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A arte de formar educadores para o uso inteligente das emoções
Ivone Boechat
Nesta alvorada da criação, a humanidade continua recriando a eterna Era do Conhecimento, com erros e acertos, desde que o homem deletou o e-mail do Criador e “tocou na árvore do conhecimento”. Essa árvore do conhecimento é também usada no texto sagrado como sinônimo de árvore da vida, ou seja, árvore de emoções. O Senhor, sabedor de que o homem estava no Seu jardim da infância, soletrando as primeiras letras da alfabetização emocional, colocou no regimento interno da Escola Paternal: “Se tocares na árvore do conhecimento, certamente morrerás”. Poderia ser assim a conversa entre Criador e criatura: “Produzirás a bomba atômica e certamente morrerás, criarás o avião e certamente morrerás...”
O aluno Adão fugiu do jardim, uma escola ultramoderna, já informatizada, e foi conferir a TV a cabo do mal. O analfabeto virtual digitou rápido, escondido, a palavra ‘desobediência’, senha do inimigo, e imediatamente caíram as ligações com o Provedor. Do celular o Criador contatou: “Adão, onde estás?” Adão estava com baixa conexão virtual, porque saiu da área do Bem.
O tempo passa, a vida resplandece, a ciência evolui e os educadores continuam sublinhando lições de bom senso, estimulando o uso correto dos bilhões de neurônios desta árvore da vida para que deem bons frutos. “Toda boa árvore dá bons frutos”.
Tudo neste século será revisto. Em qualquer era, o que torna os seres viventes capazes de navegar nas águas frenéticas da revolução social e sobreviver sempre foi e será a educação. Ela é a resposta para os clamores de gerações que se esforçam para transpor as barreiras do imprevisível, descartável, rápido e digital.
Vive-se um self service de eras; no caldeirão científico de todas as eras, todavia, o cientista não conseguiu criar uma célula, decifrar os mistérios do cérebro nem mapear o universo, mas ousa clonar a obra-prima, numa xerox imperfeita.
Como preparar educadores para o uso inteligente das emoções? O que significa ser competente emocional? O homem ampliou e acelerou a tecnologia da informação, todavia não aprendeu a usar o seu estabilizador emocional – o amor, aparelho com elevada potência de razão, para se harmonizar no equilíbrio.
Onde estão os alfabetizadores emocionais? Eles podem e devem ensinar, desde a mais tenra idade, a reconhecer e administrar as emoções básicas: medo, amor, raiva, tristeza, alegria. Por meio de histórias, músicas, poesias, danças, parábolas, pesquisas, exercícios, desafios, enfim, tudo isso pode contribuir, evidentemente; o professor está preparado para desempenhar seu ministério pedagógico.
A formação dos valores fundamentais para estruturar o ser humano é o caminho para se proteger da imposição tecnológica e garantir autonomia, paz e felicidade; “mesmo na adversidade”, como ensinou Epicuro, “o homem pode e deve ser feliz, se aprender a desviar-se da fatalidade”. Desviar-se da fatalidade é manifestação de competência emocional.
Qual é o perfil do homem que se quer formar? Kant orientou e sublinhou que “o homem não é nada além daquilo que a educação faz dele”.
Em meio a tantas inovações, tantas perplexidades e neuroses, Carl Jung faz um alerta no seu livro O homem moderno à procura de uma alma. Conclui que “nenhum homem se cura de uma neurose se não encontrar um significado para a sua vida”.
Fritjof Capra, físico austríaco, escreveu O Tao da Física e outros livros que estão entre os mais influentes dos últimos 30 anos. Ele afirma que a verdadeira crise é a crise de percepção: “Muitos líderes não percebem, ou fazem de conta que não percebem, quais são os verdadeiros problemas deste tempo. A solução para a maioria deles é simples, mas requer mudança de foco. E isso é difícil porque significaria sair da zona de conforto, e a maioria das pessoas não tem essa disposição”.
Hugo Hasmann diz que “É preciso substituir a pedagogia das certezas e dos saberes prefixados por uma pedagogia da pergunta”. É tempo de duvidar! “Penso, logo existo”? Não! Duvido, logo penso.
Há de se implantar a Neuropedagogia, capaz de ajudar a educar as emoções desse homem supernovo, porque a síndrome da comparação social, da pressa, em plena era da ditadura da informação, da beleza, do lucro, podem desestruturar comportamentos.
Edgar Morin, no seu livro Culturas de massas no século XXI, afirma: “A cultura de massas estendeu seus poderes sobre o mundo ocidental, produzindo industrialmente os mitos condicionadores da integração do público consumidor”...
A humanidade clama, em todos os níveis e graus, por educadores emocionais competentes para assumir o comando da educação dos cidadãos da era da metainformação. O homem está blogado, conectado, antenado no MSN, no Twitter, no Facebook e não foi educado para selecionar aquilo de que realmente precisa para o seu crescimento pessoal nem para se comunicar com a sensibilidade necessária para a produção do mundo pacífico. Esse homem pós-moderno precisa ser alfabetizado para dominar a própria leitura emocional e decifrar o painel de emoções do outro, digitando: respeito, paz, união, compreensão, moderação.
Educadores competentes emocionais, aqueles que se exercitam para o uso inteligente das emoções, são, sim, capazes de ajudar o homem a aprender a mobilizar os recursos neurotransmissores da autoadministração e autoestimular acertadamente a química cerebral para reagir positivamente ante as pressões pelo excesso de informações.
Publicado em 26 de junho de 2012
Publicado em 26 de junho de 2012
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