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Projeto politico-pedagógico: a qualidade dos serviços oferecidos
Solange Barros
Participantes: Maíra Barcelos De Souza, Manon Miguel Bernardes, Marcelle Martins Costa Do Nascimento, Marcelle Zerbini Autran, Márcia Filgueiras Gonçalves, Márcia Regina Fernandes Pimenta, Margareth De Sales Da Silva, Maria Alice Faria Tavares, Maria Aparecida Da Silva De Almeida, Maria Cristina Conceição Santana, Maria Das Dores Mattos Da Silva Medeiros, Maria De Fátima Oliveira Mathias, Maria Elisabete Dos Santos, Maria Luiza De Aguiar Mattos, Mariléa De Freitas Campos, Mariana Pimentel Santos, Mariana Stephano Barbosa Nepomuceno, Marianna De Andrade Barino, Marcia Alves Santos, Marcela Ferreira Schincaglia, Maria Helena Dos Santos, Maria Elisângela Da Costa Silva, Marilane Rezende Duarte, Marizete Faustino Da Cunha, Michele Pereira Becker, Michelle Ribeiro De Carvalho, Mila De Oliveira Miranda, Nayla Schenka Ribeiro, Neuza Costa Maldonado, Niara Ventura Malheiro, Nilce Bertolino Dos Santos Alves, Nilson Affonso Da Silva, Núbia Melo Raminelli Mendonça, Oscar Da Silva, Ozana Laudelino Miranda De Ornelas, Patrícia Cristina Da Silva Gomes, Patrícia Guimarães Evaristo, Paula Regina Araújo De Azevedo Silva, Paulo Alexandre Alves De Carvalho, Priscilla La Vega, Raphael Ribeiro Novaes, Raquel Uchôa Da Rocha, Raquel Fernandes Bravo, Rita De Cassia Garcia Dias, Rita De Cassia Maria Das Flores, Rosangela Rocha Dos Santos, Roberta Silva Teixieira, Roger Dos Santos Almeida, Rosana Aparecida Da Silva, Rosana Lodi Lourenço, Rosane Narciso Fontes, Rosangela Maria Da Silva Medeiros, Roseli Dos Santos Duarte, Rosemere Mussel Annecchini, Rosilene Dos Santos Garcia, Rudyard Gonlcalves Coutinho, Sandra Da Costa Pessoa, Sandra Ramos Martins, Sergio Luiz Rosendo, Shirley De Oliveira Fernandes, Simone Chaves De Mattos, Simone Matos Bezerra De Lemos, Sonja Hene Pereira Da Silva, Stephane Cardoso Gonçalves, Sucylly Wamberta Miranda Ferreira Leite, Taciane Almeida Dos Santos, Tatiana Csicsay De Mattos, Tatiana Elizabeth Perez Soares, Valeria De Barros Reis, Valeria Machado Dos Santos, Valéria Santana Da Silva Rodrigues, Vanessa Alves De Faria Da Silva, Vanessa Januncio Mesquita, Velâne Pacheco Do Nascimento, Zeimara De Almeida Santos,
Introdução
Este trabalho é o resumo de um texto coletivo e reflexivo proposto pelo Curso de Extensão da Fundação Cecierj na área de Prática Docente/Cognição da disciplina Ação Docente na Organização Escolar, produzido no Wiki (um software colaborativo que permite a edição de texto). Foram discutidas questões referentes à elaboração do projeto político-pedagógico para buscar compreender o seu significado, sua importância para a escola e, ao mesmo tempo, refletir sobre pressupostos que devem orientar uma proposta pedagógica; são eles: igualdade de condições para acesso e permanência na escola; valorização da classe docente; e qualidade dos serviços oferecidos na educação. A elaboração do projeto político-pedagógico é de suma importância para a instituição escolar que busca qualidade; o próprio projeto deve prever as atividades escolares, do pedagógico ao administrativo, priorizando a construção de uma gestão democrática integrada às necessidades e aos desejos da comunidade, que também participa ativamente de sua confecção e operacionalização, atingindo um resultado positivo referenciado por professores, técnicos, pais, representantes de alunos, funcionários e outros membros da comunidade escolar.
O projeto político-pedagógico
Escola é o lugar onde se faz amigos, não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos (...). Escola é, sobretudo, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente, cada funcionário é gente. E a escola será cada vez melhor na medida em que cada um se comporte como colega, amigo, irmão. Nada de “ilha cercada de gente por todos os lados”. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém, nada de ser como tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só. Importante na escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se “amarrar nela”! Ora, é lógico... Numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz. (Paulo Freire)
Pensar em escola e educação é pensar em qualidade de ensino e de serviços prestados à sociedade em constante transformação. A elaboração de um projeto político-pedagógico, portanto, torna-se de extrema importância para a instituição escolar, considerando-se que deve envolver toda a sua comunidade – interna e externa. Nesse sentido, entende-se que o projeto faz parte de uma construção coletiva e deve buscar consolidar os ideais de uma escola democrática, inclusiva e abrangente.
Demo (1998) se refere assim a essa questão:
Existindo projeto pedagógico próprio, torna-se bem mais fácil planejar o ano letivo ou rever e aperfeiçoar a oferta curricular, aprimorar expedientes avaliativos, demonstrando a capacidade de evolução positiva crescente. É possível lançar desafios estratégicos como: diminuir a repetência, introduzir índices crescentes de melhoria qualitativa, experimentar didáticas alternativas, atingir posição de excelência (p. 248).
É preciso ressaltar que todos, trazendo sua parcela de contribuição, refletindo, agindo, desenvolvendo e aproveitando potencialidades podem colaborar com soluções coerentes para dificuldades encontradas, tornando possível efetivar um processo de ensino-aprendizagem de qualidade, em que todos estejam dispostos a cooperar e se emancipar para um mundo cada vez mais exigente.
O projeto político-pedagógico é um processo de discussão e reflexão permanente da escola – lugar de concepção, realização e avaliação. Segundo Libâneo,
A escola que consegue elaborar e executar, num trabalho cooperativo, seu projeto político-pedagógico dá mostras de maturidade de sua equipe, de bom desenvolvimento profissional de seus professores, da capacidade de liderança da direção e de envolvimento de toda comunidade escolar (p. 152-153).
A importância do projeto, portanto, reflete a identidade da instituição e a direção na qual ela vai caminhar. Nesse contexto, devemos refletir sobre um novo modelo de gestão, pois, se um dos objetivos da escola é formar pessoas críticas e autônomas, deve-se investir em gestão participativa e em projetos em que todos os segmentos tenham voz e assumam responsabilidades.
Ora, sabemos que, em se tratando de meios, o ser humano é o melhor representante, porque tudo que foi desenvolvido em termos culturais, científicos e tecnológicos é fruto do seu empenho e interesses a partir de habilidades, competências, capacidade e inteligência. Dessa forma, estamos convictos de que a qualidade dos serviços oferecidos na educação depende da qualidade das relações humanas.
Em contrapartida, entende-se que o projeto político-pedagógico é resultado de intencionalidade e trabalho coletivo; deve buscar metas comuns que intervenham na realidade sociocultural da comunidade escolar, levando em consideração a vontade de mudar, de concretizar possibilidades e sonhos, de trabalhar utopias, permitindo-se avaliar o processo de fazer e aprender, projetando mudanças.
Desenvolvimento
Em face dos constantes desafios e transformações na sociedade, a educação, focada na qualidade de uma prática social, pode contribuir para a democratização da sociedade brasileira. Evidencia-se, nesse processo, que a busca de qualidade representa o desejo de prestar um serviço eficiente para formar homens e mulheres capazes de compreender a sociedade em que vivem.
Essa temática destaca a importância social do projeto político-pedagógico no contexto escolar, uma vez que o seu processo de construção e execução visa a melhoria dos serviços educacionais considerados relevantes para estruturar princípios que norteiam as práticas educativas.
Políticas educacionais centralizadoras e autoritárias, permeadas por questões antidemocráticas e ideológicas que causam situações de conflito e de resistência têm marcado a história da Educação brasileira, inviabilizando, e muito, a implantação de uma escola independente, capaz de gerir democraticamente, projetada para a autonomia e a liberdade.
Apesar de encontrarmos avanços no sistema educacional, muitas escolas ainda continuam defasadas em relação às mudanças que a sociedade vem experimentando. Encontramos ainda muitos resquícios de uma educação tradicional que marginaliza e exclui um bom número de alunos, com aplicação de métodos arcaicos, conteúdos programáticos fragmentados, muitas vezes, desvinculados da vida dos alunos, que não despertam neles motivação e/ou interesse. Além disso, existe a presença autoritária de professores que se julgam os únicos detentores do conhecimento, herança marcante de uma mentalidade escolar tradicional.
Mudar a escola não é fácil nem rápido; contudo é necessário e urgente. Entendemos que sua transformação é marcada por um campo de luta pelas conquistas sociais que têm sido, a longo prazo, limitadas para a maioria da população brasileira. Cabe, porém, à escola tornar-se um dos agentes de mudança social e constituir-se em um espaço democrático, garantindo ao educando o direito de usufruir da construção do seu conhecimento, oferecendo aos professores educação continuada, viabilizando uma gestão mais democrática, atuante, que saiba criar propostas alternativas para superação de problemas escolares e, nesse contexto, fazer com que todos estejam comprometidos com a qualidade na educação.
Nesse aspecto, certas estratégias facilitam a preparação, a revisão e o acesso da equipe ao projeto político-pedagógico. Um novo modelo de gestão, focado na qualidade dos serviços prestados aos clientes e nas lições aprendidas durante a implantação do projeto, formula um modo de atuação e sugere que os benefícios decorrentes da gestão da qualidade excedam largamente os custos de sua implantação.
Segundo Veiga,
Qualidade não pode ser privilégio de minorias econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões indissociáveis: a formal ou técnica e a política. (...) A qualidade política é condição imprescindível da participação. (...) E esta depende da competência dos meios.
Estamos cientes de que, para se efetivar uma educação de qualidade, necessitamos de sistemas educacionais livres de burocracias lentas e centralizadoras, caracterizados por normas e regulamentos excessivos e por uma estrutura hierárquica que não lhes confere agilidade na solução dos problemas.
Nesse contexto, enfatizamos que a gestão é um componente decisivo para a eficácia escolar. Vários estudos, no Brasil e no exterior, vêm comprovando que escolas bem geridas e organizadas são mais eficazes; porém, para sabermos se prestamos um serviço de qualidade, é imprescindível fazer periódica avaliação.
Segundo Gadotti, a avaliação é um tema que qualifica a educação e os serviços prestados pela instituição. O autor nos leva a pensar em dois tipos: avaliação da aprendizagem e avaliação institucional. Esse processo pode ser feito por um diálogo construtivo, caso contrário pode transformar a avaliação em uma prática autoritária e repressiva. A opção depende da concepção educacional e dos objetivos que se quer alcançar.
Torna-se importante ressaltar, também, que o projeto político-pedagógico pode contribuir para a qualidade dos serviços oferecidos na escola, a partir do momento em que ele é pensado e executado de maneira correta; isto é, para que se torne realidade, ele precisa, primeiramente, ser encarado por toda a comunidade escolar como um instrumento de transformação, e não apenas como um documento padrão que será arquivado. Para que isso aconteça, ele deve ser construído coletivamente e de acordo com a realidade, com as necessidades e expectativas de todos os envolvidos no cotidiano escolar. De acordo com Vasconcellos, no livro Coordenação do trabalho pedagógico, do projeto político-pedagógico ao cotidiano da sala de aula, toda a comunidade escolar deve estar envolvida na elaboração desse documento escolar, participando democraticamente, expressando suas opiniões, sabendo ouvir e respeitar as opiniões e decisões coletivas.
O projeto político-pedagógico deve ser o norteador do ideal de qualidade que uma comunidade almeja alcançar, considerando-se objetivos, metas e recursos disponíveis para uma educação de qualidade. Mais importante: deve ser consultado, revisto, avaliado e reformulado constantemente, de acordo com as novas demandas que vão surgindo no contexto educacional. É preciso compreender que o projeto político-pedagógico jamais estará pronto, acabado, pois faz parte de um processo constante de “construção-reflexão-reconstrução” (Marcelle Zerbini).
A contemplação desses aspectos se dá não apenas pelo respeito à comunidade escolar, mas garantindo o direito de cada um participar, trazendo sua contribuição, tornando-se corresponsável nessa construção e/ou reconstrução periódica, seguida do respeito às leis – conhecendo, estudando, avaliando, reconhecendo sua importância –, mas também pelo exercício de cidadania no compromisso ético com a democracia.
É importante lembrar, pelas palavras de Gadotti, que:
Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o futuro. Projeto significa tentar quebrar um estado confortável para arriscar-se, atravessar um período de instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o presente. Um projeto educativo pode ser tomado como promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam visíveis os campos de ação possíveis, comprometendo seus atores e autores (1994, p. 579).
Sendo assim, o projeto não pode ser algo construído para logo em seguida ser arquivado ou encaminhado às autoridades competentes. Ele precisa ser construído e vivenciado por todos em todos os momentos do processo educacional; como é um processo coletivo, visa o comprometimento da intencionalidade de se construir um cidadão participativo, crítico e criativo.
Cabe esclarecer que a educação de qualidade não é a que pode ser obtida a qualquer custo e a qualquer preço. Atendimento também é um diferencial. Todas as pessoas devem ter acesso à educação, provê-la no prazo previsto (socialmente determinado, como é o caso dos nove anos do ensino fundamental) e em locais adequados, aos quais os alunos possam ter acesso.
Devemos considerar também o moral da equipe envolvida, gerenciando os aspectos referentes à motivação intrínseca (orgulho do trabalho bem-feito) e extrínseca (adequadas condições materiais de trabalho) dos profissionais da Educação. Outra dimensão importante é a segurança, que, em sentido restrito, refere-se à segurança física dos agentes no ambiente escolar; em sentido amplo, ao impacto do serviço educacional ou da sua provisão no meio ambiente. Finalmente, há uma dimensão ética que deve ser observada entre os atores do processo educacional, tratando-se de verdadeiro código de conduta responsável pela transparência e boa fé das ações.
Portanto, não se deve restringir a conceituação da qualidade ao seu aspecto político-pedagógico, pois o que confere a característica de totalidade à qualidade da educação e seus serviços é o atendimento de todas essas dimensões simultaneamente.
Sem dúvida, a construção do projeto político-pedagógico é a forma objetiva de a escola dar sentido ao seu saber fazer na condição de instituição escolar: é a realização concreta de seus sonhos, em que ações são construídas e reconstruídas de forma dinâmica e histórica; é a revelação de seus compromissos, sua intencionalidade e, principalmente, de sua identidade e de seus membros.
No entanto, só podemos falar de qualidade dos serviços oferecidos quando identificarmos a qualidade nos relacionamentos interpessoais, incluindo a preocupação com o outro e, acima de tudo, o respeito à opinião de outras pessoas que também vivem, choram e lutam como nós, mas, todos, sem exceção, pensam de forma diversificada.
Sob essa perspectiva, ao elaborar qualquer tipo de projeto, sabemos que é necessário mudar o olhar. Como afirma Gentili (1995, p. 176), “em uma sociedade democrática e moderna, a qualidade da educação é um direito inalienável de todos os cidadãos, sem distinção”; entretanto, sabemos dos desafios constantes para o desenvolvimento e manutenção de bons serviços educacionais inclusivos e abrangentes, em face de diversidades e necessidades locais e dimensionamento global resultante de novas tecnologias da informação e comunicação, principalmente, com o advento da internet.
Portanto, torna-se fundamental para confecção de um projeto político-pedagógico o levantamento das necessidades de uma determinada comunidade escolar a curto e longo prazo; o estabelecimento de objetivos e metas, organização, planejamento de etapas e administração de recursos humanos e de materiais que possam garantir, em primeiro lugar, o desenvolvimento urgente de prioridades para futuros planos de ação. Tudo isso exige sintonia de propósitos, lideranças, trabalho colaborativo e cooperativo, permeando todo processo em diferentes frentes e etapas.
Nesse sentido é que se deve considerar que a construção de um projeto político-pedagógico se torna um processo de reflexão permanente em que os problemas da escola deverão ser bem analisados, na busca de alternativas que sejam viáveis à efetivação de sua intencionalidade, que "não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva" (Marques, 1990).
É necessário ressaltar que precisamos de uma escola descentralizada que busque mais autonomia, visando melhorias e a manutenção de qualidade. Demo afirma que qualidade formal “significa habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos desafios do desenvolvimento" (1994, p. 14). A escola de qualidade deve garantir a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos.
Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa de acesso global, no sentido de que as crianças em idade escolar entrem na escola, pois é preciso garantir a permanência dos que nela ingressem. Em síntese, qualidade "implica consciência crítica e capacidade de ação, saber mudar" (DEMO, 1994, p. 19).
Consideramos que, na busca de serviços de qualidade, precisamos contemplar tópicos importantes no projeto político-pedagógico, como: missão; clientela; dados sobre a aprendizagem; relação com as famílias; recursos; diretrizes pedagógicas e plano de ação. Certamente deve existir o compromisso de que todos os projetos propostos devam passar por análise completa todos os anos, buscando reorientação das diretrizes, dos objetivos e das metas, a fim de atender às mudanças que a escola vivencia e, consequentemente, as novas necessidades dos alunos.
Ademais, estamos convictos de que, quando a escola avalia as suas próprias práticas e percebe as suas necessidades, pode tomar iniciativas para superar problemas e enfrentar novos desafios. O sucesso do projeto vai depender do compromisso dos envolvidos (qualidade política) e do referencial teórico-metodológico adotado (qualidade formal).
Por outro lado, por meio do nosso conhecimento e de troca de experiências, sabemos que a qualidade do ensino e a gestão educacional andam atreladas. A educação de qualidade reflete o compromisso que a escola deve ter com os serviços prestados através de seus objetivos claros e do projeto político-pedagógico – o documento que retrata a escola, sua realidade e a interação ativa com os envolvidos na sua construção.
Nesse processo, deve-se ter consciência de que o projeto deve ser mutável, dinâmico, intencional, claro e funcional para a eficácia escolar.
Reiteramos que a qualidade dos serviços oferecidos pela escola deve refletir com clareza sua natureza intencional. Para Severino (1998, p. 82) "é na intencionalidade nuclear do projeto educacional que se encontram as raízes e as referências básicas dos objetivos que vão nortear a proposta pedagógica da instituição de ensino que queira, com eficácia e qualidade, o seu trabalho educativo". Nesse sentido, a intencionalidade pode ser percebida como reflexo do conjunto de ações que a escola realiza, na prática cotidiana em que assume posicionamentos teóricos e metodológicos.
No conjunto harmonioso e integrado por pessoas, setores, parcerias, recursos e materiais, deve predominar a mobilização autônoma e interdependente a favor da manifestação coletiva de resultados previsíveis e de suas variáveis.
Percebemos, sob essa perspectiva, a participação democrática de uma gestão que busca analisar, corrigir, avaliar convergências e divergências para ações multiplicadoras e eficazes.
Nesse processo, concorrem habilidades e competências individuais que equilibram passos, determinam ritmo e compasso em cada etapa do projeto, sem, contudo, ter a pretensão de estabelecer hegemonia entre os pares, mas, sim, de permanecer tecendo, na simplicidade das ações, a rede complexa existente em projetos político-pedagógicos, tendo em vista que necessitam ser relevantes, inclusivos, abrangentes e sustentáveis, visando transformações sociais contemporâneas, úteis, significativas. Ressaltamos aqui a marcha incessante para a formação integral e emancipação de todos os participantes envolvidos no processo, privilegiando, sem dúvida, os alunos.
Lembramos, nesse contexto, a importância de educar, educando-se, para efetivamente cooperar com a evolução do projeto e promover qualidade em seus serviços.
Segundo Brandão (2008, p. 21-22), “a educação (...) deve ser um ato coletivo, solidário (...). Porque educar é uma tarefa de trocas entre pessoas e, se não pode ser nunca feita por um sujeito isolado (até autoeducação é um diálogo a distância), não pode ser também o resultado do despejo de quem supõe que possui todo o saber sobre aquele que, do outro lado, foi obrigado a pensar que não possui nenhum. “Não há educadores puros”, pensou Paulo Freire. “Nem educandos”. De um lado e do outro do trabalho em que se ensina e aprende, há sempre educadores-educandos e educandos-educadores. De lado a lado se aprende”.
Considerações finais
A escola como instituição social voltada para a educação do cidadão tem como objetivos principais a sua instrução e a sua formação. Entretanto, esses objetivos podem ser alcançados com melhor qualidade quando integrados e articulados aos objetivos administrativos e a uma gestão democrática.
À gestão caberá promover não apenas uma ação institucional e comunitária para que as pessoas se sintam responsáveis pela escola e realizar seus objetivos essenciais, mas também uma articulação harmônica entre os recursos humanos e materiais, elementos essenciais de que a escola necessita para alcançar sucesso no processo ensino-aprendizagem, e formar cidadãos autônomos, criativos, construtores e transformadores da sociedade.
Reconhecemos que essa é a principal função da escola. Quando a escola é administrada de modo eficiente e eficaz, oferece condições para a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Justifica-se essa forma positiva de encarar o desafio da gestão escolar na frase de Marx:
a humanidade só se propõe às tarefas que pode resolver, pois, se considera mais atentamente, se chegará à conclusão de que a própria tarefa só aparece onde as condições materiais de sua solução já existem, ou, pelo menos são captadas no processo de seu devir (MARX, 1985, p. 130).
Como um ponto de reflexão importante para nós, educadores, não se pode deixar de referenciar o poder transformador do conhecimento e da educação. As relações que ocorrem no cotidiano escolar estão em permanente processo de construção e reconstrução, pois a dinâmica do processo histórico faz com que as construções e suas reelaborações sejam sempre provisórias.
Ademais, a escola que constrói seu projeto político-pedagógico busca a sua democratização e sua articulação com a sociedade. Um projeto político-pedagógico bem construído permite que seus integrantes tenham consciência de por onde caminham e de como devem caminhar, interferindo também em seus limites.
O processo de avaliação será então contínuo, realizado após cada atividade desenvolvida nos projetos, com a participação dos alunos, professores e equipe pedagógica. Portanto, essa avaliação acontecerá em seus aspectos qualitativos e quantitativos constantemente, tendo em vista que professor e aluno são sujeitos do processo de construção do conhecimento, pois esses projetos acontecem com a participação de todos os envolvidos nesse processo de aprendizagem.
Buscar uma nova organização escolar significa uma ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. Para que a construção do projeto político-pedagógico seja possível, não é necessário fazer com que professores, equipe pedagógica e os funcionários trabalhem mais; basta propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
O projeto político-pedagógico é fundamental, pois ele passa a ser uma direção, um caminho para as ações da escola. É a própria organização do trabalho pedagógico escolar como um todo.
Segundo J. C. Libâneo, “o projeto representa a oportunidade de a direção, a coordenação pedagógica, os professores e a comunidade tomarem sua escola nas mãos, definir seu papel estratégico na educação das crianças e jovens, organizar suas ações, visando atingir os objetivos que se propõem. É o ordenador, norteador da vida escolar”.
Sabemos que o projeto político-pedagógico deve acompanhar os movimentos da história. A prática pedagógica cotidiana e a discussão dos referenciais teóricos devem encaminhar para uma “práxis” responsável e compromissada com uma escola de qualidade.
Além da organização mediante a realidade e cotidiano escolar, o projeto político-pedagógico deve partir dos princípios de igualdade, qualidade, liberdade, gestão democrática e valorização do magistério. Salvaguardando esses princípios básicos consegue-se alcançar o próprio sentido etimológico da palavra “projeto”, que significa “lançar para frente”.
Concluímos então que o enraizamento da escola em sua realidade, a explicitação da intencionalidade política e a abertura da escola à participação de outros membros são fatores necessários à construção de um projeto político-pedagógico, levando a uma prática comprometida com o social e o cultural.
A compreensão de uma nova atitude em relação à educação/escola vai sendo construída à medida que todos são envolvidos no processo de reflexão. Os professores passam a elaborar suas propostas específicas, considerando as características do projeto institucional, considerando as possibilidades e os limites de cada turma e as devidas individualidades. O objetivo, contudo, é um só: formar o aluno como cidadão consciente e capaz de decidir o seu destino.
Logo, para que a escola realmente alcance os seus objetivos, é de fundamental importância que a construção e o acompanhamento do projeto político-pedagógico estejam alicerçados em uma gestão participativa, coletiva, em que as decisões sejam democratizadas e que o seu processo de avaliação e revisão seja uma prática coletiva constante, como oportunidade de reflexão para mudanças de direção e caminhos e que nunca esteja pronto e acabado.
Para finalizar, é relevante dizer que um trabalho com essa perspectiva exige colaboração, solidariedade e corresponsabilidade. A construção do projeto político-pedagógico leva um longo tempo para ser “finalizada”, e é muito importante ter a compreensão e a consciência de que os resultados não aparecem de um dia para o outro. Antes de ser levado para a prática escolar, é preciso que todo o grupo envolvido entenda o que é, para que serve, quando e como deve ser utilizado o projeto político-pedagógico, pois, caso contrário, seu efeito não terá valor.
Concluímos que a participação da comunidade interna e externa na construção da prática educativa coletiva em junção com uma gestão democrática embasada na ética, criticidade, competência e bom senso tornam o espaço escolar um local onde se faz presente a autonomia e o sucesso na educação de seres humanos.
Referências
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Publicado em 17 de julho de 2012
Publicado em 17 de julho de 2012
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