Este trabalho foi recuperado de uma versão anterior da revista Educação Pública. Por isso, talvez você encontre nele algum problema de formatação ou links defeituosos. Se for o caso, por favor, escreva para nosso email (educacaopublica@cecierj.edu.br) para providenciarmos o reparo.
Leibniz, os mundos possíveis e as mônadas
Mariana Cruz
De acordo com Leibniz, são infinitos os mundos possíveis dentre os quais Deus escolhe o melhor para existir. Não só o mundo eleito como os demais têm restrições em cada uma das séries neles contidas.
Cada mundo é um conjunto completo; isso significa que nenhum elemento ulterior pode ser acrescentado a ele sem torná-lo inconsistente ou sem diminuir a riqueza de suas misturas de variedade e ordem.
A distinção entre um mundo e outro está no fato de seus membros operarem de acordo com diferentes leis. Cada mundo impõe certas restrições às mônadas (as unidades substanciais que formam tais mundos). Assim, uma mônada pertencente a um mundo possível desenvolve-se de acordo com as leis do mundo do qual ela participa. Isso faz com que seja inviável que uma mônada junte-se a outras que estejam subordinadas a outras leis designadas por Deus. Esse é o motivo de algumas substâncias possíveis serem inadmissíveis em outra seleção possível. Daí os mundos não poderem ser levados para caminhos incompatíveis com as leis que os governam.
Todos os acidentes estão incluídos desde sempre na essência da mônada, ou seja, ela traz em si tudo aquilo que aconteceu e o que lhe acontecerá; seus estados passados, presentes e futuros, bem como todos os estados do universo inteiro. Ela reflete todo o universo a partir de certa perspectiva; contém não só aquilo que é relativo ao seu próprio estado como também todas as coisas com as quais ela se relaciona. Tais relações externas aparecem nas mônadas como modificações internas, pois elas são fechadas em si; sendo assim, não têm relação direta umas com as outras.
A mônada é desprovida de um canal de comunicação para fora de si; apesar disso, indiretamente ocorre uma influência mútua na medida em que cada mudança externa é expressa por uma alteração no interior da mônada. A relação entre elas se dá através das respectivas percepções de cada uma delas. Cada mônada é como um espelho que reflete tudo que acontece, mas não interage com as outras. Isso, posteriormente, aparecerá no sistema como sendo a harmonia preestabelecida:
Deus produz diversas substâncias conforme as diferentes perspectivas que tem do universo e, por sua intervenção, a natureza própria de cada substância implica que o que acontece a uma corresponda ao que acontece a todas as outras, sem que ajam imediatamente umas sobre as outras (LEIBNIZ, 2004, p. 29).
Dessa forma, tudo que acontece a uma substância é consequência dela própria, do mundo interno dela. As percepções nas substâncias ativas são mais distintas, enquanto nas substâncias consideradas passivas tais percepções se dão de maneira mais confusa.
De acordo com Leibniz, Deus não dá simplesmente origem às criaturas, deixa-as livres; sua criação se dá de forma contínua, se dá por emanação. Tal relação de conservação causa dependência perpétua dos seres com Deus. Apesar de tal relação, cada substância é um mundo particular. Isso, porém, não impede que seja possível prever algumas atitudes futuras delas, não apenas devido a determinadas características que cada uma possui como também devido às suas atitudes passadas. A substância expressa também o conteúdo de Deus; apesar disso, ela não sabe com certeza como agir da melhor forma. Ela, assim como Deus, tem a visão geral do mundo. O que irá diferenciar uma substância de outra é o modo de percepção das coisas ao seu redor, ou seja, o grau de clareza ou obscuridade que tem em relação às coisas.
Há, contudo, pontos de convergência entre as substâncias, como ocorre, por exemplo, quando várias substâncias presenciam um mesmo fato. A despeito disso, cada uma terá uma perspectiva própria sobre o ocorrido, mas não tão distante a ponto de não se entenderem. Se assim não fosse, se cada substância tivesse uma visão particular que não fosse compartilhada com as das outras, não haveria nenhuma ligação entre elas, e não é o que ocorre. Vemos, nesse caso, que ligação apresenta um sentido bem diferente de dependência. Deus, apesar de ter uma visão do todo, sabe como cada substância enxerga individualmente. Ele é o responsável por tornar o ponto de vista individual algo geral compartilhado por elas. É assim que ocorre a ligação entre elas.
Leia também: Leibniz e a forma substancial.
Publicado em 10 de julho de 2012
Publicado em 10 de julho de 2012
Novidades por e-mail
Para receber nossas atualizações semanais, basta você se inscrever em nosso mailing
Este artigo ainda não recebeu nenhum comentário
Deixe seu comentárioEste artigo e os seus comentários não refletem necessariamente a opinião da revista Educação Pública ou da Fundação Cecierj.