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Ensino e/ou incentivo de leitura: uma proposta

Alberto Hércules dos Santos C. Barbosa

Licenciado em Letras; professor da rede estadual de ensino (RJ)

Decorar, classificar, copiar... O ensino tradicional de língua materna, voltado para a gramática, tem imperado em nossas escolas nos últimos cem, duzentos anos... Um ensino técnico voltado para o desuso: uma dona de casa, ao escrever um bilhete para a empregada, o faz por uma capacidade comunicativa que todo ser humano tem, e não selecionando substantivos, adjetivos, preposições e advérbios e organizando-os sintaticamente numa linguagem formal quase lusitana.

Hoje uma minoria de escolas e professores tem descoberto isso e luta por um processo de aprendizagem eficiente e autônomo, não um ensino metódico e imposto. Nos últimos tempos, temos observado o crescente material sobre as inovações linguísticas, sobre novas maneiras de trabalhar a língua materna na escola e a função social da língua.

Língua é sinônimo de liberdade, que é sinônimo de leitura. Ler pressupõe conhecimento, habilidade, comunicação. Em se tratando de documentos, o próprio Currículo Mínimo que rege habilidades e competências a serem trabalhadas com os alunos e as orientações curriculares em geral concordam nesse sentido: os alunos precisam ler, precisam amadurecer como leitores e cidadãos críticos.

Sendo assim, uma proposta séria de trabalho com leitura se faz necessária para a verdadeira maturação deles. Literatura não se resume a escolas e conceitos de autores. Literatura é vida, é movimento, é constante exercício. E esse exercício precisa ser fomentado no lugar de comunicação, interação e formação: a escola.

Defendo este projeto porque acredito no poder que a leitura tem de transformar, libertar, amadurecer. Defendo este projeto porque sou fruto de leitura, porque leio para viver, porque acredito numa educação voltada para a humanização, e que só uma leitura sistemática, prazerosa, sob o signo da liberdade pode proporcionar.

Concordo com Celso Luft, Marcos Bagno, Irandé Antunes e outros abnegados por aí. O ensino gramaticalista, além de inútil, torna servil. Chicoteia com canetas vermelhas e classifica de erro as confusões de regras e normas por vezes incoerentes. Reforça o complexo de inferioridade brasileiro, fazendo com que quase todos os alunos de língua portuguesa achem difícil aprendê-la, quando na verdade já sabem!

Acredito que a forma de trabalho com língua materna na escola mudará a partir do momento em que alunos, professores e gestores tomarem consciência disso: a língua não se aprende na escola; todos sabemos a língua e não somos escravos da sintaxe lusitana antiga. A língua pressupõe liberdade, comunicação, expressão, e isso acontece em todos os meios sociais, principalmente na escola.

Essa proposta está voltada para a avaliação? Sem dúvida que sim. Mas não é o fim dela. Talvez nem tenha fim: é algo que pretendo que se estenda para além dos muros da escola e dos anos em que eles permanecerem aqui. É algo que eu quero que meus alunos levem para a vida, para a família, para os futuros filhos, vizinhos e colegas de trabalho. Meu desejo é que o ato de leitura não cesse, não acabe, não se transforme em mera orientação escolar, mas num ato de prazer.

Por fim, gostaria de reafirmar: temos base em documentos oficiais, em teorias linguísticas e neurológicas e em teorias da paixão, de apaixonados por livros e pelos efeitos que eles provocam. Talvez a última seja a mais eficiente no sucesso do projeto. E é a que toca mais forte em mim.

A língua portuguesa na escola do futuro não pode ser a mesma que está aí esse tempo todo. Não se pode mais obrigar a decorar coisas inúteis e superadas, não pode ser considerada estática e inalterável no meio escolar.

Por fim, como dizia Mário de Andrade, “o passado é uma lição para se meditar, não para se reproduzir”. Meditemos e descobriremos onde está o erro. Só nos resta tentar acertar.

Publicado em 5 de junho de 2012

Publicado em 05 de junho de 2012

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