas muito concretos.

Aplicações de caráter científico

Está disponível grande variedade de aplicações que proporcionam informação que podem ser usadas em aulas de Matemática, Física, Química etc.

Esta é uma classificação parcial, subjetiva e incompleta das aplicações disponíveis. Há muitas aplicações que podem ser de grande utilidade na hora de trabalhar diversos temas com os alunos, e cada vez o leque de possibilidades será mais amplo.

Enquanto a proibição de uso do celular rege a maioria de entidades educativas, os celulares estão em modo silencioso nas carteiras e mochilas de quase todos os alunos (é fácil comprová-lo ativando o bluetooth de nosso computador ou celular para que apareça imediatamente grande quantidade de misteriosos celulares invisíveis). O melhor é usá-los só quando sejam necessários com finalidade educativa; nem é necessário modificar a norma da escola. Não se deve esquecer que a proibição do celular não é porque ele seja um aparato perverso em si, mas porque atrapalha o bom desenvolvimento das aulas; dessa forma, sua proibição para uso educativo não faz sentido.

Tablets

Os tablets, sem dúvida, substituirão o computador portátil na educação, já que dispõem das mesmas possibilidades, porém são menores, pesam menos, seu funcionamento é mais natural (trabalha-se neles com as mãos, não com o mouse), agradável, simples e intuitivo (graças ao sistema operacional que usam), estão prontos para uso com maior rapidez e são do tamanho de um livro.

Nele, os objetos de aprendizagem adquirem todo o seu potencial e todo o valor, sem as limitações do pequeno espaço que têm os celulares. Os tablets, diferentemente dos celulares, permitem apresentar e criar informação extensa e maciça de forma cômoda para alunos e professores.

É inútil tentar uma sistematização de seus usos, como tentei fazer com os celulares, já que suas aplicações são muito mais amplas e seu âmbito de aplicação é o mesmo que o dos computadores.

Leitores de livros

Os leitores de livros (e-readers ou e-books) são equipamentos desenvolvidos especificamente para ler livros; normalmente permitem também o acesso à internet.

Dada sua função de leitura, eles apresentam uma característica muito importante, que provavelmente fará com que acabem entrando fortemente no mundo educativo. Ao contrário de um celular ou de um tablet, os leitores de livros permitem ler durante horas sem a fadiga que produzem os primeiros, já que utilizam o que se chama tinta eletrônica, e a tela se ilumina com luz externa, como se fosse um livro, de forma que o esforço para ler é muito inferior ao das telas luminosas. Além disso, a resolução efetiva das telas é superior, o que torna a leitura menos fatigante.

A necessidade de ler livros de teoria, apontamentos do professor ou qualquer outro documento textual faz com que o e-reader seja o meio ideal sempre que se necessite trabalhar com textos extensos, já que desenvolve sua tarefa muito mais eficientemente do que o tablet. Recentemente apareceram telas em cor, com o que será possível, em um futuro próximo, incorporar características dos tablets. Por enquanto, a velocidade de atualização da tela é muito lenta, o que o torna apto para ler, mas não para ver vídeos ou imagens em movimento de forma fluida.

Quando o mundo editorial educativo souber exatamente do que necessitam professores e alunos, é possível que comecem a gerar, por um lado, livros de texto eletrônicos (só texto e imagens, no estilo clássico) para serem usados com os e-readers; por outro, geram elementos interativos, multimídia e de criação de conteúdos para serem usados com tablets ou portáteis.

Assim podemos pensar que a mochila tradicional será substituída por um celular, um tablet e um leitor de livros. Pode ser que esse modelo perdure por muitos anos, fruto da estabilização da tecnologia de transição que temos agora mesmo.

Mas talvez não; falar de tecnologia no futuro é como falar do tempo, um exercício bastante inútil.

Publicado em 8 de maio de 2012.

Publicado em 08 de maio de 2012

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