Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.

De heróis a quase filhos: fragilidades de nossos pais, nossas fragilidades

Tatiana Serra

Quando olho para trás e lembro das minhas primeiras referências, penso em dois grandes mestres: meus pais. Cada um deles, a seu próprio modo, me passou as primeiras lições, me deu os primeiros sins, os primeiros nãos e me ajudou a resolver os meus talvezes. São eles minhas maiores referências por toda a vida. Porém sinto que algo vem mudando nos últimos anos, e tenho percebido mais as fragilidades desses meus heróis.

Lembro que, durante toda a minha infância, ia à praia com meu pai e chegávamos até o fundo do mar. Criança é mesmo muito corajosa, e a minha coragem vinha da certeza de que, ao lado dele, nada de mal me aconteceria. Tudo, enfim, se resumia a um enorme prazer de pular e passar por todas aquelas ondas. Hoje, ele não passa do raso, e eu não vou muito além do banco de areia. Já minha mãe sempre foi o porto seguro da casa, a pessoa mais forte e positiva que já conheci. Capaz de tudo para proteger a família, ela hoje demonstra suas fragilidades e, apesar de não admitir, pede colo em vários momentos.

Agora, eu com mais de 30 e eles com mais de 60, começo a repensar a relação entre pais e filhos e me pergunto quando e como passamos a cumprir um pouco o papel de pais dos nossos pais (que eles não nos ouçam!). Quando não sei ao certo, e como ainda estou aprendendo. Essa certa inversão de papéis acontece gradualmente, e não tem chegada predefinida. Mas acontece, é fato, e ficamos espantados quando constatamos que chegou a nossa vez.

Então questiono se serei capaz de dedicar amor, carinho, cuidado e atenção na devida proporção aos meus mestres. Em certos momentos, as fragilidades dos nossos pais podem ser tantas que chega a parecer serem eles nossos filhos e nós, seus pais. Na opinião do escritor Walcyr Carrasco, tudo isso pode ser muito simples.

Na crônica Quando o filho vira pai, da revista Veja, ele relembra: “quando criança, eu precisava do apoio de meus pais. Quando envelheceram, precisaram do meu. Em maior ou menor medida, para todos nós é assim. Então por que a dúvida? Pode parecer piegas, mas acho que a vida é um eterno ciclo afetivo. Em uma época, todos nós somos filhos. Em outra, nos tornamos pais. É nossa vez de cuidar de quem cuidou de nós”.

Mas será que são como filhos que eles gostariam de ser vistos por nós? Será que gostaríamos de ser tratados como filhos dos nossos filhos? Pelo sim, pelo não, deve ser como Walcyr Carrasco diz: por que a dúvida? Se nos colocarmos no lugar deles, perceberemos que nossos pais só esperam nosso cuidado, nossa atenção e nosso respeito. Essa é uma realidade que nos assusta porque, afinal, não fomos preparados para enfrentá-la. Por outro lado, tudo isso só pode ser muito bom para todos nós, que assim nos sentimos mais próximos dos nossos heróis e nos encontramos neles, seja em suas (e em nossas) fragilidades, seja em suas (e em nossas) fortalezas.

Veja também:

Quando os pais viram filhos – site que relata a experiência e o cotidiano de um filho que passou a ser cuidador de sua mãe, portadora do Mal de Alzheimer, com dicas, depoimentos e informações sobre o assunto.

Publicado em 22 de maio de 2012

Publicado em 22 de maio de 2012

Novidades por e-mail

Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing

Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário

Deixe seu comentário

Este artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.