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A ERA DO SER AMBIENTAL

Eduardo Beltrão de Lucena Córdula

Pesquisador do Centro de Educação da UFPB

Glória Cristina Cornélio Nascimento

Mestranda do Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFPB)

Ilustração

O ser humano constrói e reconstrói seu modo de vida a partir de suas tomadas de consciência, formando assim a sociedade. Esta, por sua vez, com todos os seus conceitos religiosos, étnicos, culturais, éticos, científicos, tecnológicos e econômicos, traz reflexos na mudança do ambiente natural para acomodação dos centros urbanos e rurais. Essa ocupação acaba gerando um metabolismo intenso nas grandes cidades, consumindo um nível elevado de matérias-primas, abastecidas em parte pelo meio rural, com grande fluxo de energia, gerada pelo calor, eletricidade e combustíveis fósseis, com produção de grande quantidade de resíduos (poluição: fuligem, poeira, gases tóxicos, lixo, barulho etc.) que retornam ao ambiente, causando desequilíbrios internos e externos. E, por outro lado, é suprida de matérias-primas provenientes diretamente da natureza, como minérios, água etc. (DIAS, 1998).

O próprio espaço urbano causa sérios problemas, como o aquecimento local, com modificação no clima regional, poluição sonora, visual e olfativa, gerando estresse, aliado à competitividade por ascensão no trabalho, além de grande quantidade de lixo, que afeta o ambiente natural, com proliferação de doenças e muito mais. Isso sem considerarmos as desigualdades sociais, a falta de emprego, a falta de condições de sobrevivência dignas para seus habitantes, entre tantos outros aspectos (CÓRDULA, 1999).

O ser humano como entidade individual, portador de conhecimentos, de história, valores, espiritualidade e, portanto, contribuição para o desenvolvimento de sua sociedade está se tornando uma mera peça dentro de um imenso tabuleiro, devido ao distanciamento das relações interpessoais, em que os cidadãos preferem não entrar em contato direto por motivos como competição, disponibilidade de tempo e egocentrismos, entre tantos outros malefícios que crescem com o advento da modernidade, aliado ao mais novo recurso de comunicação e obtenção de informações – a internet, trazendo um malefício psicossocial agravante e crescente em nosso meio: o medo de nosso próximo, de nossa própria espécie (CÓRDULA, 2011).

São inúmeros os contrastes e desequilíbrios na população humana, em que, para cada novo evento tido como avanço, melhoria ou desenvolvimento, cria-se uma nova situação paradoxal. Nem sempre a recíproca é verdadeira; exceções existem e devem ser citadas, como: uso da energia solar, reciclagem, hidrogênio como combustível para veículos automotores, qualidade dos transplantes de órgãos, eficiência dos medicamentos, acesso mais abrangente aos meios de comunicação e de informações, aumento da expectativa de vida com qualidade do ser humano etc. (CÓRDULA, 2012).

Esse é o perfil do ambiente humano, com a sociedade sustentáculo de um modo de vida, premiado pela ciência e tecnologia para aumentar nossa qualidade de vida, o que, por outro lado, causa em larga escala e em longo tempo grande crises ambientais.

Representação alegórica da evolução humana, da Pré-História à sociedade tecnológica.
Representação alegórica da evolução humana, da Pré-História à sociedade tecnológica.
Fonte.

No momento em que o ser humano deixou de ser coautor do meio ambiente é que começou a haver exploração sem consciência. Isso ocorreu por volta de 20 mil anos atrás, quando a exploração já começava a mostrar sinais de modificação do ambiente natural (OLIVEIRA, 1998), e há 9 mil anos é que houve o início dos verdadeiros problemas ambientais, por meio do desenvolvimento das civilizações por todo o planeta (OLIVEIRA, 1998). A causa disso é que o ser humano, por ser dotado de uma capacidade sem igual de evoluir social e culturalmente, influencia diretamente seu modo de vida e sua produção científica e tecnológica, já que se baseia na exploração da natureza, que, ao longo dos milhares de anos, teve sua frágil estrutura abalada, o que gerou uma crise ecológica sem precedentes (VERNIER, 1994).

Com o advento da modernização dos meios de produção industrial, as sociedades humanas ganharam ritmo acelerado de desenvolvimento, aumentando também as necessidades de utilização dos recursos naturais. Imensas áreas verdes foram devastadas para dar lugar aos arranha-céus e à pavimentação de nossas vias de circulação, criando as grandes cidades (GUATTARI, 1990; DIAS, 1998).

Só há apenas 100 anos é que percebemos o quanto é frágil nossa ligação com o planeta e dele conosco, e desde então lutamos para expandir a visão da Terra viva (Gaia) para devolver a homeostase ao meio ambiente (LOVELOCK, 2006).

Hoje, na era pós-moderna, o homem tenta apagar seu rastro de devastação, de seu passado destruidor. Porém temos ainda muito por fazer, e precisamos nos sensibilizar para que haja um futuro, um futuro melhor.

Esse modelo destrutivo e antiambiental (VERNIER, 1994) vem trazendo visíveis consequências ao planeta, em todos os seus continentes, sendo representados pelas modificações climáticas que se mostram a cada ano (FELDMAN; MACEDO, 2001) e que provocam diminuição de nossos recursos naturais, como o caso evidente das fontes de água potável e dos solos férteis e aráveis (SÃO PAULO, 1999). Em poucos séculos, o modelo de desenvolvimento da humanidade irá destruir aquilo que hoje concebemos como meio ambiente (TANNER, 1978; BRASIL, 1997; DIAS, 1998; JACOBI, 1999).

O planeta Terra pulsa como um organismo em que as diversas partes se comunicam e se mantêm em íntimo contato, numa união frágil e vital. Tanner (1978) afirmava que Terra poderia ser vista como uma espaçonave que está rumando para o desconhecido e o seu destino é comandado por nós. O ser humano tem que começar a se responsabilizar pelos seus atos, responder pelos seus danos e, a partir desse momento, repensar para evitar que estes e os próximos possam ou não, de alguma forma, interferir no meio ambiente global (GUATTARI, 1990).

Atualmente os esforços para mudar a percepção do ser humano e da sociedade perante o meio ambiente são universais, com esforços de vários setores da própria sociedade, tendo como foco a EA formal, para formar cidadãos verdadeiramente ativos, participativos e conscientes dentro de nossa sociedade para, com isso, garantir a sobrevivência do ser humano nas próximas décadas (CÓRDULA, 2012).

“Não pode haver navegação sem rios,
Não pode haver rios sem fontes,
Não há fontes sem floresta,
Não há fontes sem chuvas
Não há chuvas sem humanidade
Não há humanidade sem florestas”

José Bonifácio de Andrada e Silva, 1815

A consciência humana deve “conceber o ambiente em seu tríplice universo: o natural, o cultural e o social” (BRANCO, 2003, p. 9). O ser humano, como mola mestra da educação ambiental, já que é um ser cultural e social, tem-se que integrar-se ao universo natural para não separar-se novamente do meio ambiente.

Branco (2003) coloca um conjunto de ações ou estímulos que devem ser considerados para a realização de trabalhos em EA com o ser humano: aulas expositivas, dinâmicas, autoestima, sensibilização, exibição de vídeos educativos, leitura e compreensão textual e formação de líderes multiplicadores, além da arte como autoexpressão e representação do mundo.

Para Leonardo Boff, a Terra, nas várias expressões de Grande Mãe, de terra cultivada e de lar, era sentida como um organismo vivo. Ele não pode ser violado e depredado. Caso contrário, se vinga através de tempestades, raios, secas, incêndios, terremotos e vulcões (LIRA; FERRAZ, 2009, p. 58).

Com essas contribuições substanciais, pode-se lançar mão dos princípios básicos da psicologia, da pedagogia e do tratar das relações interpessoais e sociais do ser humano com o meio ambiente, para induzi-lo pela sensibilização a ser integrado novamente em um único sustentáculo vital (Gaia), que é o planeta Terra (LOVELOCK, 2006).

Referências

BRANCO, S. Educação Ambiental: metodologia e prática de ensino. Rio de Janeiro: Dunya, 2003.

BRASIL. Educação Ambiental. Brasília: MEC/Unesco, 1997.

CÓRDULA, E. B. L. Um mundo perfeito? In: GUERRA, R. T. G. (Org.). Educação Ambiental: textos de apoio. João Pessoa: Ed. UFPB, 1999. p. 44-45.

______. Educação socioambiental em textos: da sensibilização, à reflexão, à ação. Cabedelo: EBLC, 2011.

______. Educação socioambiental na escola. Cabedelo: EBLC, 2012.

DIAS, G. F. Educação ambiental: princípios e práticas. 5ª ed. São Paulo: Gaia, 1998.

FELDMAN, F. & MACEDO, L. V. Mudanças climáticas: da ação local ao impacto global. In: Ciclo de Palestras sobre Meio Ambiente. Brasília: MEC, 2001. p. 37-40.

GUATTARI, F. As três ecologias. Trad. Maria Cristina F. Bittencourt. Campinas: Papirus, 1990.

JACOBI, P. Educação e meio ambiente: transformando práticas. 1999. Disponível em: <http://www.ufmt.br/gpea/pub/jacobi01%E1ticas_revbea.pdf>. Acesso em 05 mai. 2009.

LIRA, L. & FERRAZ, V. Psicologia ambiental: uma relação de equilíbrio entre o homem e a natureza. In: SEABRA, G. (Org.). Educação ambiental. João Pessoa: Editora UFPB, 2009.

LOVELOCK, J. A vingança de Gaia. São Paulo: Intrínseca. 2006.

OLIVEIRA, E. M. Educação ambiental: uma possível abordagem. Brasília: Ibama, 1998.

SÃO PAULO. Conceitos para fazer educação ambiental. 3ª ed. São Paulo: Secretaria do Meio Ambiente/CEA (Série Educação Ambiental), 1999.

TANNER, Tommas. R. Educação Ambiental. Trad. George Schesinger. São Paulo: Summus, 1978.

VERNIER, J. O Meio Ambiente. 2ª ed. Trad. Maria Appenzeller. Campinas: Papirus, 1994.

Publicado em 5 de junho de 2012

Publicado em 05 de junho de 2012

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