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Uma aluna que nunca está parada: Ana Paula

Alexandre Rodrigues Alves

Segunda-feira foi aniversário da Ana Paula. Além de me levar a mandar uma mensagem pra ela no Facebook, a data me faz lembrar da sua presença no colégio e especialmente em sala de aula. Foi ela a primeira pessoa a me cobrar “professor, você tem página no Orkut?”.

Ana Paula é daquelas pessoas que reúnem inteligência e dedicação, visão de estrategista e empenho, humor e liderança. Sempre foi representante de turma – daquele tipo de desmentir o professor que diz que disse mas não tinha falado nada (sobre data de prova, matéria a ser avaliada etc.), ao mesmo tempo que cobrava do aluno que tentava justificar alguma atitude injustificável.

Não satisfeita em me aturar nas aulas – e ser quase sempre a melhor aluna da turma (só ficou com notas ruins quando esteve doente e faltou bastante às aulas) – botou a filha adolescente para estudar comigo. E sempre que aparecia na escola vinha me perguntar como estava a menina, se precisava de uns puxões de orelha, com quem ela andava... Aliás, esse era o maior problema dela, porque esperta, inteligente e rápida no raciocínio ela era como a mãe.

Longe de ser caxias, nerd ou qualquer coisa que se possa imaginar no estilo, Ana Paula era a primeira a arranjar motivos para uma festa, junina, para os professores, para um colega, chá de bebê, de panela ou por um motivo qualquer.

Em sala de aula, estava sempre atenta (e quando conversava me mostrava que a aula estava chata) e cobrava mais informações, mais dados e fazia associações quase sempre irretocáveis. Não se satisfazia sempre com explicações genéricas ou superficiais. Tinha sempre um por que pronto. Por essas e outras, sempre foi representante de turma.

Dia desses apareceu no colégio para conversar comigo. A filha dela tinha voltado a estudar em Duque de Caxias e morava com o pai... Estava muito sofrida porque havia perdido o prazo para se matricular na UFRJ, pois havia passado para Sociologia (ou História? Ou Filosofia?). O computador tinha pifado, ela estava sem dinheiro pra consertá-lo, mas nem de longe imaginou que entrasse na classificação. Então relaxou... Agora, a data havia passado, não havia nada a fazer, a não ser outro vestibular. Tentei consolá-la (você faz de novo ano que vem, vai que você não ia gostar do curso...), mas nada diminuía seu inconformismo.

Há uns dois anos, mais ou menos, veio comemorar comigo sua aprovação no concurso para merendeira escolar do município. “Nossa, você vai ficar muito cansada!”

A resposta foi imediata: “Pra quem já foi cozinheira de restaurante, fazendo paneladas de vários pratos, fazer panelada de um prato só é mole!”. A prefeitura custou a efetivar os aprovados no concurso, e Ana Paula estava toda hora na porta da sede municipal, com os outros concursados, fazendo manifestações e lutando por seus direitos. Depois de algum tempo, a efetivação saiu, como resultado de ações na justiça etc. e tal.

Ana Paula agora estava fazendo o que queria, satisfeita? Fazendo o que queria, sim; satisfeita, não. Fez outro concurso, para auxiliar de creche, também do município. Passou, foi chamada para uma creche perto de casa. Ótimo!!! Pronto, tudo em paz?

Em termos; está descansando, só; quer juntar energias para fazer o vestibular, entrar para o curso que sempre quis (pena, não é Letras!!!) e estudar, estudar, estudar...

Será uma professora e tanto! Felizes os que forem seus alunos.

Publicado em 10 de julho de 2012.

Publicado em 10 de julho de 2012

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