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Aulas contextualizadas em Ciências: uma práxis necessária
Eduardo Beltrão de Lucena Córdula
Professor de Educação Básica, pesquisador do Centro de Educação da UFPB
O trabalho docente integra todo o processo educativo como fenômeno social universal para proporcionar a aprendizagem dos conhecimentos mínimos necessários aos educandos, visando uma formação cidadã. Como toda educação é intencional e está pautada em abordagens pedagógicas e metodológicas, proporcionam o ensino-aprendizagem ao longo do ano letivo, tendo como base a matriz curricular (CÓRDULA, 2010a).
O processo de ensino-aprendizagem que ocorre nas salas de aula tem se voltado para métodos e técnicas diversificadas, buscando colocar o aluno num mundo globalizado, sistêmico e em constantes mudanças (MORAES, 2008). Portanto, contextualizar a partir do material didático disponível é o grande desafio enfrentado pelos professores, pois, a partir do mundo do educando, interpretando e em constantes re-leituras (FREIRE, 1992), podemos construir os conhecimentos bidirecionais no ambiente de ensino, estando voltados para a vida cotidiana de cada criança e adolescente presente em nossas salas de aula.
Tanto educação como a cultura e a sociedade são sistemas complexos, cujo funcionamento envolve diferentes áreas do conhecimento humano, o que exige um olhar mais amplo e abrangente para a solução de seus problemas (MORAES, 2008, p. 242).
Além dessas questões, temos, especificamente no ensino de Ciências, a problemática da interpretação, pelos alunos, da linguagem científica presente no material didático (BRAGA; MORTIMER, 2003) e, portanto, as interpretações desenvolvidas pelos alunos nas relações entre conhecimento científico e, ao mesmo tempo, no tocante ao conhecimento escolar.
A linguagem cientifica, ou melhor, os registros discursivos utilizados nas várias ciências apresentam particularidades e merecem uma atenção especial da pesquisa sobre o ensino de Ciências, pois interferem na compreensão de conceitos e fenômenos científicos (BRAGA; MORTIMER, 2003, p. 57).
Além de lidar com eles, temos que ter em mente a hermenêutica do paradigma dos problemas sociais e ambientais, que precisam, numa ótica interdisciplinar, ser tratados nas disciplinas não só de Ciências, mas também de Biologia e, portanto, ter tais conteúdos incluídos nos materiais didáticos adotados pelas escolas (SILVA et al, 2010).
A investigação no campo do ensino-aprendizagem de Ciências
Nas últimas décadas, a pesquisa no campo das ciências tem priorizado o aluno e como este interpreta o conhecimento que lhe é passado em sala de aula. O processo de educar demanda dos educadores total interação com seus educandos, a fim de que todo o processo de ensino-aprendizagem aconteça seguindo o currículo formal e as novas propostas pedagógicas (CÓRDULA, 2010b). Os erros são, portanto, o alvo desta investigação, pois as respostas erradas são o trampolim para contextualizar o ensino a partir do repertório do aluno, para assim gerar um aprendizado pautado nos conhecimentos populares e científicos. Nesse sentido, devemos estimular os alunos com exercícios de raciocínio para que eles consigam superar esses “erros” e construir o conhecimento cientificamente correto (DOMINGUEZ, 1996; POZZO, 1998).
Na construção da cidadania nos alunos, temos que desconstruir e reconstruir sua visão de mundo, que em alguns deles está distorcida, pois nos chegam com uma ausência completa de educação doméstica e muitas vezes com exemplos de comportamento inadequados assimilados em sua comunidade de origem, que acabam acreditando serem corretos, devido ao exemplo que tiveram como espelhos para moldarem a si próprios (CÓRDULA, 2010b, p. 5).
São as tentativas que o aluno faz para tentar interpretar e entender corretamente o que está sendo ensinado que acabam gerando tais erros conceituais e de interpretação, provocando distorções que podem ser trabalhas e servem como ponto de partida para a aprendizagem (FREIRE, 1992; BRAGA; MORTIMER, 2003).
A escola e a perspectiva do aluno
Dados coletados em escolas públicas e particulares confirmaram o resultado de uma aprendizagem defasada e repleta de distorções. Essas atribuições são verificadas pelos diferentes significados que os alunos atribuem às visões que possuem após o conhecimento apresentado pelos livros-texto e pela fala do professor (FREIRE, 1992; DOMINGUEZ, 1996).
Encontrar um senso comum entre conhecimento popular, cotidiano e conhecimento científico é a mola mestra para conseguirmos efetuar um ensino de qualidade e corretamente atribuído de significados e aplicável ao cotidiano da sociedade (BRAGA; MORTIMER, 2003).
Figura 1 – Concepção de ensino-aprendizagem pela linguagem científica
Esta primeira figura se contrapõe à seguinte, em que temos que conciliar os conhecimentos e as vivências escolar e cotidiana, aliadas ao conhecimento científico.
Figura 2 – Formação do conhecimento cotidiano
Compete, então, a nós, professores, aprender a escutar os sentimentos, educar a sensibilidade, educar o olhar do aprendiz para que ele possa reconhecer mais facilmente a sua realidade e sair mais facilmente da ilusão (CÂNDIDA, 2008).
Cabe, portanto, ao professor, por seu repertório metodológico e didático, construir o conhecimento em sala de aula, suprindo as carências regionais dos livros texto adotados, e ao mesmo tempo, desmistificando a linguagem científica, que se torna para muitos alunos um entrave ao aprendizado; para tanto, eles precisam ampliar seu conhecimento de mundo por meio de exercícios de reflexão, leitura e interpretação, numa vertente crítico-social e problematizadora (FREIRE, 1992; POZZO, 1998; CÓRDULA, 2010).
Figura 3 – Formação do conhecimento contextualizado e voltado para uma aprendizagem cidadã
Reflexões finais
Hoje, grande parte das pesquisas sobre ensino de ciências trata das questões inerentes à sua conceituação didática e metodológica. Porém temos que nos voltar para a busca de modelos teóricos que venham definir a relação continuidade-ruptura entre o conhecimento científico e o senso comum, gerando assim a contextualização.
Sem uma atuação continua como professor-pesquisador, o que é de fundamental importância para a educação, estaremos aquém de um sistema de ensino com qualidade e eficiência.
Através do mundo do educando, de toda a sua bagagem de conhecimentos cotidianos, podemos construir e reconstruir os modelos de ensino-aprendizagem, adequando-os à realidade local de cada unidade de ensino e, assim, garantir que nosso alunado tenha uma formação de qualidade, contextualizada e de verdadeira formação cidadã.
Referências
BRAGA, Selma A. M.; MORTIMER, Eduardo F. Os gêneros de discurso do texto de Biologia dos livros didáticos de Ciências. Revista Brasileira de Pesquisas em Educação em Ciências, v. 3, n° 3, 2003, p. 56-74.
CÓRDULA, Eduardo B. L. Mudanças de paradigmas na metodologia do ensino de Ciências em turmas do Ensino Fundamental de uma escola pública em Cabedelo-PB. In: ALBUQUERQUE, Helder N. et al (Org.). Anais do Congresso Nordestino de Biólogos. CONGREBIO 2010. Anais... Campina Grande: Instituto BioEducação; João Pessoa: Rebibio, 2010a. p. 75.
______. Educador e educando! Jornal da Paraíba, João Pessoa, Cidades, 28 set. 2010b, p. 5.
DOMINGUEZ, D. C. Ciência, escola e vida cotidiana – contextos para o conhecimento. In: BRZEZINSKI, I. (Org.). Formação de Professores: um desafio. Goiânia: UCG, 1996.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Autores Associados; Cortez, 1989. Coleção Polêmicas do Nosso Tempo 4.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança: um reencontro com a Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
MORAES, Maria Cândida. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem e cidadania no século XIX. Petrópolis: Vozes, 2008.
POZO, Ignácio J. (Org.). A solução de problemas: aprender a resolver, resolver para aprender. Trad. Beatriz Affonso Neves. Porto Alegre: ArtMed, 1998.
SILVA, Ana Lígia L.; SALES, Joseane L.; ALBUQUERQUE, Maria Virgínia C. A questão ambiental e Biologia Ambiental para a prática educativa. In: ALBUQUERQUE, Helder N. et al (Org.). Anais do Congresso Nordestino de Biólogos. CONGREBIO 2010. Anais... Campina Grande: Instituto BioEducação, João Pessoa: Rebibio, 2010. p. 45-49.
Publicado em 26 de junho de 2012
Publicado em 26 de junho de 2012
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