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Educar é ir além dos muros da escola

Bruno Coriolano de Almeida Costa

Descrever a img desde que não seja apenas ilustração

Nossa educação pública, de forma geral, não vem atingindo os resultados esperados em provas como o Enem. As universidades não formam cidadãos preparados para o mercado de trabalho, e muitos alunos de licenciatura perderam o desejo de atuar em sala de aula após receberem o canudo da graduação. Esses acontecimentos são fatos. Mas o que surgiu há anos foi o questionamento em relação a eles: por que o sistema educacional brasileiro não prospera?

Se observarmos a maneira como se constrói educação em outros países, perceberemos que no Brasil a coisa é feita de forma alheia, sem objetivos claros e sem critérios como a realidade social servindo de suporte para o sistema educacional. Neste país, muitos pregam que “a educação é a solução para os problemas”. Mera fantasia. Essa visão é muito simplista e carrega para a lama muitos anos de pesquisas e estudos de intelectuais que vieram antes mesmo de muitos de nós começarmos a dar os primeiros passos e a juntar as primeiras sílabas.

Talvez um dos grandes problemas seja a incompetência que o Estado tem em administrar. Isso mesmo, o Estado brasileiro não mostra competência nesse setor. Falar em educação pública já implica dizer que a qualidade é bastante questionável. E quem está dizendo isso não é o autor deste texto – pelo menos não sozinho. Se nos basearmos nas evidências, e temos que fazer isso, perceberemos que a educação não passa de um mero instrumento dos discursos políticos. Daqueles famosos discursos divorciados da prática.

Criamos tantos mitos ao longo da história que muitos até associam a educação pública a uma forma de educação gratuita. Uma tremenda inverdade. “Como o Estado pode manter uma educação de qualidade, se não tem dinheiro?” Esse é o discurso de sempre. Pois, se “eles” não sabem, a educação é paga com o dinheiro dos impostos recolhidos do povo.

Mas se o Estado coleta dinheiro público e não fornece ensino de qualidade, podemos concluir que ele, o Estado, é incapaz. Claro que a lógica não é tão simplista assim. O sistema responsável pela educação pública, assim como diversos outros setores também públicos, é guiado por pressões políticas; não importa o tamanho dos fracassos causados por ele; quando pelo menos fracassam, sempre haverá mais recursos disponíveis. Mais coletas de impostos. Não se tem dinheiro para a educação, mas para criar mais cargos públicos como vereadores, por exemplo, sempre existem recursos.

Melhorar a educação pública neste país parece ser um convite para sair dos muros da escola e adentrar questões relativas à cidadania. Não se pode querer resolver o problema de um setor sem envolver os outros. Não podemos dizer que apenas o sistema de ensino público está sucumbindo; também estão a saúde, a segurança e outros setores. O público não funciona neste país.

O problema na educação brasileira está relacionado a questões sociais. Qual criança que não tem um prato de comida à mesa e que precise trabalhar para ajudar a família vai encontrar sentido ou motivação em passar horas nas salas de aula estudando coisas que nem os professores sabem quando serão colocadas em prática?

Apenas fornecer educação não resolve nenhum problema. Veja o exemplo de Cuba, país onde o analfabetismo praticamente não existe mais. Naquela ilha, tanto um médico quanto um garçom recebem igualmente. Salários iguais para responsabilidades diferentes. Não desmerecendo a segunda profissão, mas destacando que em medicina se estuda bem mais, acredito ser injusto.
Eu diria que não resolve problema algum ter muitos médicos formados se eles não irão usar seus conhecimentos em um mercado de trabalho sem vagas. Pense comigo: esse não foi um exemplo de “investir em educação”? Claro que sim, mas faltou pensar no pós-estudo. Depois de terminar os estudos, os aprendizes, agora recém-formados, terão lugar no mercado? Será que o Brasil pensa nisso quando aponta seus números mentirosos de avanço nesse setor?

Como vimos ao longo da história deste país, não é tão simples resolver qualquer problema na educação, mas a abertura para a discussão entre governo e sociedade parece ser o caminho mais coerente e viável. Romper com a visão de que a educação é feita somente na escola e pensar a sociedade como educadora são pré-requisitos para uma escola pública de qualidade. Temos que parar de imitar o modelo errado e seguir o exemplo de países como a Finlândia.

10/01/2012

Publicado em 10 de janeiro de 2012

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